Farense: «Tenho a mágoa de não ter representado a Seleção»

Marco Matias orgulhoso com a carreira que construiu, mas triste por não ter jogado na turma das quinas; segredo do Farense é o projeto e a qualidade do grupo; diz que vai jogar até o corpo deixar

Aos 34 anos, Marco Matias tem sido um dos destaques do Farense e um dos preferidos dos adeptos dos algarvios. O extremo revela a A Bola a mágoa por nunca ter representado a seleção A, sentindo-se injustiçado quando em 2014/15 apontou 21 golos no Nacional e não mereceu a oportunidade.

- Qual o segredo para a boa campanha do Farense?

«É o acreditar num projeto com muita ambição e a qualidade do grupo e da equipa técnica, que consegue transmitir as suas ideias de uma forma simples.»

- Satisfeito com o seu desempenho?

«Sim. O individualismo é sempre importante e quando todos estão no auge, faz-se uma grande equipa. Gostamos sempre de fazer boas exibições, marcar golos e assistências, mas o Farense está sempre em primeiro lugar.»

- Qual o melhor o jogo e o menos conseguido?

«O menos conseguido foi o primeiro, com o Casa Pia. Uma nova liga, a 1.ª divisão para muitos jogadores e com o plantel também a ser construído. Correu-nos tudo mal, mas conseguimos dar a volta rapidamente, tanto a nível de qualidade de jogo, como de resultados. O melhor foi com o SC Braga: tivemos uma grande eficácia e a estratégia correu perfeitamente. Penso que aí conseguimos demonstrar num nível muito elevado, aquilo que somos capazes de fazer.»

- É mais fácil jogar na 2.ª liga para subir ou na 1.ª para manter?

«Não existe muitas diferenças entre os clubes do meio da tabela para baixo da 1.ª liga e os que estão a lutar para subir na 2.ª. Mas na 1.ª é mais difícil, num erro as oportunidades aparecem e os adversários não perdoam. Na 2.ª podemos ‘exagerar’ um pouco, mas também há muito bons executantes. São ritmos, jogos, leituras e jogadores diferentes.»

- Espera jogar até com que idade?

«Estou aqui para as curvas e enquanto o corpo deixar vou continuar a jogar e a ajudar o Farense. O futuro é sempre muito imprevisível. Se repararmos, nos últimos anos há jogadores com idades acima do normal – refiro-me a 35, 36 ou 37 anos - a jogar ao mais alto nível e com rendimento extraordinário, em que não se nota diferença para os mais novos. O futebol está mais moderno, diferente, mais físico e inteligente.»

- Que sonho tinha quando começou no Barreirense e passou depois pelo Sporting?

«O que todos têm: chegar ao mais alto nível e à seleção. A ambição tem que estar sempre presente e eu sempre fui muito ambicioso. Estou muito satisfeito com o trajeto que fiz. Podia ter outras oportunidades, ter sido chamado à seleção na época que fiz 21 golos pelo Nacional e andei também a lutar nos play-offs para a Premier League. Fica a mágoa de não representar a seleção ao mais alto nível, mas são coisas do futebol...»

- Arrependido de alguma decisão que não tenha tomado e que lhe poderia ter mudado, para melhor, a carreira?

«Não me arrependo de nada. Seria injusto estar agora aqui a crucificar algum tipo de decisão depois de saber o que aconteceu. Estou muito tranquilo e feliz com todas as decisões que tomei, umas melhores que outras.»

O sonho (concretizado) de jogar em Inglaterra

No Sheffield Wednesday, Marco Matias concretizou um dos seus sonhos de criança. «Foi mais um tornado realidade, que era jogar em Inglaterra e, se possível, ao mais alto nível. Infelizmente esse passo não conseguimos e gostava de o ter feito pelo Sheffield e tivemos algumas chances de conseguir atingir a Premier League, mas perdemos a sempre no play-off», recorda o extremo de 34 anos. «Foi uma mágoa enorme, porque um clube daquela dimensão, com uns adeptos fantásticos e uma estrutura espetacular, merecia estar na Premier League», vincou, lembrando ainda que rejeitou outras opções para concretizar esse sonho inglês: «Na altura tive alguns clubes que poderia ter optado, mas o meu sonho era jogar em Inglaterra e estou muito feliz com a experiência que tive lá». 

«Já fiz Rui Silva guarda-redes, Velho é o próximo»

Marco Matias deteta muita qualidade no plantel do Farense e vê muita dificuldade para o clube em segurar os seus valores. «Com a idade que eles têm, com a evolução que estão a ter e com a qualidade e exibicional que têm demonstrado, é sempre muito difícil para um clube segurá-los», diz sobre os colegas. Um deles, o guarda-redes Ricardo Velho, tem estado em grande destaque. «Conheci-o no ano passado e tem vindo a evoluir bastante. Ele já é muito bom, mas acredito que possa chegar a um patamar ainda mais elevado. É um jogador que tem subido a pulso, muito profissional. Digo-lhe várias vezes que já fiz do Rui Silva (Bétis) guarda-redes (com quem jogou no Nacional em 2014/15), e ele é o próximo. Ele ri-se e fico bastante orgulhoso e ansioso para que ele dê o salto, porque merece, é um excelente guarda-redes e ainda tem muito para evoluir.», elogiou.

IDEIAS

Experiência

«Sou mais um para ajudar e tento dar o meu melhor em todos os jogos. Pela experiência que tenho consigo transmitir outras coisas, que se calhar alguns jogadores jovens ainda não conseguem, independentemente da qualidade que têm.»

Belloumi é fantástico

«É um enorme orgulho ver jogadores da formação como o Belloumi a fazer as exibições que tem feito. É um bom miúdo, trabalhador, e espero que tenha muito sucesso e que chegue ao mais alto nível. Vai conseguir porque é um jogador fantástico.»

A mística do São Luís

«É inexplicável. É impossível conseguir transmitir por palavras o quão especial é o São Luís. Só estando dentro de campo e vestindo a camisola do Farense e sentir o carinho e apoio dos adeptos, é que dá para perceber.»

B.I.

Nome completo

- Marco André da Silva Lopes Matias

Data de nascimento

- 10 de maio de 1989 (34 anos)

Naturalidade – Barreiro

Peso – 73 quilos

Altura – 1,77 metros

Posição – extremo

Percurso – Barreirense, Sporting, Varzim, Fátima, Real, V. Guimarães, Freamunde, V. Guimarães, Nacional, Sheffield Wednesday, B SAD, Nacional e Farense