A fase em que o sonho comanda a vida
ESTA fase da época, quando o Sol anda quente, as praias convidativas e o lazer vive de mãos dadas com as esperanças dos adeptos, é a mais doce de todas, por uma razão simples, singela, e própria da natureza humana: a fé. Assim, todas as expectativas são legítimas, todas as esperanças são fundadas, o amanhã promete ser melhor que o ontem, toda e qualquer aquisição é ótima, e aquilo que os novos recrutas podem fazer povoa o imaginário e faz sonhar quem segue a vida do seu clube. Porém, bastará lembrar que a procissão ainda nem saiu da igreja, quanto mais ter chegado ao adro, para remeter à perspetiva certa uma realidade que só começará a tomar forma oficiosa com os primeiros jogos de preparação, e será sujeita ao crivo da ditadura dos resultados quando os 90 minutos passarem a ser traduzidos em pontos, ou seja, forem a doer.
Para colocar seriedade nas análises feitas por esta altura, há que dizer, reportando-nos às equipas que irão lutar pelo pódio da Liga portuguesa - e mais uma vez lembro que são quatro, e que a diferença, em 2022/23, entre o quarto e o quinto foi de vinte pontos! -, que o Benfica parece ser a que está mais confortável no reforço de um plantel que acabou de ser campeão, percebendo a transcendência, para alcançar novo sucesso, de aumentar a competitividade interna.
Só em estado de dúvida e desassossego, sem que ninguém se sinta acomodado e dono do lugar, será possível evoluir, minimizando os riscos que corre quem dorme à sombra dos louros conquistados. Em tese, contratado Jurések, faltará juntar um guarda-redes ao plantel para fechar o quadro às ordens de Schmidt, a não ser que alguns jogadores venham ainda a ser transferidos, o que abriria nova necessidade de ir ao mercado.
Já no Sporting, há que louvar a convicção com que foi feita a aposta em Gyokeres. Sem garantias de sucesso (isso não existe), os leões demonstraram que, pelo menos, sabem o que querem. Estará ainda por contratar um substituto para Ugarte, mas nesse departamento a urgência parece não ser muita.
Quanto ao FC Porto, virado para o mercado interno, tem na dúvida sobre a continuidade de Otávio, a que se soma a angústia com as contas, as maiores preocupações. Finalmente, o SC Braga surge sólido de finanças, a apostar na evolução na continuidade, de olhos postos nos milhões da Champions.
ÁS — RUI COSTA
Trazer Di María não era tarefa fácil, mas o campeão do Mundo é o novo número 11 do Benfica. Contratar Kokçu, que tinha muita procura, foi outro sucesso de Rui Costa. Mas a obrigação mais urgente do maestro é explicar aos adeptos que a Liga nem sequer começou, quanto mais darem por certa nova ida ao Marquês. A euforia é perigosa!
DUQUE — FREDERICO VARANDAS
O presidente do Sporting foi imprudente quando viajou a Inglaterra para fechar Gyokeres e regressou a Lisboa sem o jogador. Ficará menos mal no filme se o sueco, como parece, ingressar na disciplina de Amorim. Mesmo assim, há certas tarefas que não são para os presidentes, que devem resguardar-se para outras guerras.
REI — PINTO DA COSTA
Em estado de necessidade financeira há vários anos, e a correr riscos europeus para 2024/25, o FC Porto foi fazendo os contratos possíveis, e viu sair muitos jogadores a custo zero, e outros abaixo do seu valor de mercado. Otávio é aquele que pode estar na calha para um obrigado e adeus. O que seria mais que um tiro no pé...