Tiago Moutinho recorda a passagem pelo Sporting, como adjunto de Sá Pinto, que contou com uma meia-final da Liga Europa com o Athletic Bilbao e a final da Taça com a Académica
- Achas que o Sporting foi aquele encontro falhado com a história, por causa daquela meia-final? Não te vou perguntar se gostarias de jogar novamente esse jogo, porque já falaste que foi muito difícil perceber o que é que vinha do outro lado, do lado do Bielsa, mas achas que a tua carreira poderia ter sido de certa forma diferente se tivesse havido uma final ou até uma vitória na Europa?
- Repara numa coisa: quando vou para o Sporting, para os sub-19 primeiro, tinha estado no Valonguense, na segunda distrital, igualmente sub-19.
- Sim, há choque também aí.
- Sim. Mal seria se não me sentisse agora mais bem preparado para o Sporting do que estava na altura. Foi uma primeira experiência… No Sporting, costumo dizer que tínhamos uma geração fantástica nos Sub-19, que foi campeã nacional. Lembro-me do Esgaio, do Tiago Ilori, Rúben Semedo, Tobias Figueiredo, Edgar Iê, Mica Pinto, João Mário, João Carlos Teixeira, Iuri, Mané, Bruma, Betinho... Quando passámos aos seniores, o Abel já andava a ver os nossos treinos e surgiu aí a ligação que ainda tenho com ele… Porque quando vamos para a equipa A, estamos ali numa reunião e perguntamo-nos «E agora, quem treina a equipa B?». «Treina o Abel, porque não o Abel?» E o Abel começou a treinar assim. Lembro-me perfeitamente que subimos à equipa A no dia 14 de fevereiro, dia dos namorados. E, no dia 17, tínhamos já os oitavos de final da Liga Europa fora, com o Legia de Varsóvia. E claro, para mim, chegar lá e ver jogadores como o Polga, campeão do mundo, o Rui Patrício, o próprio João Pereira, o Izmailov, o Matías Fernández… Tantos jogadores com tanta qualidade… É sempre um choque. É certo que na Liga Europa fomos fazendo excelentes resultados. Depois do Legia veio o Manchester City, que creio que eliminou o FC Porto, já não sei se 6-0, 4-0 mais 2-0, tenho a ideia de que foi 6-0 [6-1 no agregado, depois de 1-2 no Dragão e 4-0 em Inglaterra]… E o Manchester City tinha, como agora, uma equipa de milhões… Vencemos com o golo do Xandão. E depois lá o jogo foi muito bem preparado. Vamos para o intervalo a vencer 2-0, acabamos por perder, mas lembro-me de chegar ao aeroporto de Lisboa e termos 5 mil pessoas à espera. Não me recordo de, ultimamente, algum clube chegar com tanta gente à espera em Portugal. Houve ali uma altura em que estávamos muito mais focados na Liga Europa e as coisas foram acontecendo. E depois, claro, tenho a ideia de que... É o último golo o do Llorente, creio, aos 90 minutos. Faz o 3-1 e saímos. Foi o azar de ser no final. Tenho a ideia de que o jogo cá… Lembro-me sempre do lance do Carrillo, o André Carrillo, que não dá golo por muito pouco e iríamos com 3-1 para a segunda mão em Bilbau. Foi um jogo muito bem conseguido. Estamos a perder 1-0, mas conseguimos fazer o 2-1 e podíamos ter feito outro. Foi pena. E tenho a ideia que sim. Tenho a ideia de que se vamos a uma final… E depois também, em 15, 20 dias perdemos o Sporting, perdemos a possibilidade de ir à final da Liga Europa, que seria brutal, e a Taça de Portugal para a Académica. Creio que se esses dois jogos tivessem sido positivos, se tivéssemos vencido esses dois jogos, a minha carreira teria sido diferente. Porque, depois, no ano seguinte, a derrota contra o Paulo Sousa, com o Videoton, na Liga Europa, acho que por 3-0, foi o último jogo que fizemos no Sporting.
Tiago Moutinho teve curta experiência no Al Hussein, ao serviço do qual teve pela frente dificuldades inesperadas, e está de regresso a Portugal, em busca de novo projeto. O treinador conta várias peripécias, entre as quais a do jogo que começou com muito atraso, porque havia duas equipas já em campo
- Que perspetivas tens para a tua carreira?
- Tenho tido alguns convites de Liga 3. Houve uma outra possibilidade de Liga 2, que depois não se concretizou. Também há poucas pessoas, tenho noção disso, que sabem que já não estou na Jordânia, mas sim em Portugal à procura de um projeto. Para Portugal ou fora. Um projeto também em que me sinta bem, em que exista um casamento perfeito, porque isso é importante. Alguns clubes têm feito um bom trabalho na procura de um perfil ideal para o seu plantel, para os objetivos do seu clube, e ainda acredito nisso, por muito que haja ainda muita gente que não acredita muito no mérito ou nessa mesma procura. Acredito e é por isso que luto, que trabalho e que gosto tanto de futebol. Porque acredito no mérito e que as pessoas ainda valorizam quem tem sucesso, quem trabalha bem. Que procurem o perfil do Tiago Moutinho, por exemplo, para um projeto. Por isso, à espera, seja aqui em Portugal ou fora. Agora é... desfrutar da família, que é importante, depois de ter estado algum tempo fora. Fazer de Uber Kids, levar as crianças à escola. Mas já sinto falta, claro. Do bichinho. Do dia a dia. Do treino. Da competição. Da relação com os jogadores. Do preparar o jogo. Isso está sempre cá dentro. E, portanto, já sinto falta disso. Portanto, à procura de um bom projeto.
Treinador explica decisão de não renovar com a Briosa para depois decidir de novo emigrar, desta vez para a Jordânia, aceitando o convite do campeão Al Hussein