Sempre as pessoas
Há dois meses, o americano Stan Kroenke comprou todo o Arsenal depois de anos de controlo maioritário. Os adeptos, mesmo desacostumados de mandar, têm formado organizações de protesto receando que um Kroenke totalitário deixe de prestar contas ou que transfira dinheiro dos londrinos para algum dos outros clubes que tem, como LA Rams, LA Gladiators, Denver Nuggets, Colorado Avalanche, Colorado Rapids ou Colorado Mammoth. Há um medo do negócio e suas liberalizações, notadamente porque é pouco regulado, tem demasiadas zonas cinzentas entre clubes e empresas. Veja-se o Belenenses: a SAD acabou com um acordo que permitia a recompra do capital por ter entendido que o clube incumprira e viu isso reconhecido pelo TAD; o clube acabou com o protocolo e quer exclusividade no uso de símbolos por ter entendido que a SAD incumprira e viu isso reconhecido pelo Tribunal de Propriedade Intelectual. Felizmente há mais tribunais…
A minha esperança nestes casos reside sempre nas pessoas: se forem boas, tudo vai correr pelo melhor possível. Deixo dois exemplos, um clássico, outro progressista. O clássico: a família Agnelli, dona da Juventus, investe como quer e quando quer e tem os adeptos por trás, que na família acreditam como filhos em pais. O progressista: Vichai Srivaddhanaprabha, o tailandês que comprou o Leicester e dele fez campeão, falecido em queda de helicóptero há dias; foi admirável a ternura e a dimensão humana das homenagens dos adeptos.
Voltando ao Belenenses - ou em Os Belenenses, pois nunca a propósito gentílico dos fundadores fez, sem graça alguma, tanto sentido quanto nestes tempos em que duas entidades o reclamam ser… - gosto de acreditar que também se desvendaria com outras pessoas. Eu sei que esta é uma visão liberal, contudo parece-me que raramente o problema é a contextura dos negócios, é quase sempre a contextura das pessoas.