‘Jackpot’ no banco guardado num Pote: a crónica do Sturm Graz-Sporting

‘Jackpot’ no banco guardado num Pote: a crónica do Sturm Graz-Sporting

INTERNACIONAL21.09.202323:45

Primeira parte de fraco nível, não deixou saudades Foi preciso um susto para quebrar a apatia do leão Pedro ‘Pote’ Gonçalves decisivo

O Sporting, que só tinha más recordações das jornadas europeias na Áustria, matou esse borrego, mas quando podia tê-lo feito na base da classe - os leões são francamente mais equipa que o Sturm Graz - acabou por consegui-lo através de muito esforço e vontade, um espírito ganhador que só emergiu quando se viu surpreendentemente em desvantagem. 

Nada a apontar à justiça do triunfo leonino, mas não havia necessidade de uma primeira parte tão abúlica, quando as mudanças operadas na equipa por Rúben Amorim, especialmente Trincão, mas também em menor escala Daniel Bragança, não trouxeram ao jogo o que o técnico verde e branco esperava. 

Não há como dizê-lo de outra forma, a primeira metade, que terminou com uma posse de bola leonina de mais de 60 por cento, foi aborrecida e mal jogada de parte a parte. Foram 45 minutos em que apenas houve um remate perigoso para cada lado, percebendo-se que o Sporting tinha de dar mais alguma coisa ao jogo se quisesse sair de Graz com a vitória, enquanto que a equipa da casa teve o mérito, do ponto de vista estratégico, de aceitar que os portugueses eram mais fortes, abdicando de pressionar alto e optando por saídas em contra-ataque. 

Ao intervalo, Amorim deve ter espevitado os seus jogadores, que, pelo menos, entraram mais agressivos e logo aos 47 minutos Trincão obrigou Scherpen a uma grande defesa. O Sporting melhorou ligeiramente, mas Matheus Reis não dava profundidade na esquerda, Catamo era inconsequente na direita e Trincão continuava a passar ao lado de um jogo que nem Bragança, nem Hjulmand eram capazes de filtrar devidamente. 

Quando, aos 58 minutos, numa iniciativa esporádica do Sturm Graz, Boving meteu a bola na baliza de Adán, temeu-se o pior para a turma de Alvalade. Mas o primeiro sinal de inconformismo foi dado por Paulinho no minuto seguinte - um remate à meia volta para boa defesa de Scherpen - e o segundo foi dado por Amorim, ao substituir, aos 62 minutos, Matheus Reis e Trincão por Nuno Santos e Pedro Gonçalves. O primeiro trouxe velocidade e abriu a frente leonina, e o segundo acrescentou lucidez e aquele toque de magia que só os eleitos possuem. 

O Sporting não mudou nada taticamente, mas alterou a dinâmica e isso foi fatal para o Sturm Graz. Aos 66 minutos, Scherpen fez, no mesmo lance, duas defesas impossíveis a remates à queima-roupa de Paulinho e Gonçalo Inácio, e percebia-se que desde que o Sporting continuasse a abanar a árvore austríaca o golo haveria de cair. E assim foi, aos 75 minutos, por Gyokeres, após trabalho genial do Pote de ouro que Rúben Amorim tinha guardado no banco. 

Um minuto depois, coup de grace de Amorim ao Sturm Graz: Morita foi para o meio, Pedro Gonçalves passou a oito, Fresneda deu mais pulmão à ala direita e Edwards brilhou no papel de agitador que lhe serve como uma luva. Começava a ser Sporting a mais para a resistência austríaca, e foi sem surpresa que os leões chegaram à justa vantagem, num remate de Diomande, desferido da entrada da grande área, que ainda desviou em Coates, traindo Scherpen. Havia finalmente verdade no marcador e as substituições operadas pelo treinador austríaco aos 88 minutos não causaram mossa aos leões, que passaram pelos apertos que passaram apenas porque se esqueceram de ir a jogo nos primeiros 45 minutos. 

A época é longa, os desafios são muitos, e é normal que Rúben Amorim tenha experimentado soluções alternativas. Mas Geny Catamo ainda oscila muito entre o bom e o inesperado, Matheus Reis é demasiado posicional para dar asas ao 3x4x3, Bragança, um talento, sem dúvida, continua à procura do melhor ritmo, e Trincão está fora de forma. Assim se explica porque se notou tanto a entrada de Pote, bem coadjuvado, mais tarde, por Morita, tal a lucidez que trouxe ao jogo de um Sporting que tem mais a ganhar do que a perder ao usar Paulinho e Gyokeres em simultâneo. Em resumo, triunfo justo dos leões, num jogo que seria de lesa-futebol se o Sporting tivesse deixado pontos em Graz.