ASF

«Ainda não ultrapassei a final perdida para o FC Porto»

Henrik Larsson recorda anos de glória no Celtic e diz que continua a sentir-se estrangeiro no país natal, embora tenha jogado 106 vezes pela seleção sueca

Henrik Larsson é um dos maiores nomes da história do futebol sueco, mas continua a sentir-se um estrangeiro no país natal, embora o futebol tenha sido crucial para a integração na sociedade em que cresceu.

«Vejo-me como estrangeiro. Não sei o que sou, para ser sincero. Sei que tenho 106 internacionalizações pela Suécia, sei que sou sueco, mas nunca o senti a 100 por cento. Tenho de respeitar a herança do meu pai (de Cabo Verde), e talvez a questão seja essa, mas penso que não me senti sueco até singrar no futebol. Quando não és nada, não interessas. Quando és algo, fazes parte desta sociedade. As pessoas esquecem de onde és, qual a tua raça», explica o antigo jogador, que revela ter entrado muitas vezes em confronto físico por questões raciais, no bairro em que cresceu, e no qual deu a entrevista publicada pelo jornal inglês The Guardian.

Larsson saltou para o estrelato com a camisola do Celtic, clube pelo qual festejou oito títulos, entre os quais não se inclui a Taça UEFA 2002/03, perdida para o FC Porto. «Ainda não ultrapassei essa. Quem me dera ter feito mais, pois sei o quanto significava para os adeptos do Celtic. Eram mais de 50 mil em Sevilha», recorda.

Após sete épocas em Glasgow, o internacional sueco assinou pelo Barcelona, clube que ajudou a conquistar uma Liga dos Campeões.

«Recebi umas 30 ofertas quando anunciou que ia deixar o Celtic. De Espanha, Itália, Alemanha, França e até dos Emirados Árabes Unidos. Um dia recebi um telefonema da minha mulher, Magdalena, a dizer que o Barcelona estava interessado. Estava numa bolha, a disputar o Euro2004 com a Suécia, e respondi-lhe que eles tinham de esperar. Ela riu-se e disse que o Barcelona não ia esperar. Então viajou para Espanha com o meu empresário e assumiu as negociações», revela.

«Era, naturalmente, um balneário muito diferente do Celtic. O Barcelona tinha Ronaldinho, contratou então também o Deco, Giuly e Samuel Eto'o. Eu não era a figura da equipa e gostei disso. O Ronaldinho tinha essa pressão e lidava com ela de forma completamente diferente. O Messi ainda não era o jogador que se tornou depois. Era mesmo, mesmo bom, mas não o jogador que seria um ou dois anois depois», refere o antigo avançado, que depois ainda representou o Manchester United.

«A dada altura o meu irmão, Kim, batizou um dos rapazes, e eu pedi a Sir Alex Ferguson se podia marcar presença. Ele arranjou um jato privado para eu fazer a viagem após um jogo. Só estive 10 semanas no clube, mas ele fez-me sentir muito bem recebido. Vivi num hotel e o Louis Saha e o Patrice Evra levavam-me a almoçar, assim como o Wayne Rooney. Em situações dessas pensas que querem o teu bem e tens vontade de retribuir. Foi uma honra representar o Manchester United», afirma Larsson, que na entrevista ao Guardian recorda ainda a altura em que esteve à experiência no Benfica.