ENTREVISTA A BOLA Martim Mayer: «Quando não há vitórias, tem de haver mudança»

FUTEBOL12.06.202508:29

Ser presidente do Benfica, diz, «não é um sonho, passou a ser um objetivo». Garante que vai manter-se na corrida até ao fim e que é diferente dos outros candidatos que já assumiram que vão a votos

Martim Borges Coutinho Mayer é candidato à presidência do Benfica. Tem 51 anos, é neto de Duarte Borges Coutinho, histórico presidente do Benfica entre 12 de abril de 1969 e 26 de maio de 1977. É o sócio 5.206 e em entrevista a A BOLA assume por que se candidata à presidência das águias, com o mote Benfica no Sangue.

— Vamos imaginar que sou sócia do Benfica e tenho as quotas em dia, em outubro, para poder votar. Porque é que deverei de votar em Martim Borges Coutinho Mayer para presidente?

Benfica no sangue é o mote da minha campanha. É a forma como sinto o Benfica e a forma como sei que tantos benfiquistas sentem o Benfica, porque o têm no sangue. Isso tem a ver com a identidade e com a grandeza do clube. Com a história e com o palmarés extraordinário. É isso que queremos de volta: um regresso da verdadeira identidade do Benfica. O Benfica tem de ganhar. Quando não há vitórias, tem de haver mudança, porque o Benfica foi feito para ganhar. É isso que tem que se conseguir trazer de volta também.

— Esse Benfica no sangue foi inspirado no avô Borges Coutinho?

— Vou buscar bastantes coisas ao que foi a Direção do meu avô. Revejo-me nos valores e na postura. Não é saudosismo, nem é inocência, porque há valores que nunca mudam e que deveriam estar mais presentes no Benfica e não estão. Mas não passa só pela experiência que tive com ele, passa também por ouvir tantos e tantos testemunhos de muitas pessoas muito relevantes no clube, sejam jogadores, dirigentes, apaixonados ou adeptos, que quando falam daquilo que o meu avô fez e da forma como ele liderou o Benfica me passam experiências e formas de estar muito importantes. Trago isso comigo. Em cima disso, trago também um objetivo. Isto não é um sonho, isto passou a ser um objetivo, porque tenho um percurso profissional no qual adquiri um conjunto de competências e experiências que me permitem estar preparado para desempenhar estas funções e perceber qual deve ser o caminho para o futuro do Benfica. Reuni uma equipa para agarrar o Benfica. Temos uma equipa fresca, que não esteve no Benfica no passado, e que traz essa frescura que entendo ser necessária agora que se fecha aqui um ciclo de mais de 20 anos e que poderá também por isso fazer muita diferença. É uma abordagem livre e independente e que tem muita paixão e competência.

— Quais são os rostos e os nomes dessa equipa independente?

— Terei muito interesse, e todo o gosto, à medida que formos revelando o nosso projeto, de falar de cada uma dessas pessoas. Neste momento, em que assumimos a nossa candidatura, gostava de centrar mais as coisas em mim. Mas são tudo pessoas que têm algumas características em comum.

—Que características são?

— Uma só agenda: fazer o Benfica ganhar e desenvolver o projeto Benfica. São grandes sócios do Benfica, que vivem o clube com muita paixão. São pessoas com muita competência e muita experiência nas suas áreas profissionais. Todas elas chegaram a uma fase da vida em que podem dar ao Benfica, com conforto e com plena dedicação e exclusividade, aquilo que ganharam ao longo da vida de experiência e de conhecimento. Com a ligação que se pode estabelecer com o meu avô, Borges Coutinho, existe para mim um adicional de responsabilidade, pois tenho de estar à altura disso. Como não posso estar sozinho, a proposta para o clube passa por esta equipa, e precisei de os vincular também a isso.

— Essas pessoas já estiveram no Benfica no passado?

— Nunca tiveram qualquer envolvimento com o dirigismo ou outra função dentro do clube. São, sim, benfiquistas apaixonados, que vêm das mais diversas áreas profissionais e que neste momento estão disponíveis para ajudar o clube a tempo inteiro. Não são mediáticos, são sim muito competentes.

— Não tem qualquer antigo presidente do Benfica a apoiá-lo?

— Não tenho, nem procuro isso. Mais do que tudo, devemos apresentar a nossa proposta. Ao longo destes próximos meses admito que esses apoios públicos irão surgir porque os sócios vão identificar-se com aquilo que queremos trazer para o clube. Não tenho pressa. Não procuro benfiquistas mediáticos. Procuro o profundo da nação benfiquista, porque é aí que está a solução para o Benfica. É esse o caminho do futuro do Benfica.

— Assume agora que é candidato. Nos próximos meses, será este o seu principal desafio? 

— Para ter tomado esta decisão tive de me preparar a nível pessoal, familiar e profissional. Isso está feito. As minhas atividades profissionais estão entregues e a monitorização que faço dessas atividades é perfeitamente compatível com estar totalmente dedicado em passar a mensagem da minha proposta ao universo benfiquista. Obviamente, do ponto de vista pessoal, tenho de ter tudo alinhado com a minha família. Tenho, não sei se sabe, seis filhos. São tantos quantos os campeonatos ganhos pelo meu avô [risos].

— Quando é que decidiram lá em casa que seria candidato a presidente do Benfica?

— Quando me casei com a minha mulher, avisei-a. Há 15 anos.

— Nessa altura já queria ser presidente do Benfica?

— Nessa altura tinha o sonho. Qual é o benfiquista que não gostaria de ser presidente? É um sonho que é partilhado por todos os amantes do clube, mas depois é preciso fazer trabalho, ganhar experiência, ter conhecimento e investir tempo. Foi isso que fui fazendo. Portanto, isto passou de um sonho a um objetivo, que é ganhar as eleições. É para isso que estou preparado.

— Quando é que decidiu que estas seriam as eleições ideais?

— A perceção de que existe aqui um fim de ciclo e a pobre performance desportiva dos últimos cinco anos são grande catalisador de vontade. Percebi que poderia ser útil ao clube nesta fase, porque tenho a perfeita noção do que é necessário mudar para o clube voltar a ter a força que já teve.

— Nos novos estatutos o peso das casas, precisamente no ato eleitoral, mudou. Foi defensor deste novo Benfica?

— Retirar votos às casas do Benfica compreende-se que seja decisão com que se concorde. Não se pode ir às casas do Benfica só quando há eleições. Tem de se ir às casas do Benfica como sendo parte do clube. Há que criar uma dinâmica, e nós também temos isso pensado. Por isso vai haver uma vice-presidência que só irá trabalhar a nação benfiquista, seja em Portugal, seja nos variadíssimos países onde temos grandes comunidades.

«Haverá uma vice-presidência que só irá trabalhar a nação benfiquista»

— Vão ser vários os candidatos às próximas eleições do Benfica. Isso pode ser bom ou mau?

— É obviamente bom. Depois de mais duas décadas em que se debateu o clube muito menos do que se devia, isto só mostra a riqueza que existe no universo benfiquista. É muito saudável e louvo cada um dos candidatos que já se apresentaram. É sinal de vitalidade e de que o Benfica continua a estar no coração de muitas pessoas de uma forma muito permanente. Sentem que lhe podem ser úteis e têm a coragem de se chegar à frente e de trazer uma proposta para o futuro do clube.

— Quer ir até ao fim nestas eleições ou pondera juntar-se a alguma das outras candidaturas?

— Irei sempre até ao fim e as razões são várias. A primeira tem a ver com a diferença da minha proposta face àquilo que já vejo nas propostas dos outros candidatos.

— E receber algum dos outros candidatos que durante o percurso possa ponderar desistir?

— Tenho uma opinião diferente face àquilo que conheço das propostas de cada um dos candidatos. Usando uma frase do meu avô, o Benfica não pode ter medo do Benfica. Não me fecho a essa possibilidade se algum dos candidatos, em algum momento, entender que a minha proposta é aquela na qual se revê. Estarei aberto a conversar e a ver como nos podemos juntar, mas não tenho isso na cabeça agora.

— Que tipo de sócio tem sido ao longo destes 51 anos?

— Sou claramente um sócio que passo a passo foi ganhando proximidade e confiança. Há 13 anos estive ligado na qualidade de vice-presidente proposto a uma lista que concorreu à presidência do Benfica e isso marca definitivamente uma entrada numa fase diferente. Esse foi a momento chave para que esteja aqui hoje.

— Como se deu essa ligação a Rui Rangel?

— O universo benfiquista fala muito entre si, não o conhecia muito tempo antes. À data, o Rui Rangel era juiz desembargador da República Portuguesa, do Tribunal da Relação, por isso uma pessoa com muito prestígio e muita responsabilidade na Justiça do país. Inicialmente até comecei por responder negativamente a incorporar a Comissão de Honra, porque sabia perfeitamente que estava a passar o nome do meu avô e o prestígio do meu avô. Acabei depois por ser convidado para incorporar a lista do Rui Rangel para a vice-presidência financeira e das relações internacionais do clube.

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