Estêvão Willian: a maior promessa brasileira de que ainda não ouviu falar
Estêvão Willian em ação contra a Inglaterra no Mundial sub-17 (Foto: MAST IRHAM/EPA)

Estêvão Willian: a maior promessa brasileira de que ainda não ouviu falar

INTERNACIONAL12.04.202413:32

Aos 16 anos, é o melhor jogador do Mundial sub-17; PSG já o tentou resgatar; talento tremendo a apontar estatuto futuro de classe mundial

Análise publicada originalmente a 21 de novembro de 2023, recuperada a propósito da estreia a marcar pelo Palmeiras na Libertadores e elogios de Abel Ferreira

16 anos é demasiado cedo, é verdade. Mas pode ser, decididamente, se os deuses do futebol o protegerem, a next big thing. O nome já faz salivar os gigantes europeus e põe o Palmeiras a fazer contas aos muitos reais que pode encaixar, pouco depois de ter acertado por 37,5 milhões de euros a transferência, antes mesmo de somar a primeira internacionalização A pelo Brasil, de Endrick para o Real Madrid. O novo prodígio chama-se Estêvão William. É canhoto e, talvez por não ter um nome muito interessante para jogador, acumula ainda a alcunha de Messinho.

Já depois de se sagrar campeão brasileiro, vencer a Taça e o Paulistão pelos sub-17 do Verdão, Estêvão está agora a confirmar toda a qualidade no Campeonato do Mundo de sub-17, que decorre na Indonésia. Leva três golos e três assistências pelo Escrete, que já está nos quartos de final e não desarma na tentativa de reeditar o título conquistado em 2019 (a edição de 2021 não se realizou devido à pandemia). No entanto, os números do mais jovem elemento do plantel canarinho presente na Ásia não se ficam por aqui. Se isolada a exibição diante do Equador nos oitavos de final, chega-se a números de elevado quilate: 25 passes (72% acerto), 5 remates, 5 passes-chave, duas oportunidades criadas, 5 em 5 em dribles bem sucedidos, 1 interceção, 8 em 12 em duelos ganhos. 

Não há ninguém tão decisivo na prova. Colegas e adversários, os melhores do planeta até aos 17 anos, um ano acima da sua idade, parecem estar a milhas de distância em termos de qualidade. O céu poderá mesmo ser o limite, com a perspetiva de se tornar, daqui por uns anos, futebolista de classe mundial. E há quem esteja muito atento. O Paris Saint-Germain chegou a negociá-lo com o Palmeiras em conjunto com Endrick, tendo oferecido por ambos 80 milhões de euros (50M fixos, mais 30M em variáveis), valor recusado pelo clube de Abel Ferreira, que mais tarde chegaria a acordo com o Real Madrid pelo mais velho.

EstÊvão Willian festeja golo à Nova Caledónia (Foto: ADI WEDA/EPA)

Características de fora de série

Extremo-direito invertido, os elogios tem chegado a um ritmo tão alto quanto aquele em que joga: veloz, grande capacidade de aceleração e drible, excelente técnica, controlo de bola, agilidade, habilidade e criatividade. É ainda consistentemente forte no remate, na movimentação, primeiro toque e bolas paradas, porém precisa de evoluir fisicamente, a fim de se tornar mais efetivo nos duelos defensivos e no jogo aéreo. Isso só virá com o tempo. É fantástico no 1x1 e a velocidade torna-o letal em transições rápidas.

Estêvão Willian está a construir o seu nome há bastante tempo. Aos 10 anos, assinou um contrato profissional com a Nike, tornando-se o mais novo de sempre a consegui-lo: Neymar fez acordo semelhante aos 13 e Rodrygo aos 11. Entretanto, já renovou até 2025, com opção por mais dois anos.

Estêvão Willian com a Taça de Campeão Brasileiro Sub-17 pelo Palmeiras (Foto: DR/Divulgação)

Em 2021, mudou-se do Cruzeiro para o Palmeiras para continuar a formação. Ao serviço de uma cantera poderosa como a dos paulistas tem-se destacado com muitos golos e exibições nos vários troféus conquistados. No mês passado assinou um hat-trick na final com o São Paulo (3-0), que valeu o segundo título consecutivo ao Palmeiras no Campeonato Brasileiro sub-17.

Polémicas com contratos

A saída de Belo Horizonte precipitou-se, com o seu nome envolvido num escândalo de irregularidades por parte do clube. Mais concretamente, contratos assinados por um representante do Cruzeiro, Itair Machado, com empresários, em que eram cedidas percentagens de passes de jogadores, apesar de tal ser proibido pela FIFA.

Veio a público um contrato assinado em 2018, em que o agente Cristiano Richard ficara com parte dos direitos económicos de futebolistas como contrapartida por um empréstimo de 2 milhões de reais (380 mil euros ao câmbio atual) ao clube. No caso de Estêvão Willian ainda menos sentido fazia, uma vez que num contrato de formação os direitos económicos não existem. 

Em 2019, foi noticiada uma nova divisão: 70% para o Cruzeiro, 15 para a empresa Estrela Sports Ltda, do empresário Fernando Ribeiro de Morais, e 15 para os pais de Estêvão. A prática de distribuição por terceiros estava já proibida pela FIFA há quatro anos. O agente, também conselheiro do clube, defendeu-se, alegando que por ter ajudado a família à chegada a Belo Horizonte tinha ficado com uma comissão de uma venda futura. 

O próprio pai, Ivo Gonçalves, acabou investigado por adulteração de documentos, enquanto era assessor da presidência do Cruzeiro, antes de se tornar responsável pela captação de novos valores.

Barcelona de sobreaviso

Polémicas à parte, Messinho já confessou admiração pelo Barcelona e por Messi. «Gosto muito dele, é um grande jogador e espero poder seguir o seu exemplo. A minha alcunha vem da comparação, gosto sempre de ter a bola colada ao meu pé. Foi certamente alguém que me inspirou. Desde criança sempre quis ser como ele. Mas sim, prefiro ser chamado pelo meu nome. Vou tentar ter sucesso porque Deus deu-me qualidades para isso. O meu sonho é jogar na Europa, pelo Barcelona, e no Camp Nou, mas por agora quero ser profissional no Palmeiras, que o meu clube do coração», afirmou há meses numa entrevista ao Mundo Deportivo. Os catalães, que já garantiram Vítor Roque, outro jovem, do Athletico Paranaense, também guardaram o seu nome.

A continuar a jogar como tem feito, o jovem não terá só o Barcelona, mas também o resto do mundo a seus pés.