Análise de Luís Mateus, editor-executivo de A BOLA, às declarações de Rui Costa sobre a defesa do Benfica da verba que tem a receber das transmissões dos jogos.

Direitos televisivos não são a maior fonte de rendimentos dos clubes da Liga

UEFA providencia análise detalhada aos 615 milhões de euros de rendimentos que o campeonato português teve em 2023; situação da distribuição dos direitos de TV «coloca desafios à competitividade da liga», avisa o organismo

A UEFA divulgou esta sexta-feira um relatório detalhado do «panorama europeu do financiamento e investimento em clubes», que o organismo diz oferecer «uma derradeira visão de 360 graus sobre a saúde financeira do jogo», analisando «as finanças de mais de 700 clubes das 55 ligas-membro da UEFA».

Olhando para o foco que o relatório dedica à Liga, uma das principais conclusões a retirar é que o campeonato português teve rendimentos de 615 milhões de euros em 2023, um aumento de 11% em relação a 2022.

No entanto, ao analisar a fonte desses rendimentos, a grande fatia cabe à performance dos clubes portugueses nas competições europeias.

Campeonato português próximo da Ligue 1 

A maior fatia do bolo dos rendimentos dos clubes da Liga, em 2023, está mesmo relacionada com o que seis clubes (Benfica, FC Porto, Sporting, SC Braga, Arouca e Vitória de Guimarães) fizeram nas competições europeias.

Tal resultou em 194,6 milhões de euros provenientes da UEFA, um valor mais alto de qualquer campeonato fora das Big Five e muito próximo dos €207 milhões que a Ligue 1 arrecadou no mesmo ano.

Distribuição dos rendimentos dos clubes da Liga em 2023 (Foto: UEFA)

Nota ainda para o facto de este registo ser maior do que aquilo que o campeonato português recebeu em direitos televisivos: €182,3 milhões. As outras principais fontes de rendimento da competição foram receitas comerciais (€123,6 milhões) e de bilheteira (€72,7 milhões).

A UEFA destaca também a peculiar situação que o campeonato português vive em relação à distribuição dos rendimentos dos direitos televisivos: «Os contratos de direitos de longa duração assinados, primeiro pelo Benfica e depois pelo FC Porto, Sporting, SC Braga, Vitória de Guimarães e outros, têm ainda algumas épocas de vigência, sendo o do Benfica o primeiro a terminar, em 2025/26. Este facto criou a distribuição televisiva mais polarizada da Europa e coloca desafios à competitividade da liga.» 

Indicadores-chave de desempenho 

Olhando mais a fundo sobre as finanças da Liga, agora com foco na época 2023/24, o campeonato continuou a destacar-se pelo valor gerado no mercado de transferências, apresentando um lucro total de €143 milhões.

Análise das finanças dos clubes da Liga em 2023/24 (Foto: UEFA)

O relatório também oferece uma leitura sobre os donos dos clubes da principal divisão portuguesa: 39% deles pertencem a investidores privados, sendo que metade dos clubes tinham pelo menos um acionista estrangeiro.

Em relação às infraestruturas, 47% dos estádios que receberam jogos da Liga pertenciam ao Estado ou a um município, com o estudo também a estimar o valor total de todos os estádios (e outros ativos dos clubes) do campeonato em €441 milhões (uma média de €20 milhões por estádio).