«Ficar nos dez primeiros será bom, mas vou correr pelo pódio»
Rúben Guerreiro está de volta à estrada depois de três meses parado devido a lesão. Foto DR

«Ficar nos dez primeiros será bom, mas vou correr pelo pódio»

CICLISMO14.01.202411:08

Ruben Guerreiro garante que vai lutar por pontos e pela geral do Tour Down Under, na Austrália. Gosta do percurso mas diz não estar a cem por cento

Foi de madrugada em Portugal, mais 10.30 horas na Austrália, depois de terminar o treino, que Ruben Guerreiro (Movistar) falou com A BOLA sobre a presença no Tour Down Under, que se inicia na madrugada desta segunda-feira, em Tanunda, nos antípodas. Uma prova para a qual o ciclista de Pegões admite partir com elevadas expectativas

Quais são os objetivos para o Tour Down Under? Alimenta o sonho de terminar a prova no lugar mais alto do pódio?

— Vou correr para, no último dia, poder chegar ao Mount Lofty nos primeiros lugares. Não tenho sido feliz na Austrália, o percurso deste ano não me desagrada mas as chegadas que se enquadram nas minhas características têm saído furadas. Espero que, na quarta presença [18.º em 2017, 9.º em 2018 e 8.º em 2019], possa chegar aos lugares que parecem estar ao meu alcance. Ficar entre os dez primeiros será um bom resultado, mas vou correr para os lugares do pódio. 

 Como está a equipa?

 — Dispomos de uma equipa coesa [Jon Barrenetxea, Garcia Cortina, Johan Jacobs, Manilo Morro, Vinícius Rangel e Gonzalo Serrano] que nos oferece garantias. Não podemos afirmar que sou o chefe de fila, no ciclismo moderno isso só acontece nas grandes voltas, estou na Austrália como forte aposta da equipa, que também dispõe de Gonzalo Serrano para discutir a geral, ele que atravessa um bom momento de forma. Pela minha parte reconheço que devido à recuperação da fratura da clavícula devo estar a 70 por cento, tenho treinado bem mas competir é bem diferente. Vamos ver como as pernas e o corpo reagem porque, no segundo dia, a chegada é a subir em Stirling [onde Manuel Cardoso venceu em 2010], aí vai fazer-se a seleção dos que vão lutar pela geral.

Como define o percurso com Willunga Hill e Mount Lofty nos últimos dois dias? 

— No alinhamento da corrida chegámos à conclusão de que será dos percursos mais duros dos últimos anos. As duas últimas etapas, com essas duas chegadas a subir, encaixam-se nas minhas caraterísticas, vai ser importante o trabalho coletivo desde que nos dias anteriores consiga manter-me com os da frente. Devido às dificuldades nas últimas etapas, prevejo que seja uma corrida muito tática para que não existam grandes diferenças quando chegarem as decisões. No primeiro dia a chegada a Tanunda requer atenção por ser num espaço urbano com piso escorregadio propício às quedas. 

Num pelotão de nomes sonantes, quais os que lutarão pela geral? 

— É sempre complicado fazer antevisões em início de temporada... Os estágios, os treinos de inverno, saber se os planos de treino foram cumpridos, isso só começa a notar-se daqui por mais algum tempo. Nesta altura podem surgir ciclistas a andar muito bem e outros em fase de evolução porque têm objetivos bem definidos. Numa abordagem às 20 equipas que vão correr aqui na Austrália, e na ausência de Jay Vine, que está a pensar nas corridas na Europa, surgem Simon Yates [Alula], Jack Haig [Bahrain], Julian Alaphilippe [Soudal], a Emirates vai testar o mexicano Isaac Del Toro e António Morgado, que nestes dias me pareceu otimista e em condições de realizar uma boa corrida; Jonathan Narvaez e Filippo Ganna são trunfos da Ineos, assim como Cataldo na Lidl, sem esquecer o meu companheiro de equipa Gonzalo Serrano, mas podem surgir surpresas. 

Estão previstas alterações no seu calendário? 

— Em relação ao que estava previsto para o início da época, surgirão alterações no meu programa. A equipa pretende que corra para conseguir bons lugares na geral e conquistar pontos. No ciclismo atual os pontos são muito importantes, daí os ciclistas estarem a ser incentivados para levarem em conta essa situação como vai ser, por exemplo, aqui na Austrália, no Tour da Colômbia, na Volta ao Algarve, Andaluzia e nas provas mais importantes por serem aquelas nas quais as pontuações UCI são as mais elevadas.

E depois da participação nesta prova na Austrália? 

— Depois do Tour Down Under vou correr a Champion Figueira e dois dias depois a Volta a Andaluzia [14 a 18/2] juntamente com o Nelson Oliveira. Antes das clássicas das Ardenas é possível que volte a correr O Gran Camiño mas ainda não tive confirmação, depois de ter sido terceiro em 2023, atrás de Vingegaard e Herrada. 

Confirma que vai estar presente nos Campeonatos Nacionais? 

— A realização dos Nacionais no final de junho não me parece que seja decisão correta porque prejudica a maioria dos ciclistas que vão participar na Volta a França [29/6 a 21/7]. Realizando-se os Nacionais a 21 e 23 [contrarrelógio e prova de fundo] os ciclistas têm de estar em Itália a 25, margem muita curta para eventuais situações que possam surgir no decorrer dos Nacionais, o que por vezes faz com que as equipas não proíbam, mas não achem muito oportuna essas participações. Trata-se de uma situação corrente em equipas do World Tour, mas pela minha parte tudo farei para estar presente depois de correr na Figueira da Foz, por serem as únicas possibilidades de correr em Portugal.

Como é visto o ciclismo português a nível internacional? 

Atravessamos um bom momento com ciclistas de valor confirmado e jovens que se estão a afirmar como Morgado e Amado, a nível de dirigentes internacionais o dr. Artur Lopes é uma referência na UCI, que tem tido em Delmino Pereira um bom seguidor na UEC. A luta antidopagem credibilizou Portugal que nessa área não era um bom exemplo, no aspeto organizativo a Volta ao Algarve é uma bom exemplo, o mesmo deverá acontecer com a clássica da Figueira da Foz. Com a luta que existe pelos pontos, a Volta a Portugal só pode crescer se subir de categoria. É disputada entre a Volta a França e Volta a Espanha que não a favorece, além de ter a Volta a Burgos, Volta à Polónia e uma série de corridas italianas que lhe tiram protagonismo e não interessa às equipas do World Tour. Salvo melhor opinião o mais importante nesta altura seria a subida à categoria Pro. Sei que a Volta a Portugal faz parte das possibilidades da Movistar como já fez em 2023, mas com o final do Tour, início da Vuelta, Burgos e Polónia tão perto não acredito que a equipa possa estar presente; por outro lado, a Volta a Castela e Leão, com dois dias, e a Astúrias, com três, atribuem os mesmos pontos que a Volta a Portugal que tem duas semanas. Os pontos hoje são muito importantes para as equipas World Tour para se manterem na categoria, perguntem aos ciclistas que andam no World Tour...