«Um atleta nunca deixa de ser atleta»

«Um atleta nunca deixa de ser atleta»

MAIS DESPORTO13.12.202308:32

António Aguilar, ex-internacional de râguebi e o andebolista Carlos Siqueira enfrentam-se, em estreia, num combate de kickboxing no Sagres Campo Pequeno

De um lado, António Aguilar, antigo internacional de râguebi. Do outro, Carlos Siqueira, ex-jogador de andebol. Aguilar, um dos lobos do Mundial de Paris-2007, de 45 anos, deixou a bola oval há quase 10 anos. Siqueira, 32, despediu-se dos pavilhões há meio ano, tendo atuado no Belenenses até ao final da época passada.

Juntos serão protagonistas num inusitado combate de kickboxing. Será a estreia de ambos. O duelo está integrado no evento Never Give Up, no Sagres Campo Pequeno, a 21 de dezembro, em Lisboa, organizado por Pedro Kol, tricampeão europeu desta arte marcial.

«Ainda por cima é pesos-pesados», dispara António Aguilar na antecipação neste business fighter, confronto que abre a janela de combate a pessoas comuns. «O Carloto tem 115kg e eu ando pelos 112/113 kg», detalha a A BOLA o até há pouco tempo selecionador de sevens da Alemanha. 

O râguebi foi e é a sua vida. Internacional «86 vezes», Aguilar reclama mais internacionalizações. «Oficialmente, são essas, mas tenho mais. Recebi duas placas de 40 internacionalizações», graceja aquele que foi um dos mais mediáticos jogadores da variante sevens e antigo profissional de XV em França.

Enquanto vestia a pele de treinador da oval, «comecei a treinar kickboxing antes da pandemia, na Kolmachine. Foi uma maneira de me manter em forma, ativo e conhecer outro desporto. O bicho competitivo está cá sempre», garante.

BILHETE DE IDENTIDADE

Nome: António Aguilar
Data de nascimento: 6 de Junho de 1978 (45 anos)
Natural: Lisboa
Altura: 1,92 m
Peso: 113 kg
Modalidade: râguebi
Clubes: Direito, Stado Tarbes Pyrenees Rugby (2007-2008) e Stade Montois Rugby (2001-2004).
Internacionalizações: 86
Europeus: campeão do Torneio Seis Nações B-2004
Mundiais XV: França 2007 (3 jogos)
Circuito Mundial de Sevens: 10 edições das Sevens World Seves Series
Europeu de Sevens: sete títulos europeus
Mundiais de Sevens: 3 (2001, 2005 e 2009)
Cargos: selecionador de sevens Alemanha (2022-2023), treinador do Direito (2021-2022) e selecionador de sevens Portugal (2015-2019).

«Fiz alguns combates de treino e sempre quis experimentar subir ao ringue. Já tentei, mas nunca deu por questões de agenda. Ora estava na final Direito-Belenenses do campeonato 2021/2022, a outra, com a seleção alemã», recorda. E em ambas o trabalho de treinador falou mais alto. 

Nesta nova vida desportiva, deixa uma garantia. «O background de râguebi facilitou a adaptação ao kickboxing. Já ajudei muitos profissionais a prepararem combates», recorda. «Era o saco, um saco em movimento», confessa. «Sendo pesado e habituado ao contacto no râguebi, era perfeito», afirma o ex-ponta do Direito. 

Revela ainda que este desporto «tem muito mais que se diga» e sente-se «apaixonado» pela modalidade. Ainda não teve tempo para pensar na sensação da subida ao ringue que todos lhe falam. Vai ao baú das experiências vividas e compara. «Felizmente, entrei em estádios cheios.» Por isso, a pressão ou a adrenalina não será diferente. «Não é novo, a não ser o foco estar só em nós», assegura. 

O nervoso miudinho e as expectativas estão bem escondidas. «Vamos ver como corre. A intenção foi experimentar», assevera. Quanto ao futuro, simplifica. «Treinar e será sempre para continuar», deixando escapar tímido «se ganhar volto, se perder volto, é mais ou menos isso».

Manter forma, quebrar rotinas

Já Carlos Siqueira jogou andebol até à temporada de 2022/2023 e despediu-se no Belenenses, clube onde começou e que mais anos representou. «Um atleta nunca deixa de ser atleta e arranja sempre maneira de manter a atividade e ter competitividade» sublinha o andebolista cuja «ascensão foi muito rápida». Conta duas passagens pela modalidade, tendo também representado, além dos azuis do Restelo, Sporting, Madeira SAD e ABC.

«Tive dois anos e meio sem jogar por opção e regressei no Covid [2020/2021]. Estava no Belenenses e para completar o treino em vez de ginásio, foram muitos anos, optei por começar a fazer kickboxing», relembra o antigo pivô. 

Atualmente diretor comercial de uma start-up, matemático de formação, explica a entrada na arte marcial. «Veio pela amizade com atletas e prática do boxe na Rounds Academy, em Lisboa, onde treinei antes, mas por questões de horários e do nascimento do meu filho e trabalho, fiquei no kickboxing», explica. 

Estava dado o mote para iniciar um novo processo: «Manter a forma e quebrar rotinas, não desligar, fugindo ao nosso desporto e fazer o desmame.» Na nova vida desportiva nem tudo é estranho. «O andebol vai buscar muita coisa ao boxe e kickboxing, o movimento dos pés, as rotações», particulariza o ex-internacional sub-20.

BILHETE DE IDENTIDADE

Nome: Carlos Siqueira
Data de nascimento: 14 de Junho de 1991 (32 anos)
Natural: Lisboa
Altura: 1,94 m
Peso: 115 kg
Modalidade: andebol
Clubes: Belenenses, Sporting (2010-2011), Madeira SAD (2012-2013) e ABC (2013-2014)
Internacionalizações: 3 (sub-20)
Europeus: EHF sub-20, em 2010

Os dois meses de treino para o combate com António Aguilar também lhe permitiram ver as diferenças. «Aprendi tudo da base, do zero, e regras que nem sabia. Começámos a trabalhar movimentos opostos aos que tinha formatados do andebol e o Aguilar do râguebi, movimentos que fizemos durante anos e anos e agora vamos ver se estes saem bem e de forma automática. Isso dá-me gozo», assevera.

A pausa competitiva, da passagem do andebol para o kickboxing, foi curta, admite. «Agora é duro. Mesmo sendo um combate amador, toda aquela preparação, de acordar às 6 horas, treinar todos os dias, ter cuidados com a alimentação, etc», diz. «Manter e cuidar da forma requer trabalho, mas compensa. Por isso, quero perceber os meus limites com este combate», antecipa.

Para Carlos será também o primeiro combate. «Se é para continuar? Não sei. Vou ver se me divirto. Será uma experiência boa, é o que espero», finaliza. 

Dia 21 ver-se-á quem esteve melhor e se alguém não terminou de pé…