Di María sorridente e a 'apertar' com Carreras ou Prestianni a 'apertar' com Di María; águias levantam revelam imagens raramente vistas

«Benfica tem de aproveitar esta oportunidade»

A opinião de glória das águias que também jogou nos EUA

António Simões, 81 anos, antigo extremo-esquerdo campeão europeu pelo Benfica e um dos grandes nomes da Seleção Nacional, tem na palma da mão a história das águias e conhece de forma especial a realidade do futebol nos EUA, onde o Benfica está nesta altura para jogar o Mundial de Clubes, que arrancou ontem e termina a 13 de julho. Na década de 70, António Simões jogou pelos Boston Minutemen, San Jose Earthquakes, New Jersey Americans e Dallas Tornado.

António Simões, glória do Benfica e do futebol português (foto: Miguel Nunes)

Em conversa com A BOLA, começa por contar história do primeiro adversário dos encarnados, dia 16, o Boca Juniors. «O Benfica fez dois jogos com o Boca, em São Francisco e Los Angeles. Num deles, os argentinos usaram três laterais-direitos! Partir aquilo tudo! O primeiro desistiu aos 30 minutos, o segundo disse que estava na tropa e não estava bem fisicamente... foi de tal maneira, isto em 1967, que o presidente do Boca veio a Portugal tentar contratar-me. Pagavam 7.500 contos, era uma fortuna. Ofereciam-me 100 dólares por ano. Tentei tudo, mas não me deixaram ir», recorda Simões que destaca um novo encontro de «dois clubes épicos», entre os «dez mais famosos do mundo».

A experiência nos EUA deu a Simões a convicção que a «FIFA e os maiores clubes, com Real Madrid, Manchester United, Barcelona, Bayern» não iriam perder a oportunidade e que «iria nascer um Mundial de Clubes». «Gera muito dinheiro, com a TV associada. Nos EUA, percebi que qualquer organização desportiva, além da paixão, tem a componente negócio, há muitos anos. Há 50 anos vi coisas que iriam aparecer na Europa, era inevitável», conta.

«Equipamentos alternativos, áreas comerciais, nomes das camisolas, o mesmo número sempre», tudo isto já existia na década de 70 nos states. «Em 1975, eu e o Eusébio chegámos para jogar a Boston e no balneário tínhamos as camisolas penduradas, viradas de costas, com os nomes e números: Eusébio, 10; Simões, o 11. Achámos um espetáculo», recorda, assim como lembra estádios cheios, já com 50/60 mil pessoas «em todos os jogos».

A «curiosidade» dos norte-americanos pelo futebol, e pelo negócio emergente aumentou, acredita António Simões, quado Pelé Cosmos e o jornal NY Times fez capa disso. «Pelé por 4 anos e 7 milhões de dólares; a sociedade americana despertou. Contrataram vários grandes jogadores, mas não deu certo e houve um interregno. Os EUA começaram a investir na formação, nos quadros técnicos e em treinadores, que viajaram para Alemanha, Inglaterra, Holanda, e tiraram cursos. Formaram clubes e o impulso do jogador norte-americano deu-se. Levaram 20 anos, mas hoje têm equipas em todos os escalões de seleções, estão presentes nos campeonatos do mundo, de homens e mulheres, e têm uma Liga já muito competitiva», avalia.

Olhando para o Mundial de Clubes, e para o Mundial-2026, que os EUA organizará em conjunto com Canadá e México, António Simões não tem dúvidas: «O dinheiro para estes eventos está nos EUA. E o potencial é enorme. Qualquer universidade ou clube tem obrigatoriamente de ter um estádio, uma academia.»

A cultura desportiva

Simões recorda bem os «piqueniques» antes de todos os jogos, a «mobilização» e o «incentivo» para as famílias nos jogos de futebol nos EUA. «Qualquer jogo era um evento, um espetáculo e entretenimento, mantendo a qualidade do desporto como prioridade», recorda, lamentando o que, por oposição, se observa no futebol português: «Lá existe cultura desportiva, aqui é clubista. As pessoas querem ver a equipa delas ganhar e odeiam a outra, nem olham para ela. A rivalidade é bem-vinda, mas o que temos de fazer é eliminar a violência verbal, a começar pelos dirigentes. O momento antagônico são 90 minutos, depois os clubes são parceiros, vendem o mesmo produto, um produto de que eles próprios falam mal. Está tudo errado.»

«Di María quer terminar na sala de estar dele»
O extremo joga o Mundial de Clubes e depois voltará à Argentina, para o Rosario Central. Fará sentido o Benfica levá-lo aos EUA? Uma vez que não está nos planos para a nova época? «Teria sido interessante que não se soubesse o futuro dele até terminar a competição. Mas, tendo contrato, não vejo porque não o deva fazer. Faz sentido que vá e jogue. E depois volta a casa. Di María quer terminar a carreira em casa, na sala de estar dele, que é o Rosario», diz António Simões. Sobre a aposta na continuidade de Bruno Lage a treinador... «É conhecedor, educado, respeitados. Por vezes deveria ser mais contundente. As conquistas têm muito peso no futebol, teremos de avaliar a margem de tolerância dos adeptos para com ele», observa.

Que esperar das águias?

António Simões tem poucas dúvidas da importância do Mundial de Clubes e do que deve motivar o Benfica na competição. «É uma oportunidade de confirmar prestígio e história, de ganhar ainda mais identidade. O Benfica tem de aproveitar bem esta oportunidade. Até para proporcionar uma alegria, depois de uma época que não correu bem», lembra.

O fator negócio, a expansão do nome Benfica está também em causa, reconhece António Simões, que vê nisso mais uma razão para a equipa não fazer má figura. «É uma oportunidade de mostrar mais o Benfica. Não pode achar-se que por abrir uma loja se está na América, não é assim. O Manchester United está lá, o Real Madrid, o Arsenal também, mas o Benfica tem aparecer e ganhar. Se não ganhar e der uma boa resposta, as pessoas ligam com maior dificuldade. O Benfica tem de ser conhecido não apenas onde há emigrantes, mas noutros estados também», aponta. Simões sabe do que fala e deseja um Benfica consciente da realidade que o espera.

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