Benfica: o trabalho por trás do ano de maior sucesso da formação
Inédito. Nunca o Benfica fora campeão nacional de iniciados, juvenis e juniores na mesma época - até 2024/25, para além de ter ganho também a Taça Revelação, o primeiro troféu do escalão sub-23 para o clube. Conquistas que, para Bruno Maruta, acima de tudo, «significam o materializar daquilo que é um projeto de formação de jovens jogadores altamente qualificados».
Diretor do Futebol de Formação do Benfica desde 2018, Bruno Maruta soma mais de 20 anos de casa e não tem dúvidas que «o futebol de formação tem como missão principal preparar os jovens jogadores para jogarem na sua equipa principal. E nesta época houve a oportunidade de vencer os três campeonatos nacionais de futebol de formação em Portugal». Apesar de esse não ser o objetivo principal.
No Benfica, aplica-se «uma estratégia de colocação de jogadores em patamares de performance ajustados ao seu nível»: «Para nós é um indicador claro de que o nosso objetivo principal não é ganhar os campeonatos. Porque senão teríamos gerido as coisas de outra maneira e teríamos tido outra componente.»
Foi assim que o Benfica foi campeão de juniores «com uma equipa maioritariamente de jovens que estão ainda no seu primeiro ano de júnior, alguns atletas com idade de juvenil e poucos jogadores de segundo ano». O Benfica também ganhou a Taça Revelação, no escalão de sub-23, com uma equipa «que era constituída em 80% ou 90% por jovens que pertenciam ao escalão de júnior».
É ao colocar os jovens fora da zona de conforto, promovendo a subida de escalões desde uma idade prematura, que muitos deles estão aptos a competirem no escalão acima do da sua idade.
«As vitórias, tal como aconteceu na época que agora finda, são uma consequência natural de um trabalho qualificado, são uma consequência natural da qualidade dos jovens jogadores que temos no futebol de formação do Benfica. E acho que é uma consequência do trabalho qualificado que o clube faz com profissionais extremamente competentes e comprometidos. Não há segredo nenhum. O segredo é muito trabalho, muita convicção, muita competência e muito compromisso», delineia.
Impacto na equipa principal
António Silva, Tomás Araújo, Florentino e Renato Sanches foram os únicos jogadores formados no Benfica que, em 2024/25, tiveram o seu espaço na equipa principal (à frente de jogadores como Samuel Soares ou Leandro Santos). «Se pudéssemos, jogávamos com 11 jogadores da formação», atira Bruno Maruta, «mas essa não é a realidade do Benfica nem de nenhum clube do mundo».
Isto porque só a qualidade do jogador dita a sua utilização: «Podemos concluir que esses quatro nomes, em 2024/25, foram claramente os jogadores que foram formados no Benfica que tiveram um nível superior e tiveram maior capacidade de resposta. Por isso é que eles tiverem mais volume de jogo.»
E singrando um jogador formado no Seixal na equipa A encarnada, o sucesso do trabalho da Academia está assegurado, ou continua com cada taça que um jogador como João Neves ou Gonçalo Ramos alcança longe da Luz?
«No universo Benfica, seguramente não há nenhum benfiquista que não tenha ficado orgulhoso de ver um jovem como o João Neves a ter os desempenhos que teve na equipa profissional do Benfica. É evidente que, saindo o João Neves do Benfica, ou o Gonçalo Ramos, não lhe vou dizer que seja indiferente para nós que o PSG tenha sido campeão europeu. É um orgulho também muito grande. É o topo do topo. E ver dois jovens como o Gonçalo e o João naquele patamar é um reconhecimento também do nosso trabalho, é evidente», aponta Maruta.
Então, com esta conquista do futebol de formação, será possível vermos mais talentos da academia com a equipa principal? «Uma coisa muito importante no futebol é que não há receitas», diz Maruta.
«Nós não trabalhamos em primeira instância com jogadores. Trabalhamos com homens, alguns deles ainda adolescentes. E as questões da gestão das expectativas são determinantes para nós e também estão em cima da mesa quando nós tomamos decisões, sempre baseada num princípio: aquilo que é o melhor para o clube é a mesma coisa que é o melhor para o jogador. Eles não são todos iguais, não há receitas. São seres humanos diferentes, jogadores diferentes. Portanto, têm necessidades distintas.»
Há mais títulos para ganhar
«A evolução do futebol de formação do Benfica sido extraordinária» nos últimos anos, graças «à quantidade e qualidade de atletas que chegam à equipa principal», mas também devido àqueles que, «não tendo a capacidade de resposta que é exigida ao futebol profissional do Benfica», «conseguem ser profissionais noutros contextos e fazer boas carreiras, também é um indicador brutal». Deste modo, como é que a formação do Benfica pode melhorar?
«Nós sabemos algumas coisas, mas não sabemos tudo», afirma Maruta, que acrescenta: «Há sempre coisas que são para melhorar. Todas as épocas fazemos um balanço para podermos identificar aquilo que são as áreas de melhoria e aquilo que ainda temos e que conseguimos fazer mais e melhor e acho que tem sido uma das chaves do nosso crescimento.»
«No dia em que nós pensarmos que já sabemos tudo e que fazemos as coisas todas bem feitas, não vamos continuar a evoluir. E esse não é todo o nosso objetivo», remata.