FC Porto: corações azuis e brancos num tabuleiro de xadrez
A BOLA ‘juntou’ Artur e Pedro Emanuel, dois históricos de dragões e panteras. Orgulho comum por terem representado «os dois maiores clubes da cidade» e desejo partilhado de um grande dérbi, com portistas a conseguirem o pódio e boavisteiros a ficarem na Liga
Artur Duarte de Oliveira, brasileiro que fez furor em Portugal durante a década de 90: quatro temporadas ao serviço do Boavista (141 jogos e 56 golos), duas épocas e meia no FC Porto (92 jogos e 20 golos). Juntando os títulos conquistados pelos dois clubes, venceu três edições do Campeonato, outras tantas da Supertaça e ainda uma Taça de Portugal. De azul ou de xadrez, acelerou nos relvados como se não houvesse amanhã e não haverá, hoje, nenhum adepto de ambos os emblemas que não se lembre das suas diabruras.
Pedro Emanuel dos Santos Martins Silva, defesa-central formado no Boavista e que enquanto sénior passou seis anos na equipa principal (200 jogos e três golos). Tantos quantos esteve na elite do FC Porto (178 jogos e um golo). De uma entrega que tinha tudo menos comparação, com ele era antes quebrar do que torcer. Arrecadou um infindável número de títulos: Campeonato (7), Supertaça (4), Taça de Portugal (4), UEFA Champions League, UEFA Europa League e Taça Intercontinental. Só para os troféus… uma divisão da casa.
Ambos estão devidamente legitimados para falarem de duas instituições que tanto lhes dizem e, como tal, A BOLA juntou-os para sentir o pulso do dérbi da Invicta que está agendado para as 20h30 de domingo, no Estádio do Bessa. E ambos têm o coração a palpitar. Porque são dois corações azuis e brancos num tabuleiro de xadrez.
Diretamente do Brasil, voam as recordações de Artur. «O dérbi de hoje é muito diferente do que era na minha época. Quando estava no Boavista, dificilmente o Porto ganhava lá. Alias, era sempre muito difícil para os três grandes ganharem lá [no Bessa]. Agora os tempos são outros, mudou muita coisa. O Boavista está a tentar uma grande recuperação e o FC Porto já não está na luta pelo título. É pena que seja essa a realidade, mas não há como fugir».
Mesmo perspetivando um duelo equilibrado, o brasileiro não esconde o seu desejo: «O FC Porto é sempre o FC Porto. Claro que a época não correu bem, mas agora que consigam ficar no pódio. Já o Boavista teve duas vitórias muito importantes, com o Farense e o Aves SAD, pelo que pontuar no domingo seria muito importante na luta pela permanência. Torço para que seja um bom jogo, mas, e acima de tudo, que no final do campeonato as duas equipas consigam os objetivos mínimos, ou seja, que o FC Porto fique em 3.º lugar e que o Boavista consiga manter-se na Liga.»
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Do Brasil viajámos até à Arábia Saudita e estivemos à conversa com Pedro Emanuel. Uma autêntica lenda viva de Boavista e FC Porto.
«Tenho muito orgulho de ter jogado nos dois clubes mais representativos da minha cidade. Nasci em Angola, mas mudei-me para o Porto com 3 anos. Aprendi bastante no Boavista dos 11 aos 27 anos e no FC Porto dos 27 aos 34. Ser campeão nos dois clubes mais emblemáticos da minha cidade é indescritível. Olhando ao momento atual, claro que temos de dizer que está a ser uma época extremamente irregular para as duas equipas. O FC Porto passou completamente ao lado do seu objetivo de sempre, que é ser campeão nacional, e agora tem de lutar por um lugar no pódio. O Boavista tem tido muitos problemas extrafutebol e que afetam qualquer equipa, mas com o espírito de sacrifício dos jogadores e a alma dos adeptos consegue chegar às duas últimas jornadas com possibilidades de garantir a manutenção. Espero, do fundo do coração, que consigam atingir as metas», nota.
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Nenhum dos antigos craques arrisca um resultado para o dérbi e ambos reforçam que só desejam o bem a FC Porto e Boavista.
Artur aposta num elemento para decidir em cada lado: «O Rodrigo Mora. Apesar de ser um miúdo, tem muita personalidade e vai para cima. É um craque. No Boavista, o Salvador Agra. Sempre cheio de garra e com aquela alma boavisteira. Nesse aspeto, faz-me lembrar o Bobó, o capitão da minha época.»
Já Pedro Emanuel também quer… o melhor dos dois mundos: «Pelo carinho imenso que tenho pelos dois clubes, que o FC Porto garanta o 3.º lugar, o objetivo mínimo, e o Boavista, pela história que tem e pelos sacrifícios que tem passado, fique na Liga. É um campeão nacional e merece estar entre os grandes.»