Europeu de Otopeni: «O Diogo não está a 100 por cento!»

Começa hoje Europeu de curta e Portugal conta com oito atletas. Nadador do Benfica sofreu intoxicação alimentar. Tem equipamento emprestado porque as malas da Seleção não apareceram

«O Diogo [Ribeiro] não está a 100 por cento. Vinha a treinar muito bem para estes campeonatos, mas, na quinta-feira, sofreu uma intoxicação alimentar e desde então nunca mais treinou. Hoje [ontem] à tarde foi a primeira vez que foi à água», revelou o selecionador nacional Alberto Silva a A BOLA sobre a principal figura da Seleção a menos de 24 horas do arranque do 22.º Europeu de Otopeni-2023 em piscina curta. 

Evento para o qual Portugal apresenta uma equipa de oito nadadores — Diogo Ribeiro, Gabriel Lopes, Miguel Nascimento, João Costa, Ana Guedes, Camila Rebelo, Francisca Martins e Mariana Cunha —, com a curiosidade de apenas Gabriel e Nascimento já terem estado no evento.

O próprio Diogo, de 19 anos, é um estreante e os seus máximos não surgem tão acima na start list como é habitual. Até porque, normalmente, compete mais em piscina longa. A estreia no Euro absoluto de 25 metros será esta manhã nos 100 mariposa, onde detém como máximo pessoal 51,29s, o que lhe confere o 13.º tempo entre os inscritos. Só que ninguém sabe ao certo em que estado se apresentará.

«Agora é que voltou a alimentar-se normalmente e nota-se que perdeu algum peso. Foi um problema que aconteceu com vários atletas do CAR Jamor, mas, no caso dele, nem sequer havia lá comido. Posso dizer que está recuperado, mas visivelmente abatido com o sucedido, pois também perdeu alguns treinos», contou ainda o técnico nacional, que treina diariamente o nadador do Benfica no Jamor. 

Este foi, contudo, apenas mais um contratempo numa viagem atribulada, com a Seleção a ficar retida um dia na escala em Zurique (Suíça) devido ao mau tempo e desde que chegou à Roménia ainda não apareceram as malas, onde os nadadores não só tinham os equipamentos, como suportes de alimentação e recuperação. 

«Em Zurique foi um stress. Ficámos numa lista de espera em que tínhamos de ir para o aeroporto para saber se continuávamos a viagem, mas só 20 minutos antes do voo é que seria confirmado. Foi outro dia de treinos perdido. E as malas ainda não chegaram. Amanhã [hoje] o Diogo nadará com algum do equipamento emprestado. Entretanto já descansámos e mudámos a página a pensar fazer o melhor dentro de toda a situação. O ambiente está novamente bom, mas, se tivesse sido ontem… nem queria falar consigo», afirmou Alberto Silva. «Estava demasiado cansado e irritado. Mas encarámos a situação e seguimos em frente», acrescentou.

Mas, semanas antes do Mundial de Fukuoka, em julho, o Diogo também teve Covid, não se sabia bem como estaria, e depois foi prata nos 50 mariposa. Não espera que o torne a surpreender? «O que me preocupa mais não é o agora, é a sequência: teve Covid antes do Mundial; uma gripe, juntamente com o Miguel Nascimento, antes da Taça do Mundo de Budapeste, o que originou uma participação modesta e estiveram quase para não viajarem; e agora esta intoxicação alimentar. Isto despertou-me um sinal de alerta. Terei de falar com os responsáveis médicos porque, daqui para a frente, haverá o Mundial de Doha [fevereiro] e os Jogos de Paris [julho] e teremos de arranjar medidas preventivas», diz. 

«Mas no Europeu sei que fará o melhor que puder nas condições em que estiver. Dará tudo o que tiver. Aliás, todos vão fazer isso e depilaram-se e preparam-se para darem o máximo. Não vieram em carga de treino, mas para serem competitivos. A minha preocupação são os treinos que se perderam, mas a pensar em Doha. Quando regressarmos haverá o Nacional em Coimbra, o Nacional de clubes, depois a quebra que existe sempre no Natal… e é preciso manter o nível dos treinos. Todas as pessoas só veem os resultados, mas quem trabalha com eles todos os dias tem de, por vezes, fazer magia», refere rindo-se.

«O Diogo está praticamente sem nadar. Como se diz, só tem ido molhar o rabo à água, mas espero que esteja recuperado. Talvez este primeiro dia ainda não seja o melhor, mas à medida que o campeonato for decorrendo irá evoluindo», salientou Albertinho tendo em conta que Ribeiro disputará os 100 livres, 50 e 100 mariposa, com (deseja-se) meias-finais e finais pelo meio, e três estafetas.

Quanto ao objetivo da Seleção para Otopeni, tendo em conta que Diogo, Nascimento, Costa e Camila já têm mínimos para os Jogos franceses, Alberto Silva salientou que «apesar de haver atletas ainda à procura dos mínimos olímpicos em piscina longa e os Jogos são o principal foco da temporada, no Euro, mesmo sendo em piscina de 25m, existe a oportunidade de preparação». «Vejo-a assim e penso que o meus colegas que cá estão, como o Rui [Costa, V. Guimarães] e o Vítor [Ferreira, Louzan], como os que não vieram, também encaram desta forma. Há dois fatores principais. Primeiro, trata-se de uma competição forte, com adversários que encontraremos no Mundial e nos Jogos e exige um lado competitivo aos atletas em que se tenham de focar nos fundamentos que também têm na piscina de 50m: partida, percurso subaquático, break-out [transição do submerso para o nado], entradas e saídas das viragens… É a oportunidade de ter de fazer esses fundamentos em alta velocidade, contra grande adversários, e melhorá-los», afirma. 

«Em segundo, e que não se consegue treinar, nem mesmo nas mais importantes competições em Portugal: também se trabalhará o lado emocional de tentar chegar a uma meia-final, final ou lutar pelas medalhas. São momentos especiais que fazem parte da preparação para o Mundial e para os Jogos», concluiu Alberto Silva.