Uma jornada reveladora

OPINIÃO28.12.201803:13

A última jornada foi muito interessante. Jogavam entre si os seis primeiros classificados à altura. Primeiro, claro está, o brasão abençoado. A minha equipa está cansada. Não admira. Tem sido uma caminhada dura. Jogos em cima de jogos e sempre a um ritmo elevadíssimo. Vale-nos o espírito único desta equipa. Não há cansaço que faça com que os rapazes virem a cara à luta, não há mazela que lhes faça diminuir a entrega.

Contra a excelente equipa de Vila do Conde - que tem mais do que um jogador com lugar em qualquer um dos grandes portugueses - o FC Porto fez mais do que o suficiente para ganhar, e até por outros números. Lá está, o talento e a indómita atitude venceram o cansaço e o Rio Ave, que foi a nossa casa com real vontade de discutir o jogo. Mais uma vez tivemos de virar o resultado, mas como diz, e muito bem, o mister Conceição, a postura tem de ser sempre a de ir atrás de mais um golo, estejamos a perder, a empatar ou a ganhar. Assim foi.

A Taça da Liga é para ganhar, bem entendido, e vão entrar os jogadores que o mister Conceição acha que lhe dão garantias de poder ganhar o jogo sem comprometer o futuro próximo. Eu, no meu confortável lugar da bancada, diria que os melhores para vencer este jogo são os rapazes que têm jogado menos. Mas tenho um treinador que sabe infinitamente mais do que eu o que é melhor para a equipa.

Em Guimarães, a equipa menos bem apetrechada das seis ganhou de forma inequívoca ao Sporting. Como ninguém se encostou ao Bas Dost, a equipa de Alvalade nem uma oportunidade de golo teve. A mediocridade do jogo sportinguista foi evidente. Não me surpreende. Ainda não consegui perceber o entusiasmo com o Sporting. A meia dúzia de jogos que disputou sob o comando de Keizer ou foram com equipas fracas (a exceção foi o Rio Ave) ou houve erros de arbitragem que ajudaram, e muito, a equipa verde e branca. No mesmo sentido, são patentes as limitações do plantel.

Já o Vitória mostrou mais uma vez que é o quarto grande português. E esse facto não lhe vem de ter uma equipa que sabe jogar à bola, excelentemente orientada e que joga sempre olhos nos olhos com qualquer adversário. É ver o estádio cheio de sócios que são mesmo do Vitória e não prestam vassalagem a rigorosamente mais ninguém, é perceber que depois dos três grandes são eles que mais gente leva nas deslocações da equipa, é observar o fervor com que os seus adeptos vivem o clube para perceber que a grandeza de um clube é algo que vai muito para além das vitórias ou derrotas conjunturais. Já vociferei muito contra o Vitória Sport Clube, já vivi situações muito desagradáveis no Afonso Henriques, mas terei sempre respeito por quem ama o seu clube e não guarda nem um milésimo do seu coração para outro emblema qualquer.

Também houve um Benfica-Braga. Digamos que foi um jogo que correu mal ao Braga. Acontece muito de cada vez que o clube de Braga defronta os da Luz. Lá está, os clubes têm, independentemente de quem os representa num dado momento, um certo ADN. Lembrei-me disso ao ver esse jogo.

E-tudo e mais alguma coisa

MAL posso imaginar a preocupação dos benfiquistas. Então não é que o Ministério Público e a juíza de instrução acham que há indícios suficientes para levar Paulo Gonçalves à barra de um tribunal, acusado de  crimes de corrupção, violação do segredo de justiça, violação do segredo de sigilo e acesso indevido?

Um funcionário que era considerado o braço esquerdo e direito do presidente do Benfica, que aquando da última vitória no campeonato era nomeado como alguém cujas tarefas estavam muito para além dos aspetos jurídicos, que comparecia em representação do clube nos mais diversos âmbitos, que ainda hoje é referido pela administração benfiquista como alguém muito importante para o clube, segundo o MP e a juíza de instrução, andava a praticar crimes graves usando o nome do Benfica e ninguém no clube ou na SAD sabia de nada.

Os benfiquistas têm de estar mesmo indignados com o que se passa nos órgãos dirigentes da sua agremiação. É que na melhor das hipóteses há para ali uma enorme rebaldaria. Ninguém sabe o que os mais importantes funcionários fazem.

Imagine-se que o bom do sr. Vieira tinha alguém com quem estava todos os dias que andava, sempre segundo o MP e a juíza, a praticar crimes em que se envolvia o clube a que preside. Das duas uma: ou é muito distraído ou é negligente. Claro que há uma terceira hipótese, mas essa a juíza Ana Peres, seja por razões substantivas ou formais, seja pela acusação do Ministério Público estar mal feita, achou improcedente. E, nem seria preciso dizê-la, até à sentença final com trânsito em julgado, Paulo Gonçalves tem direito à presunção de inocência.

Estava assim convencido que a esmagadora maioria dos benfiquistas está em estado de choque com a pronúncia do braço direito e esquerdo de Luís Filipe Vieira, Paulo Gonçalves. Mas, espanto dos espantos, não faltaram benfiquistas declarados e não declarados a congratularem-se com a decisão do tribunal de instrução de não acusar a SAD do Benfica, sem ponta de preocupação pela, pelos vistos, anarquia que vai para aquele clube.

O que pude constatar foi alívio. O mesmo alívio que senti em muitos colunistas e comentadores - daqueles que estão sempre a pugnar pela limpeza do futebol português -, por, repito, apenas estarmos perante uma decisão que leva um importante quadro de um grande clube português ao banco dos réus por crimes gravíssimos. Ou seja, estão todos aliviados por o clube deles ter no topo da sua gestão pessoas que se, digamos, divertiam, sempre segundo o MP e a juíza Ana Peres, a corromper gente usando o nome do Benfica.

Será que sou eu que acho que há aqui qualquer coisa que não bate certo? Gente que tem passado a vida a classificar a gestão de Vieira como extraordinária, fica aliviada por estar instalada, pelos vistos, a mais incrível negligência na SAD? Pior, o homem de mão de Vieira continua a ser elogiado pela administração da SAD e é-lhe garantida amizade e agradecimento eternos? A um homem que, sempre segundo o MP e a juíza Ana Peres, enquanto quadro importante da SAD do clube para sua auto-recreação (até escrever isto é patético...) subornava gente dentro do edifício da Justiça? Ou seja, está tudo louco ou alguém anda a gozar connosco?

Vou aguardar pelo fim deste processo. Entretanto, divirto-me a ver pessoas a tentar convencer meio mundo de que não há nada neste caso, mas mesmo nada que possa afetar o Benfica, a SAD e o seu presidente.