Aldo Duscher: «Desfrutem, são momentos únicos»
Deixou Portugal como campeão nacional pelo Sporting e autor de um dos golos que garantiu o histórico título em 1999/2000. Aldo Duscher marcou, de pé direito, o terceiro golo, a passe de Acosta, na vitória por 4-0 sobre o Salgueiros, a 14 de maio de 2000. De cá saiu devoto a Nossa Senhora de Fátima e, por essa razão, tem voltado ao País que lhe abriu as portas da Europa. Hoje, como há 25 anos, o antigo médio argentino quer que os jogadores do Sporting acreditem que é possível voltar a ser campeão.
- O que recorda daquele domingo, 14 de maio de 2000?
- Tenho sempre isso presente. Sempre que vou para Portugal encontro pessoas que me lembram desse dia. Surpreende-me que passados todos estes anos as pessoas ainda me recordem essa conquista com muito carinho. Sempre que vou a Portugal reconhecem-me e falam-me desse jogo. É muito bom.
- 25 anos depois o Sporting volta a estar numa situação semelhante com a possibilidade de ser campeão na última jornada. A pressão pode ser idêntica?
- Sim. Lembro-me que para nós só servia a vitória. Porque se o FC Porto ganhasse era campeão. E era um FC Porto muito forte. Nessa época, o FC Porto ganhava tudo. Vinha de muitos anos a conquistar títulos e o Sporting vinha de 18 anos sem ganhar nada. Era muito tempo e as pessoas já estavam muito cansadas de esperar. Por isso, quando me perguntam que sensação tinha depois da festa de campeão, digo que tinha paz. Tranquilidade, porque era uma mochila muito pesada que tínhamos em cima.
- Sentia essa mochila muito pesada no dia a dia?
- Sim, sim. Não sei se te lembras, mas treinávamos ao lado do estádio. E aí ia toda a gente. Lembro-me que ia muita gente com o jornal debaixo do braço e ficavam a um metro de onde treinávamos. Quando perdíamos, sentíamos, e quando ganhávamos também. As pessoas estavam um pouco angustiadas por não se conseguir esse título. Porque o clube contratava ano após anos e não conseguia ser campeão. Era um clube muito grande e então, sentíamos essa pressão. Por isso digo que depois da conquista senti tranquilidade porque nesse ano fizemos as coisas bem. À medida que o campeonato ia avançando fomos notando que íamos melhorando, mas só conseguimos ser campeões na última jornada e, por isso, falo da mochila ser pesada.
- O que se recorda daquele do golo que marcou ao Salgueiros?
- Um grande passe do Beto [Acosta]. Fiz o movimento e rematei. Conhecia o Beto e sabia que me iria fazer um passe interior e só tive que definir. Já estávamos a vencer por 2-0. A equipa depois do primeiro golo [marcado por André Cruz aos 47 minutos] soltou-se e conseguiu um grande triunfo num campo que era difícil. O relvado não estava em boas condições e não se conseguia controlar bem a bola. Era difícil, mas felizmente conseguimos ganhar.
- Como foi a festa de campeão?
- A primeira sensação de que me recordo foi a tranquilidade que senti. Depois sim, muitas pessoas a chorar... Lembro-me que havia muitos adeptos no Porto a apoiar-nos e fizeram a viagem até Lisboa connosco. Um apoio incrível até ao estádio. Alvalade estava cheio, nem conseguíamos caminhar. O País parou com aquele tão desejado título. Foi muito especial. Foi como quebrarmos algo que era inquebrável e a partir daí as novas gerações passaram a acreditar que era possível ser campeão. Passaram a acreditar que conseguiam ganhar.
- Pela devoção que tem, foi a Fátima agradecer?
- Sim claro. Sempre. Nesse ano fui várias vezes, sempre antes e obviamente depois. É como que uma força extra muito importante que me ajudou a conseguir essa conquista.
- E agora à distância, como vê o Sporting jogar?
- Na Argentina não passa o campeonato português. De vez em quando consigo ver algum jogo. Quando vivia em Madrid via os jogos, mas agora tenho dificuldades em conseguir ver. O Sporting é um clube que me marcou. Sempre me senti muito querido no clube e ainda hoje sinto-me muito querido pelos adeptos. Cada vez que vou a Portugal respiro um ar de muito amor por parte das pessoas e nós somos felizes onde nos sentimos queridos. Espero algum dia conseguir devolver toda essa felicidade que o Sporting e os sportinguistas me proporcionaram sempre. Digo sempre que o Sporting foi a porta que a Europa me abriu. É um clube que amo muito e não o sigo continuamente, mas vejo de vez em quando e sei que ele está bem, que ganhou títulos e que pode voltar a ganhar agora. Mas, sabes o que penso? Que o Sporting tem de se fazer grande na Europa. Pelos adeptos que tem precisa chegar longe na Champions e tem de ganhar a Liga Europa. Esse para mim é o objetivo do Sporting.
- Então não viu quase nenhum jogo?
Estar a trabalhar complicou ainda mais [treinou os sub-20 do Paraguai], mas fui vendo as notícias e sei que esteve sempre nos primeiros lugares do campeonato. Não conseguia ver jogos porque não passam aqui na Argentina, mas sabia o que se passava. Fico feliz e espero que agora ganhe o campeonato. Sou sempre verde, sempre leão e tudo o que o Sporting ganhar faz-me muito feliz. Gosto muito do clube, quero que ganhe e que continue crescendo.
- Muitos dos jogadores do Sporting nem eram nascidos quando você, em 2000, foi campeão. Que conselhos lhes dá para o jogo?
- O clube tem uma possibilidade fantástica de ganhar mais um título, de fazer felizes milhares de adeptos, muita gente e a profissão deles [jogadores] é linda, por isso, não têm de ter pressão nenhuma. Só têm de desfrutar do momento. São jogos e momentos únicos, nunca se esquecem e eles têm a possibilidade de fazer muita gente feliz, por isso aproveitem ao máximo.
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