Juninho, extremo do Celoricense, revela que a maior parte dos jogadores do adversário do FC Porto na Taça de Portugal concilia o futebol com outras profissões

«A maioria dos nossos jogadores trabalha e depois treina no limite. Acho isso f***!»

Atenção, FC Porto: Juninho soma seis golos em quatro jogos pelo Celoricense esta época e sonha dilatar a conta este sábado, na Taça de Portugal. Maioria dos companheiros de equipa divide-se entre o futebol e outras profissões, mas o extremo assegura: «Ninguém falha um treino!»

Pela primeira vez na sua história, o Celoricense vai defrontar, de forma oficial, um grande do futebol português. Sábado (18h00), o clube que milita na Série A do Campeonato de Portugal mede forças com o FC Porto e parte das esperanças estão depositadas em Juninho, um extremo que, nos quatro jogos que já realizou esta época, marcou seis golos. A BOLA quis saber mais sobre o estado de espírito que se vive no clube e em Celorico de Basto e falou com o brasileiro, de 24 anos, que garante ter o sonho de ser tomba-gigantes. «Se não for assim, não vale a pena!», diz.

— Como se deu a chegada ao Celoricense?

— Eu estava no Termas de São Vicente, a fazer uma boa época, com uns golos, umas assistências… Um dia, o João Pinto, diretor desportivo [do Celoricense] mandou-me uma mensagem e veio conversar comigo. Perguntou-me se eu tinha interesse, falou-me do projeto da equipa… Só que, mesmo assim, fiquei com dúvidas, porque não conhecia ninguém. Como sou brasileiro, não conheço tanta gente. Ficamos sempre um pouco de pé atrás, porque não sabemos se as coisas realmente são assim. Fui sempre ouvido e conversando com ele. Passou algum tempo e, em janeiro, um jogador daqui, o João André, falou com um amigo que jogou comigo no Termas, com quem eu tinha confiança. Eles conversaram, esse amigo veio falar comigo e disse-me: «Se eles estão a dizer isso, podes acreditar. Eu já conheço o João e se ele diz, podes confiar nele.» Aí pensei: «Vamos ver o que dá». E vim. Foi uma das melhores coisas que fiz. Não arrependo nada.

— Esta época começou muito bem: são seis golos em quatro jogos. Como explica este arranque?

— É tudo fruto de muito trabalho, mesmo muito. Tento sempre trabalhar no limite, não só dentro de campo, mas também fora. Tento sempre estar o mais focado possível. Tento alimentar-me bem, faço um treininho... Gosto de estar focado naquilo que quero, no futebol e em tudo o resto. Acho que o que tem acontecido é a recompensa.

— Tem algum trabalho além do futebol? É algo que acontece muito em clubes do Campeonato de Portugal…

—Neste momento, tenho foco total no futebol, não tenho outro trabalho. Mas no plantel há vários jogadores que têm outras profissões, acho que até a maioria… Mas essas pessoas até me deixam mais impressionado. Trabalham o dia inteiro, mas chegam aos treinos e ao fim de semana e estão sempre no limite. Acho que são loucas! [risos] É muito f***, mesmo.

— Mas de que tipo de profissões estamos a falar?

— Há um pouco de tudo. Uns trabalham com ajudantes de trolha, outros trabalham em fábrica. Alguns trabalham com piscinas, outros têm lojas e há quem trabalhe no mercado. No Celoricense há um pouco de tudo.

Celoricense vai defrontar o FC Porto este sábado, na Taça de Portugal - Foto: D. R.

— E conseguem organizar-se facilmente a nível de treino, apesar dessas condicionantes?

— Sim. Desde a época passada sempre foi assim. Os horários são sempre cumpridos. Está sempre toda a gente lá à hora para treinar, ninguém falha. E treinamos sempre nos limites! Nenhum de nós tem por que reclamar, porque estão sempre todos lá, tanto os que trabalham, como os que não trabalham.

— Olham para este jogo com o FC Porto como uma espécie de recompensa por todo esse esforço?

— É uma ótima recompensa. Não só para mim, mas para todos os jogadores, tanto os que trabalham como os outros. Toda a gente sonha sempre em jogar contra uma equipa grande.

— Sentem-se capazes de criar problemas ao FC Porto?

— Nós acreditamos nisso. Não faria sentido entrar lá dentro sem ter aquela chama de vitória, aquela vontade de vencer… Se não for assim, não vale a pena. Vamos entrar da forma que o míster a equipa técnica acharem melhor, mas vamos fazê-lo com aquela chama e vontade de vencer. Taça é Taça e tudo pode acontecer. Não posso falar pelos meus colegas, mas tenho muita vontade de ganhar ao FC Porto, que respeito muito. Sei da capacidade deles, sei como são os treinos deles, têm um nível mesmo muito alto. Mas é um sonho. Quem não quer ganhar ao FC Porto, ainda mais da forma como tem jogado agora?

— A preparação para este jogo tem sido diferente?

— Há sempre algumas alterações, mas o nosso míster não está a fugir daquilo que é o Celorico. Faz sempre algumas mudanças, como faz para outros jogos. Acontece agora, com o FC Porto, como acontece noutra semana, quando vamos jogar contra outra equipa. Nós vamos lá para dentro tentar fazer o que o míster nos tem pedido, com vontade de fazer História.

— O facto de jogarem em Barcelos é uma desvantagem para vocês?

— A nossa equipa gosta de jogar bem. Nós treinamos num sintético, mas temos uma equipa que gosta de trocar bem a bola e acho que vamos dar-nos bem num relvado natural.

— Já sabe a quem vai pedir a camisola?

— Queria pedir a algum jogador brasileiro. O Pepê, o William Gomes… Seria fantástico pedir a camisola a um deles, porque eles são brasileiros, como eu. Por mais que estejamos em patamares diferentes, somos todos do mesmo país. E, curiosamente, jogamos os três na mesma posição, como extremos-direitos.

— E a nível de balneário, há alguma promessa que queiram cumprir se eliminarem o FC Porto?

—Ainda não, mas acho que deve surgir nestes dias. Esta semana está a falar-se muito sobre o jogo e tenho a certeza que algum de nós vai aparecer e falar sobre isso.

«O nosso trinco, o Matchu, está numa forma... meu Deus do céu!»

Desafiado a nomear as grandes estrelas do plantel do Celoricense, Juninho não escondeu algum receio. «Agora apanhou-me aqui numa situação...», desabafou o extremo brasileiro, entre risos. Alguns segundos depois, já mais desinibido, lá lançou dois nomes.

«Falando dos que estão em melhor forma neste momento, posso falar do Matchu, que é o nosso trinco. Está numa forma... Meu Deus do céu, merece muito! Também o [Francisco] Martim, que é o nosso extremo-esquerdo. É bonito vê-lo jogar. Os nossos centrais estão muito bem, os laterais também... E há aqueles que não jogam tanto, mas que também estão muito bem. Só que o futebol, por vezes, é complicado. O nosso plantel é muito competitivo», assegurou Juninho, que, antes de cada jogo, gosta de «ouvir música e agradecer a Deus». Sobre referências (e além do pai), nomeia um compatriota e vencedor da Bola de Ouro: «Ronaldinho Gaúcho, sem dúvida!»