Vítor Matos: como o pensamento de um emigrante de luxo pode inspirar reflexão
Vítor Matos, treinador adjunto do Liverpool. Foto Imago/Action Pluz

Vítor Matos: como o pensamento de um emigrante de luxo pode inspirar reflexão

OPINIÃO08.01.202410:00

Direitos televisivos são importantes, mas a Educação será sempre a chave da evolução da sociedade, do País e do desporto.

São por demais conhecidas as diferenças estruturais entre a emigração portuguesa da segunda metade do século passado e a da primeira metade deste século.

Exportando, hoje, mão-de-obra altamente qualificada, Portugal exporta também pensamento. É gratificante fazer um ponto de situação desse conhecimento em trabalhos como a entrevista do meu colega Luís Mateus a Vítor Matos, adjunto de Jurgen Klopp num dos mais fascinantes clubes do Mundo, o Liverpool. Saiu na edição em papel da passada quinta-feira e está, obviamente, disponível no site de A BOLA. Se gosta de pensar futebol, está aí uma bela leitura para qualquer pausa de almoço durante a semana.

Feito o convite, detenho-me em três pontos abordados por Vítor Matos: 1) o facto de clubes dos escalões inferiores ingleses terem 5/10 mil pessoas nos estádios a cada fim de semana; 2) a necessidade de desenvolver REALMENTE o Desporto Escolar; 3) a noção de que assistir a um jogo de futebol ao vivo é uma experiência única que em muito ultrapassa as emoções do sofá ou da mesa de café.

Ao chamar a atenção para estes tópicos, o treinador-adjunto do Liverpool poderia perfeitamente estar a dizer algo muito claro: é preciso voltar a centrar a nossa atenção nas bases. Ou melhor - é preciso tentar, finalmente, olhar para as bases a fim de melhorar o futebol português.

Mesmo conhecendo o fluxo populacional do País, que preencheu parte do litoral e nele sobrelotou algumas áreas urbanas, permanece misterioso o facto de não existir, na esmagadora maioria das nossas capitais de distrito, um clube forte, capaz de agregar os cidadãos e de representar cada região. Esta questão está essencialmente nas mãos dos clubes, das associações distritais e das autarquias. Se dentro de 20 anos cidades como Castelo Branco, Guarda, Viseu, Évora, Portalegre, Coimbra -entre tantas mais das excluídas do mapa desportivo de primeira linha -tiverem clubes pujantes, amados e seguidos pelos adeptos, esse será um importantíssimo indicador de evolução.

Sabemos que Portugal paga a macrocefalia dos três grandes, mas talvez seja hora de colocar essa desculpa de lado. Era bom começar por ter, à frente dos outros clubes, alguém que seja apenas desse clube e não desse «e do Benfica, do Sporting ou do FC Porto».

Boa forma de criar sinergias locais para um objetivo destes seria através do Desporto Escolar. Projetos nos quais escolas e clubes se juntassem para divugação das modalidades, promoção do gosto pelosclubes da terra e consequente aproveitamento de talentos.

Indo às bases, não será complicado provar às pessoas que um jogo ao vivo será sempre uma experiência única. Levando crianças e jovens aos jogos, o sentimento pode ser cimentado ao longo das gerações seguintes.

A centralização dos direitos televisivos pode vir a ser um fator de reequilíbrio fundamental no xadrez do futebol nacional. Mas é preciso agir noutras áreas. Haverá melhor arma social que a Educação?