A nova vida de Arthur Cabral no Benfica

Arthur Cabral continua a viver as emoções da vitória de quarta-feira, frente ao SC Braga, por 3-2, que qualificou os encarnados para os quartos de final da Taça de Portugal. O ponta de lança brasileiro foi a grande figura desse desafio — marcou um bom golo e fez uma assistência deliciosa, de calcanhar, para Fredrik Aursnes marcar outro — e confirmou a subida de forma que já vinha mostrando em jogos anteriores. 

Logo no final desse jogo, Arthur Cabral admitiu que esta foi a «melhor exibição» dele desde que chegou , admitindo um «começo difícil», mas defendendo que «nunca» se sentiu «desamparado» e que apenas precisava de tempo» para se adaptar. Mais tarde, recorreu às redes sociais para sublinhar o seu estado de espírito. «Uma noite mais do que especial para mim e para todos os benfiquistas na Luz. Grande vitória, que nos leva aos quatros [de final]. Muito feliz! Vamos, Benfica!», escreveu o avançado no Instagram. 

Esta é realmente uma fase brilhante para Cabral, depois de um início de temporada em que foi muito criticado, em que fez más exibições e viu-se, até, envolvido em episódio polémico — na garagem do Estádio da Luz, foi filmado a fazer um gesto obsceno na direção dos adeptos, depois de um 1-1 contra o Farense, para o campeonato —, o que agravou a desilusão dos benfiquistas com este jogador que foi contratado (à Fiorentina) para substituir Gonçalo Ramos e custou €20 milhões, mais €5 milhões possíveis em bónus por objetivos. 

Agora, o atacante brasileiro é titular há três jogos seguidos (Famalicão, Arouca e SC Braga), pela primeira vez no clube. Marcou dois golos nos últimos três jogos (ao Famalicão e ao SCBraga) e já soma cinco golos e uma assistência em 21 jogos. Está a fazer, portanto, uma primeira época no Benfica melhor do que fez quando, em 2021/2022, se mudou do Basileia para a Fiorentina — dois golos e duas assistências em 17 jogos; mas aqui transferiu-se só a meio da época. Está, igualmente, a revelar-se importante em momentos-chave. Entrou aos 90 minutos da partida da Champions na Áustria em Salzburgo, e marcou de calcanhar o último golo (3-1), que valeu a qualificação das águias para a Liga Europa. Anteontem, frente ao SC Braga, foi determinante para a continuidade das águias na Taça de Portugal. 

O golo que Arthur Cabral marcou em Salzburgo já demonstrara os traços de personalidade forte que ajudaram o Benfica a decidir-se pela contratação. Esse lance surgiu dias depois do episódio na garagem da Luz e ajudou-o a fazer as pazes com os adeptos. A partir dessa altura, sempre apoiado na família e escudado num estilo de vida recatado, o ponta de lança foi subindo de produção de jogo para jogo e fez por merecer a confiança do treinador alemão Roger Schmidt. «Vimos como é o futebol, não é? O Arthur não teve o melhor início do Benfica, mas estou muito feliz por ele. É um ótimo rapaz, um bom jogador e trabalhou muito nos últimos vezes. Também sofreu um pouco com a sua forma e por não conseguir mostrar que é um número 9 para o Benfica. Mas nos últimos jogos esteve bem e hoje, no nosso estádio contra um bom adversário e num momento muito importante, mostrou a sua qualidade e fez um jogo de topo. Não só pelo jogo e pela assistência, mas integrou-se também muito bem no jogo e esteve ligado aos colegas. Apareceu nos momentos e espaços certos. Por vezes um jogador precisa de algum tempo quando chega a um novo clube. Ele mostrou que foi uma boa contratação do Benfica», analisou o treinador alemão dos encarnados depois do jogo com o SC Braga.  

Com o SC Braga, Arthur Cabral não se conteve e festejou efusivamente com os adeptos, na bancada; e no final da partida mostrou-se emocionado com a ovação que recebeu desde as bancadas da Luz. Mas o brasileiro, conta quem o conhece melhor, é muito contido a revelar as suas emoções. Não costuma ser expansivo nos bons momentos, mas também não desanima nas fases más.

O surgimento do melhor Arthur Cabral dá-se em pleno mercado de janeiro, em que o Benfica contratou outro ponta de lança de peso: Marcos Leonardo, jovem de 20 anos por quem os encarnados pagaram €18 milhões ao Santos — assinou por cinco anos e ficou com uma cláusula milionária de €150 milhões! A concorrência poderá ter espicaçado mais um pouco Arthur Cabral. «Não sei. O Arthur já teve bons desempenhos nos últimos jogos. Não me parece que essa seja a razão principal. Mas os jogadores são humanos e todos nós por vezes precisamos de sentir concorrência, não é má», comentou Schmidt, que, tudo indica, terá dores de cabeça para futuramente definir a hierarquia dos ponta de lança. 

Na equação, recorde-se, ainda entram Tengstedt e Musa. Mas o primeiro está lesionado e deve regressar à competição só em fevereiro e o segundo pode sair este mês: tem os italianos do Bolonha e os alemães do Union Berlim como potenciais destinos. Nada está ainda fechado, mas é seguro que Schmidt não ficará a trabalhar com quatro jogadores para a mesma posição.