Assim nasce um gigante português na Liga Conferência! (crónica)
João Mendes abriu caminho para mais uma grande noite europeia do Vitória (IMAGO)

St. Gallen-V. Guimarães, 1-4 Assim nasce um gigante português na Liga Conferência! (crónica)

NACIONAL12.12.202422:28

Mais uma grande noite europeia de um Vitória mais forte em toda a linha. Competente, adulto, com futebol sedutor e atraente. 30 remates, quatro golos, uma equipa de autor que nesta prova só está atrás do poderoso Chelsea

Vitória em toda a linha. De uma equipa madura, organizada, de processos (muito bem) trabalhados e que dispensa atalhos para ser feliz. Fiel à sua identidade e que mantém o nível exibicional sejam quais forem os seus intérpretes e adversários. Em poucas palavras se carateriza esta equipa de Rui Borges, versão 2024/2025, que hoje, na Suíça, voltou a provar a razão pela qual é uma das melhores equipas, um dos gigantes, desta Liga Conferência. Ganhou, ganhou bem, por esclarecedores 4-1, e os números, pasme-se, até pecam por escassos.

E se toda a conquista começa (pelo menos…) na decisão de tentar, o Vitória cumpriu esse desígnio na perfeição. E porquê? Desde logo porque nem precisava de acelerar muito. A passagem, pelo menos ao playoff, já estava selada, e até poderia abordar esta partida de forma mais pragmática e conservadora. Não o fez, tentou ser feliz e foi premiado. Mas também poderia jogar pelo seguro e… segurar uma vantagem alcançada na etapa inicial. Não o fez, tentou ser feliz e (também) foi premiado. Com mais três golos.

O que se assistiu ontem, depois de (mais) uma rotação no onze nesta prova – saíram Tomás Handel, Jorge Fernandes, Samu e Kaio César em relação ao último jogo com o Benfica – foi uma equipa confortável, não só na classificação mas também no jogo. Com uma entrada eletrizante, dinâmica ofensiva de pura beleza técnica, que colocou em sentido um adversário ambicioso, verdade, mas frágil em termos defensivos. Sobretudo quando pela frente teve um Vitória astuto e audaz e que faz do coletivo a sua maior força.

E se alguém ainda desconfiava da qualidade, consistência e organização deste Vitória é só passar os olhos pelos golos. Fantásticos. Uma espécie de ‘tiki-taka’ vimaranense, de puro envolvimento coletivo, processos simples, objetivos e eficazes. O primeiro, da autoria de João Mendes, que até finalizou com alguma felicidade, é certo, terminou num desenho que envolveu seis jogadores, que a um/dois toques, colocaram a bola na área até ao cruzamento perfeito de Nuno Santos. Uma jogada em piloto automático, a dar vantagem mais do que justa na primeira parte. Uma etapa inicial quase perfeita não fossem os dois minutos (16’ e 17’) em que o St. Gallen ameaçou verdadeiramente a baliza de Bruno Varela nas quais brilhou com duas defesas gigantes a Witzig.

O ritmo na segunda parte caiu, é verdade, mas desengane-se quem pense que o Vitória se encostaria à vantagem. Não perdeu o critério e, destemido, foi para cima do St. Gallen, que foi incapaz de travar a brilhante jogada coletiva que originou o golo de Gustavo Silva. Com menos protagonistas do que o primeiro, mas veloz e muito eficaz - Manu Silva lança Nuno Santos (que noite!) na esquerda e este com um cruzamento rasteiro perfeito assistiu o brasileiro que atirou de primeira. Estava feito o segundo e (parte) da missão cumprida. Só aqui, neste curto período, o Vitória tirou o pé do acelerador. Procurando uma gestão mais cautelosa. Mas esse não é o ADN desta equipa que foi punida com um golo numa das raras (quase única) desatenção do setor defensivo do Vitória com o golo de Csoboth que fugiu nas costas de Alberto Baio a corresponder a cruzamento.

Vitória foi rei e senhor de um jogo com nota artística na Suíça (IMAGO)

Seria a hora de um maior encolhimento da equipa de Rui Borges? Não. Pelo contrário. Depressa mostrou que esse momento menos feliz não passou disso mesmo. Rui Borges foi ao banco buscar sangue novo e este, mais fresco, selou uma das noites europeias mais brilhantes dos vimaranenses. Alberto Baio redimiu-se com um golo, após transição supersónica de Kaio César e já no suspiro final foi Samu a empurrar após uma primeira tentativa de José Bica. Todos eles saídos do banco. Foram quatro golos, podiam ter sido mais (30 remates, 16 enquadrados com a baliza), com selo de qualidade. O Vitória continua a encantar a Europa, só está atrás do poderoso Chelsea, e pode sonhar. Com tudo.