Vítor Vinha com a Taça Revelação (Foto: SL Benfica)

Vítor Vinha: «Treino os sub-23, mas acabo por gerir três, quatro plantéis»

Na primeira época no Benfica, Vítor Vinha liderou a equipa de sub-23 e ganhou o primeiro troféu deste escalão na história do clube, a Taça Revelação. Como jogador aprendeu com Vítor Oliveira e Nelo Vingada, antes de projetar a carreira atual inspirado em Pep Guardiola e Luis Enrique, com o desejo de chegar à Champions League

— Como é que deu um cunho pessoal à equipa de sub-23 do Benfica?

— Fomos sempre passando uma mensagem aos nossos jogadores numa lógica de evolução, de crescimento, de preparação para o patamar a seguir, que é a equipa B e depois a equipa principal. Fomos crescendo ao longo da época, sobretudo mentalmente ao nível da estabilidade dentro dos jogos e dentro daquilo que eram as nossas ideias de jogo, de jogar ao ataque, de querer marcar o maior número de golos em todos os jogos, de ser pressionantes, de recuperarmos rapidamente a bola para atacarmos novamente. Os jogadores foram evoluindo e a partir do momento em que todo este crescimento se alinhou, nós fomos muito mais consistentes e conseguimos uma reta final do campeonato muito forte e depois, obviamente, a Taça de Revelação, eu penso que foi praticamente imaculada.

— Utilizou 42 jogadores ao longo da época, com muitos deles a saltarem entre os sub-23, os juniores, equipa B e equipa A. Como faz essa gestão?

— Esse é se calhar o grande mérito que nós tivemos enquanto equipa técnica, enquanto toda a gente que esteve envolvida no nosso escalão e que conhece esta oscilação dos jogadores. Eu sou treinador dos sub-23, mas acabo por gerir três, quatro plantéis. Conhecendo o projeto, o foco só podia ser as soluções. Não tenho este grupo fechado, a qualquer momento posso ter um jogador que é necessário jogar para preparar mais à frente para a equipa B ou para a equipa principal ou é necessário nos sub-19 porque terá um jogo importante. Nós acabamos por ser uma equipa de suporte destas três equipas, mas que também tem de crescer e de apresentar resultados.

Enquanto adjunto tive a sorte de trabalhar com bons treinadores, com os quais também bebi muitas ideias.

— Será o treinador dos sub-23 do Benfica na próxima época?

— O clube, a seu tempo, irá divulgar aquilo que será o futuro. Mas este ano foi fantástico, o futuro a Deus pertence e iremos em breve saber as novidades.

— Que jogadores com os quais trabalhou acha que estão prontos para, pelo menos, integrarem os treinos da equipa principal na próxima época?

— Muito me orgulha que o Gonçalo Oliveira, por exemplo, que foi um dos jogadores mais utilizados nesta época por nós, fosse com a equipa principal ao Mundial de Clubes. Mas o nosso objetivo é preparar todos eles para a equipa principal, para a equipa B e para aquilo que é a sua evolução dentro e fora do Benfica.

— Que treinadores mais o inspiraram quando foi jogador?

— Tive a sorte de ter grandes treinadores. Gostava muito de destacar Vítor Oliveira, o rei das subidas, que tinha uma relação humana fantástica com todos os jogadores e uma exigência também muito grande. O professor Nelo Vingada foi espetacular em termos de relação humana. E depois Daniel Ramos, Domingos Paciência, Paulo Alves, tive muitos treinadores que me foram ensinando algumas coisas e depois também fui desenvolvendo as minhas ideias, inspirado nos meus ídolos enquanto treinadores. 

Vítor Vinha (Foto: SL Benfica)

— Que ídolos são esses?

— Identifico-me muito com Pep Guardiola, Mikel Arteta, Luis Enrique, com esta escola de futebol ofensivo. São treinadores que estudo muito e todos contribuem para o treinador que sou hoje.

— Achei curioso que ao mencionar esses treinadores tenha destacado o seu lado humano. Também tenta ter isso presente, se calhar até acima do lado técnico-tático do jogador?

— Sim, porque nós lidamos com jovens jogadores, nós somos todas pessoas. Sempre fui um jogador que contribuiu para o bom funcionamento do grupo e tenho por base isso mesmo, que um grupo que funcione bem vai conseguir dar uma boa resposta na competição, no treino. Gosto de ser alguém próximo dos jogadores, por ter tido este passado como jogador, que percebe o que estão a sentir, quando é que precisam de uma chamada de atenção mais forte, ou quando precisam de um incentivo, de um elogio.

Identifico-me muito com Pep Guardiola, Mikel Arteta e Luis Enrique.

— Antes de vires para o Benfica foste adjunto de Luís Freire no Rio Ave, como foi essa experiência?

— Enquanto adjunto tive a sorte de trabalhar com bons treinadores, com os quais também bebi muitas ideias, o míster Ivo Vieira, Ricardo Soares e o míster Luís Freire, alguém com quem me identifiquei muito. Foi alguém que me fez ver o futebol também naquilo que era a preparação dos jogos, naquilo que era o treino, o trabalhar em função de uma ideia de jogo, em função daquilo que seria o próximo adversário também. Aprendi com todos eles, fui bebendo daquilo que eu achava que era essencial, aquilo que eu mais gostava, aquilo que eu não gostava tanto, não ficou comigo.

— Está pronto para ser treinador principal no escalão de seniores?

— De alguma maneira sim. Gostaria de chegar a voos elevados, de disputar a Champions League, mas não tenho pressa em lá chegar. Quero dar passos seguros, tenho feito isso mesmo. Adoro o contexto de sub-23, permite-me experimentar muitas situações, evoluir, e todos os passos que eu darei serão nesse sentido de chegar ao topo, mas não quero lá chegar e voltar para trás, quero lá chegar e manter-me.

— Por fim, como estamos todos aqui porque adoramos futebol, qual é a memória mais antiga que tens deste desporto?

—  Eu tive a sorte de ainda jogar futebol na rua, de estar na estrada onde passavam os carros e de ter duas balizas com pedras e jogar com os meus amigos ainda com oito anos, nove anos, dez anos. Só depois veio o futebol federado, depois o profissional e ao longo do tempo fui desenvolvendo esta paixão pelo jogo. Por ter uma ideia enquanto treinador e trabalhá-la, vê-la acontecer dentro de campo, os jogadores comprarem essa ideia, gostarem dessa ideia, valorizarem-se com estas ideias, e, portanto, estas são as minhas memórias. É esta paixão pelo jogo que nos faz estar no futebol, porque o futebol é fantástico, é diferente, é um campo de emoções e este campo de emoções creio que não se vive em mal lado nenhum, portanto é fantástico.