Mais dois atletas da W52-FC Porto confessam ter usado doping
Ricardo Mestre, Joao Rodrigues, Samuel e Daniel Mestre na Volta ao Algarve. Foto: CARLOS VIDIGAL JR/ASF

Mais dois atletas da W52-FC Porto confessam ter usado doping

CICLISMO16.02.202416:28

Prossegue o segundo dia do julgamento dos casos de doping no ciclismo

No segundo dia do julgamento Prova Limpa, processo relativo ao caso de doping que abalou o mundo do ciclismo português, Ricardo Mestre (vencedor da Volta a Portugal em 2011) e Samuel Caldeira assumiram esta sexta-feira que se doparam após 2020, quando integravam a equipa de ciclismo W52-FC Porto.

Samuel Caldeira à direita. Foto: CARLA CARRIÇO/ASF

«Assumo os factos de que sou acusado», começou por dizer Samuel Caldeira, que explicou que começou a dopar-se, bem como a realizar transfusões, entre 2020 e 2021, tal como os acusados já ouvidos na quinta-feira — primeiro dia do julgamento —, João Rodrigues e Rui Vinhas, por «sentir que havia adversários superiores».

Os dois ciclistas confessaram que se doparam de livre e espontânea vontade, tendo ainda admitido que estavam a par da desta prática ilegal no ciclismo português, afirmando que o fizeram com conhecimento e conivência do diretor desportivo da equipa, Nuno Ribeiro, também ele arguido.

«Em competição, [Nuno Ribeiro] mandava uma mensagem para passar no quarto, chegava lá, pegava, e fazia no quarto», contou Caldeira, que usava produtos como betametasona (diprofos), saizen e neurobion.

Os ciclistas geriam os valores da substância que consumiam, para passarem nos controlos antidoping, e utilizavam sacos para transfusão de sangue disponíveis no autocarro da equipa, enquanto as substâncias eram conseguidas ou por meios próprios ou no quarto de Nuno Ribeiro. «As coisas [para o doping] não estavam à disposição, começaram a ficar à disposição. O Nuno dizia "se quiseres, passa no quarto, está ali’"», revelou Caldeira.

Ricardo Mestre a representar a W52-FC Porto, 2020. Foto: CARLOS VIDIGAL JR/ASF

Por sua vez, Ricardo Mestre confirmou ter-se dopado para se manter ao mesmo nível do restante pelotão nacional, confessando que, além de realizar transfusões de sangue, também comprava produtos pela Internet ou na farmácia. «O doping é um sistema regular no ciclismo, onde nos adaptamos para conseguirmos atingir o nível que se pretende para chegar ao topo», declarou. «Estava preparado, recebia mensagem para ir ao quarto, com o número do quarto», acrescentou, detalhando como se dopava em competição, explicando depois que era Nuno Ribeiro quem lhe comunicava a disponibilidade das substâncias.

Primeiro dia do julgamento já havia contado com confissões

Rui Vinhas e João Rodrigues, ambos vencedores da Volta a Portugal, em 2016 e 2019 (respetivamente), já tinham confessado, no primeiro dia do julgamento, que utilizaram substâncias ilícitas, afirmando que estavam «arrependidos». Os mesmos arguidos rejeitaram ainda que o patrão da equipa, Adriano Quintilha, os tivesse coadigo ou incentivado a esta prática.

Na mesma audiência, os ciclistas negaram que Nuno Ribeiro tenha tido alguma influência, mas frisaram, à semelhança dos arguidos que foram ouvidos esta sexta-feira, que o quarto do antigo diretor era o local onde habitualmente eram guardadas as substâncias proibidas. 

Durante a tarde, o tribunal irá ouvir os testemunhos de Ricardo Vilela, Daniel Freitas e Daniel Mestre.