Haller: «Foi mais difícil perder o título com o Dortmund do que aceitar a minha doença»
Sébastian Haller, o herói da Costa do Marfim (Facebook/FIF)

Haller: «Foi mais difícil perder o título com o Dortmund do que aceitar a minha doença»

INTERNACIONAL20.03.202410:43

Jogador superou cancro nos testículos e voltou a jogar em 2022; viagem aos tempos mais difíceis

Se alguém pode relativizar e falar num percurso de altos e baixos é Sebastian Haller. Acaba  de ser coroado campeão africano com a Costa do Marfim no CAN, depois de derrotar a Nigéria com reviravolta na final de fevereiro, glória que surge depois de um 2022 para esquecer em termos pessoais e um 2023 duro de aceitar no plano desportivo. No Borussia Dortmund leva 2 golos em 14 jogos.

O avançado do Borussia Dortmund, que em 2022 foi diagnosticado com cancro nos testículos, falou sobre a difícil doença que teve de ultrapassar e também sobre o agonizante final da Bundesliga 2022/23 em que o título escapou das mãos nos últimos instantes, para o Bayern Munique.

Na última jornada, o Dortmund empatou 2-2 com o Mainz e Haller falhou um penálti; um golo de Musiala no último minuto frente ao Colónia significou o título para os bávaros pela diferença de golos. «Foi a maior deceção que tive no futebol. Foi mais difícil de aceitar do que a minha doença porque eu poderia ter tido impacto sobre o que aconteceu. Eu não era apenas uma vítima, mas ator. Foi muito doloroso. Mas felizmente estou acompanhado de família e amigos. Se estivesse sozinho, provavelmente teria ficado deitado no chão uma semana sem me mexer», comentou em entrevista ao The Athletic.

Se estivesse sozinho, provavelmente teria ficado deitado no chão uma semana sem me mexer

Mas volte-se atrás, a 2022 e à descoberta da doença apenas semanas depois de ter assinado pelo Dortmund. Na pré-época, em julho, começou a sentir dores no abdómen e falou primeiro com o fisioterapeuta, mas nunca passou. Falou depois com os médicos do clube. Fez ecografias, ressonância magnética, e o diagnóstico chegou e era cancro: «Uma palavra que assusta. Disseram-me que tinha de ser operado, podia começar logo no dia seguinte.»

Haller foi de imediato operado para remover o tumor e começou quimioterapia com cinco sessões por semana; fez três rondas de tratamento e mais uma operação para remoção de tecido maligno.

«Os últimos dois dias de quimioterapia foram os mais fortes em termos de efeitos secundários. Tive de esperar 48 horas e depois conduzir duas horas e meia (do Hospital Universitário de Munster, na Alemanha, até casa nos Países Baixos). Foi a pior parte, chegar a casa às 2 da manhã, com dificuldades em ficar em pé, mas fiz tudo o que pude com o meu fisioterapeuta», recordou.

Em termos psicológicos também sofreu: «Tornamo-nos outra pessoa sem dar conta. Ficamos mais irritadiços, impaciantes, as pessoas à nossa volta tentam esconder a tristeza.»

Venceu o cancro e venceu o CAN, eis Sébastien Haller!

12 fevereiro 2024, 07:30

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Fez estragos em Alvalade e deixou marca na Champions, mas um cancro em 2022 quase lhe tirou a vida. Venceu-o, voltou mais forte, trocou o Ajax pelo Dortmund já depois de ter trocado a França pela Costa do Marfim. E, este domingo, fez o 2-1 que garantiu a conquista do CAN

Tornamo-nos outra pessoa sem dar conta. Ficamos mais irritadiços, impaciantes

Mas começou a sentir-se melhor. Em outubro foi à gala da Bola de Ouro e em dezembro teve alta para poder voltar a jogar. Foi ao estágio de inverno da equipa em Marbelha, Espanha e jogou num particular frente ao Basileia, marcando três golos de uma vitória por 6-0 em apenas 7 minutos.

A estreia oficial foi a 22 de janeiro frente ao Augsburgo e voltou aos golos a 4 de fevereiro – logo o Dia Mundial do Cancro.  «Recebi mensagens de pessoas a dizer que se inspiraram no meu caso para fazerem exames, e isso é muito bom, fico orgulhoso por saber que ajudei nem que seja uma pessoa», contou, organizando agora sessões desportivas para pessoas em tratamento e através de um documentário, ‘O combate de Haller’.

E agora é campeão africano, depois de a Costa do Marfim, onde joga o sportinguista Diomande - e que despediu o selecionador a meio -, quase ter sido eliminada na fase de grupos e nos penáltis com o Senegal; tiveram também de reverter o resultado com o Mali, tal como na final com a Nigéria. Haller jogou quase toda a competição com uma lesão depois de um entorse num tornozelo no último jogo da Bundesliga - «os meus dias eram pequeno-almoço/tratamento/ginásio/tratamento»: «Não sei como foi possível. É o destino. Podemos tentar explicar, mas s verdade é que não controlamos nada». Válido na vida e no desporto.