Mariano Lopez assume que os resultados esta época ficaram aquém do esperado, mas reforça a ambição (Foto: A BOLA)
Mariano Lopez assume que os resultados esta época ficaram aquém do esperado, mas reforça a ambição (Foto: A BOLA)

Académico de Viseu tem objetivo bem definido: «Subida? O objetivo nunca muda»

Mariano Lopez, presidente da SAD do emblema viseense, reforça visão estratégica para devolver os viriatos aos grandes palcos nacionais. Projeto visa também a formação e a sustentabilidade. Exigência vai aumentar, garante

Que balanço faz desta sua gestão na SAD do Académico?

Acho que é um balanço misto. Em 2021 entrámos a cerca de 15 dias do início do campeonato e não tivemos oportunidade de fazer praticamente nada. Acabámos por lutar pela permanência até à última jornada, precisávamos de uma vitória e ganhámos esse jogo. Foi uma grande emoção, mas não quero vivê-la outra vez. Depois, tivemos três anos de surpresas. Com o Jorge Costa foi espetacular, houve a entrada de um investidor e surgiram vitórias que criaram expectativas a mais na cidade de Viseu. Mas foi giro ver o que pode ser feito quando a cidade, o futebol e os adeptos se unem de uma forma gigantesca.

A entrada de um investidor criou ilusões desmedidas?

Penso que sim. Na sequência desse ano, em que fomos à final four [da Taça da Liga] e em que estivemos perto de subir [à Liga], criou-se essa expectativa desmedida. O nosso projeto e o que queremos é criar uma base sustentável para subirmos à Liga e ficarmos na Liga. Isso é muito importante. Percebo totalmente a ansiedade dos adeptos, afinal, o clube está há 36 anos sem estar na Liga. Nesse capítulo, deixe-me até dar-lhes uma palavra, porque têm-nos apoiado nos bons e nos maus momentos. Temos de ser equilibrados nas nossas expectativas. O projeto não está feito apenas para gastarmos dinheiro para a subida e depois podermos cair outra vez. Tem de ser uma coisa sustentável. Peço aos adeptos que tenham paciência e resiliência, que os viriatos acho que têm, e nós temos de mostrar no campo que estamos lá para sermos resilientes na nossa luta no campeonato.

Os investidores estão também ligados ao Hoffenheim, clube bastante conhecido na Alemanha.

O grupo tem negócios no Brasil, há cerca de dois anos construímos lá uma academia, num espaço com cinco campos e com um estádio de cinco mil lugares. Podem estar lá cerca de 100 miúdos a treinar, a comer e a viver sem saírem de lá. Quase como se fosse um colégio interno. O objetivo passa por desenvolvermos as suas competências desportivas para que os melhores possam vir para Portugal ou para a Alemanha, caso o Hoffenheim também os queira, obviamente. O grande sonho em Viseu não é apenas subir o Académico. Queremos projetar a formação, criando, como já temos vindo a fazer, infraestruturas para o efeito. Passa muito por aí. Não nos queremos comparar com ninguém, porque somos um grupo pequeno, mas sim, não é investir por investir. Sei que na ótica dos adeptos há sempre o desejo do retorno desportivo imediato, percebo isso, pelo que temos de ter o equilíbrio entre as duas partes [desportiva e financeira]. Mas estou convencido de que vamos chegar lá e depois destes três anos na Liga 2 vai começar uma nova etapa no Académico.

Após três anos, a sua equipa de gestão está já preparada para chegar a esse sucesso desportivo?

Há sempre passos a dar. A adaptação foi feita, mas há sempre coisas por fazer. A parte das infraestruturas é bastante dura, mas em três anos conseguimos encontrar soluções práticas. Não é normal que um clube que quer estar na Liga não tenha terrenos próprios, uma academia, campos de treino próprios… Isso dificulta muito esse próximo passo desportivo que queremos dar, assim como a própria formação. Os sub-23 estão a jogar em Santa Comba Dão, os juniores no 1.º de maio [Fontelo], que é artificial… São instalações que não estão à altura de um projeto de futuro e o que o investidor quer são infraestruturas próprias e modernas.

O que pensa do Estádio do Fontelo? Pondera fazer obras? Ou, por outro lado, e dada a boa relação que tem com a autarquia, há hipótese de construir um estádio novo?

A relação com a autarquia é muito boa. Temos uma colaboração com o dr. [Fernando] Ruas muito amigável e falamos de muita coisa até ao nível pessoal. A minha expectativa enquanto investidor e presidente da SAD vai muito além do que ele pode apresentar enquanto presidente da autarquia e esse é um pouco do conflito dos interesses das duas partes. Na minha opinião, o Estádio do Fontelo nunca vai ser património da SAD. É património nacional e ambiental e todos esses argumentos justificam esta minha ideia. Se tivéssemos oportunidade de receber um terreno gratuito em Viseu, seríamos nós a construir um novo estádio.

O Académico ficou no 10.º lugar. Como classifica a época?

Fiquei muito desiludido com o resultado final. A expectativa era muito mais alta. Não vou dizer que queríamos atacar os dois primeiros lugares, mas em dezembro estávamos no 5.º lugar, a três ou quatro pontos do 3.º lugar, e a expectativa em trazer o Sérgio Vieira foi claramente de mandar uma mensagem para a equipa e para os adeptos de que queríamos apostar.

O que pretendeu com a saída de Rui Ferreira e a contratação de Sérgio Vieira?

Queríamos dar uma mensagem clara de que queríamos mais e notávamos que faltava alguma coisa. Para fora pode ter sido uma medida drástica, para nós foi natural porque não queríamos deixar de ter opções para chegar lá. Os resultados não deram certo, tivemos vários empates seguidos e eu sofri muito. Mas o trabalho do Sérgio Vieira é reconhecido e, sendo sincero, penso que desta vez temos de apontar ao empenho do plantel e dos jogadores, que poderiam ter feito um pouco mais.

Sérgio Vieira será o treinador na próxima temporada?

Ainda nada está decidido, mas estamos em conversações, sim.

O objetivo continuará a ser a subida de divisão?

A estratégia e o objetivo nunca mudam. Porque não sabemos quando será o momento certo. O que queremos e entendemos que é realmente importante é que depois de subirmos à Liga é para ficarmos lá. Há outros clubes que conseguem subir e depois voltam a descer. Não é isso que desejamos.

A SAD vai continuar a investir no plantel e na formação?

Acho que estamos a mostrar isso mesmo, que apostamos na formação e que os jogadores jovens podem chegar ao plantel principal. Temos agora o Simão, com 19 anos, a jogar na primeira equipa e que até já marcou um golo no Fontelo. São detalhes importantes para nós. Os juniores continuam na elite nacional, competindo com os quatro grandes, e isso mostra que estão preparados. Queremos dar sequência a essa formação.