15 maio 2025, 22:50
Mafra despede-se da Liga 2 com triunfo de consolação
Mafrenses não evitam despromoção à Liga 3 nem o último posto da classificação, mas terminam o campeonato com uma vitória no dérbi do Oeste, ante o Torreense
Após terminar a passagem pelo Mafra, clube onde chegou no passado mês de fevereiro, treinador abre o coração a A BOLA. As muitas contrariedades ao longo do curto período estiveram na génese da descida à Liga 3, mas sobram elogios à atitude dos jogadores e dos responsáveis do emblema do Oeste. As recordações dos vários momentos de uma carreira que já leva 20 anos e a garantia de que está preparado para projetos que o desafiem
— Terminou recentemente a sua passagem pelo Mafra. Apesar da descida de divisão, o que guardou da experiência?
— O desfecho não foi o que todos pretendíamos, naturalmente, já que uma descida de divisão é sempre algo indesejado. Mas saio com a consciência de que tudo fizemos, a equipa bateu-se bem e foi superior a vários adversários, nomeadamente alguns que até subiram de divisão. Mas tivemos bastantes contrariedades, como lesões, maioritariamente traumáticas, de jogadores importantes e mais experientes, casos do Gui Ferreira, do Pontus Texel, do Bryan Passi, do Diogo Capitão, do Lucas Gabriel, do Rodrigo Freitas, do Nibe, do Maiga… Se assim não fosse, não tenho dúvidas de que teríamos conseguido a permanência. Estamos a falar de jogadores que acrescentavam muito à equipa. E a verdade é que quando os tivemos a equipa reagiu sempre muito bem e ganhou jogos. Acabámos por ter de recorrer a vários jogadores dos sub-23, que têm talento, mas que ainda não estavam prontos para esta realidade competitiva. E essa fatura acaba sempre por se pagar.
15 maio 2025, 22:50
Mafrenses não evitam despromoção à Liga 3 nem o último posto da classificação, mas terminam o campeonato com uma vitória no dérbi do Oeste, ante o Torreense
— Chegar já no mês de fevereiro e sem poder retocar o plantel foi, também, uma condicionante?
— Claramente. Cheguei exatamente no último dia do mercado de transferências. Ainda tentámos, eu e a administração, fazer algum retoque, mas acabou por não ser possível. Mas volto a dizer de que assumir este projeto com consciência. Se não tivéssemos tido as contrariedades que já referi, conseguiríamos a permanência. Já de si foi ingrato, por questões temporais, não ir ao mercado tentar garantir um ou outro jogador que nos acrescentasse, e depois ainda tivemos as tais infelicidades com as lesões.
— Quando entrou a equipa estava numa espiral negativa de seis jogos sem vencer. Além das questões estratégicas, foi também um trabalho psicológico com os jogadores?
— Esse trabalho está sempre inerente à nossa profissão. Ainda para mais entrando num projeto a meio, numa equipa com jogadores muito jovens e de várias nacionalidades. Mas a equipa reagiu muito bem. Empatámos logo com o Chaves, um jogo em que tivemos oportunidades declaradas para ganhar, e no encontro seguinte perdemos em Tondela com um golo de penálti. Aliás, fiz 14 jogos, mas ao 11.º já tínhamos nove penáltis contra… Os meus primeiros quatro jogos foram contra Chaves, Tondela, Vizela e Alverca. Ou seja, as duas que subiram, a que foi ao play-off e outro candidato. Isso tornou tudo muito difícil, mas a equipa lutou sempre, com postura e atitude. E por isso é que fomos superiores em bastantes jogos, criando muitas oportunidades de golo. Mas depois entra a tal questão da ansiedade. O que retira clareza e serenidade para definir no último momento.
— Sente que com mais algum tempo teria conseguido manter o Mafra na Liga 2?
— Fico com essa sensação, sem dúvida nenhuma. Lá está, com o grupo em pleno teríamos conseguido de certeza. Quando alguns deles voltaram ao lote dos disponíveis, ganhámos jogos. Mas depois voltámos a ter indisponíveis e nunca foi possível dar consistência a um onze, algo que tornou as coisas muito mais complicadas.
19 maio 2025, 16:03
Paulo Alves assumiu o cargo em fevereiro, mas não conseguiu tirar os mafrenses da zona de descida
— Olhando ao seu futuro, qual será o próximo desafio? Em Portugal ou no estrangeiro?
— Estou aberto a todas as possibilidades. Têm surgido algumas situações, nomeadamente do estrangeiro, mas quero, sobretudo, escolher bem, sem pressões, para que possa voltar ao nível que mereço e em que tenho competência para estar.
— Que balanço faz da sua já longa carreira de treinador?
— É uma carreira que tem tido momentos extraordinários e outros menos bons, como é natural em todos os treinadores. Comecei um pouco aos trambolhões, com a permanência do Gil Vicente na Liga alcançada na última jornada, mas o clube acabou por ser despromovido na secretaria. Sinto orgulho no percurso que tenho vindo a fazer, demonstrei sempre competência em todos os projetos. Quando tive mais estabilidade acabei sempre por ter sucesso.
— Enquanto jogador conseguiu realizar um trajeto de grande nível, em clubes de elevada dimensão e também na Seleção Nacional. Que sonhos ainda tem enquanto técnico?
— Não sou muito de sonhos, sinceramente. Sou bastante mais pragmático. Acredito que tenho competência para poder conquistar algo. Será sempre dentro da minha forma de ser e de estar, tal como foi enquanto jogador. E sertá também sempre com muita seriedade e responsabilidade, pensando pela minha cabeça, algo de que eu não abdico. Acredito que ainda vou chegar a muito lado…
Nascido em Vila Real, Paulo Lourenço Martins Alves, atualmente com 55 anos de idade, desde muito cedo esteve ligado ao futebol. Foi um ponta de lança de grande nível, construiu uma carreira extremamente relevante enquanto jogado e abraçou, depois, a vida de treinador, também com sucesso.
Ao longo das últimas duas décadas tem corrido mundo, com trabalhos em Portugal, no Irão, na Arábia Saudita e em Espanha, mas há dois momentos de extrema notoriedade, como foram as subidas de divisão ao serviço de Gil Vicente (2010/2011) e Moreirense (2022/2023). Algo que não esquece.
«Absolutamente marcantes, No Gil Vicente fizemo-lo quase sem dinheiro, na altura com o presidente [António] Fiúza, e onde todos fizemos das tripas coração. Depois também fizemos uma boa época na Liga e fomos à final da Taça da Liga com o Benfica, que perdemos por uma unha-negra e que ainda hoje me dói. Equivalemo-nos ao Benfica do Jorge Jesus, que era uma grande equipa. No Moreirense, e já com outro tipo de orçamento, fizemos uma boa equipa e subimos sem mácula», recordou, sem esquecer as passagens por Penafiel e Varzim.
Olhando para a frente, fica a promessa: «Vamos tentar que essas situações possam voltar a acontecer.»