A fórmula Farioli: mais intensidade e menos lesões
O mercado vai ocupar algum do tempo a Farioli enquanto não arranca o trabalho de campo, o que deverá acontecer na próxima semana. Os dragões ainda não confirmaram oficialmente a data do início de pré-temporada, mas depois do Mundial de Clubes os jogadores foram avisados para reter na cabeça o dia 9 deste mês, quarta-feira. Julho vai incluir ainda um estágio fora do País.
Tomando como exemplo a herança que o italiano recebeu no Ajax, absolutamente tenebrosa em matéria de rendimento, capacidade física dos jogadores e lesões, daí o 5.º lugar obtido em 2023/24 pelo gigante de Amesterdão, a primeira preocupação será a de avaliar a forma do grupo e desenhar um plano que permita ao FC Porto ter mais rendimento e intensidade em campo, mas menos lesões.
Na época passada, o FC Porto enfrentou alguns desafios relacionados com lesões, algo comum em equipas de topo. Marcano recuperava de uma lesão anterior, Grujic foi submetido a uma cirurgia ao tendão de Aquiles e Vasco Sousa fraturou o perónio, conseguindo ainda regressar a tempo do Mundial de Clubes. Diogo Costa, por sua vez, esteve ausente da prova intercontinental devido a problemas num adutor. Apesar de serem situações normais no contexto desportivo, a intensidade da equipa esteve aquém do habitual, apontando para uma área de melhoria crucial.
Por outro lado, o Ajax, sob a liderança de Farioli, enfrentou um cenário muito mais complexo. Antes da sua chegada, o clube neerlandês acumulava problemas físicos graves: em apenas três temporadas, registaram-se 171 lesões, das quais 34 resultaram em paragens superiores a dois meses. Em 2023/24, o Ajax ocupava a 18.ª posição no ranking de lesões graves, com 14 ocorrências, e apresentava um dos piores índices de quilómetros percorridos em campo, comparável a equipas em risco de descida.
Farioli, adepto da rotatividade, mas com um núcleo duro bem estabelecido, onde emergiam o incansável médio Kenneth Taylor (52 jogos, 3.383 minutos), o sólido defesa Jorrel Hato (50/4.186) e o irreverente Bertrand Traoré (49/2.222) implementou uma abordagem científica ao trabalho físico que trouxe resultados fantásticos. Na época 2024/25, houve uma redução de 71% nas lesões de longa duração e uma diminuição de 47% nas lesões musculares, mesmo com a equipa mais intensa e resistente, tanto na percentagem de sprints como na média de quilómetros percorridos em campo.
Apesar de a equipa ter perdido uma vantagem de nove pontos na fase final da temporada, a recuperação na segunda volta foi impressionante: nos primeiros 15 jogos da liga neerlandesa o Ajax tinha justamente esse atraso de nove pontos para o PSV. Os jogos decisivos na reta final foram marcados, não pelo cansaço, mas pelo peso da responsabilidade – talvez as oito bolas nos ferros nesse período também tenham ajudado - e pela ausência de acompanhamento psicológico adequado, num plantel ainda assombrado pelo histórico negativo do 5.º lugar.
Este último aspeto foi identificado por Farioli não como um azar, mas como uma falha estrutural do Ajax ao nível de gabinete de psicologia que impediu o clube de alcançar o título. Para o italiano, essa foi a pedra na engrenagem.