Os dois caminhos do desporto em Portugal
Nuno Borges (Imago)

Os dois caminhos do desporto em Portugal

OPINIÃO28.01.202411:20

«Mercado de Valores», a opinião de Diogo Luís

A última semana foi especial. Por um lado, assistimos a prestações desportivas de atletas nacionais que nos enchem de orgulho. Por outro lado, determinados acontecimentos mostraram-nos, uma vez mais, que não é líder quem quer ou quem chega lá, são necessários outros requisitos. Ser líder é saber tomar a decisão certa no momento certo, é colocar o nós acima do eu. Ser líder não é dizer o que um grupo de associados gosta de ouvir. Ser líder é ter um papel abrangente e positivo. O desporto em Portugal bifurca-se em dois caminhos bem distintos: o dos que praticam, encantam e orgulham os amantes do desporto e o dos que lideram e que pensam que vencer está acima de tudo para se valorizarem e continuarem o seu trajeto. 

Nuno Borges

No desporto não há impossíveis. Há trabalho, dedicação, superação e há também uma ponta de sorte. Nuno Borges chegou aos oitavos de final do Open da Austrália. Bateu-se com coragem e sem receios contra quem lhe calhou em sorte. Conseguiu fazer o que nunca tinha feito e deixou-nos com um brilho nos olhos ao vê-lo jogar da forma que o fez. O ténis (ainda) não é uma modalidade em que nos destacamos claramente. Com estas performances dentro e fora do court (teve um discurso fantástico) o Nuno está a ter um contributo muito importante para que jovens atletas queiram praticar desporto, mais especificamente o ténis. A prática do desporto deveria ser uma das prioridades de uma sociedade, não só pelos valores que incute, mas também pelas melhorias comprovadas que traz à saúde. Com estas performances, o Nuno está a valorizar-se e está a incentivar muitos outros a praticarem a modalidade. 

Andebol - orgulho

Ver jogar a nossa Seleção é algo que nos enche de orgulho. De repente, acompanhando ou não as modalidades em questão, a realidade é que nas grandes competições todos ficamos agarrados ao ecrã a ver os nossos representantes. Claro que a nossa motivação aumenta quando percebemos que temos capacidade para nos bater contra qualquer adversário. O andebol é um destes casos. Com uma grande evolução, fruto de um trabalho de anos e anos, hoje somos uma Seleção que, não sendo favorita, pode bater qualquer oponente. Os últimos resultados têm sido muito bons, tanto no patamar sénior, como nos mais novos. É importante que todos tenhamos a noção das dificuldades por que passam os clubes que apostam nesta modalidade. Também é importante reconhecer que são os pequenos clubes que mais dedicam tempo e espaço aos jovens atletas, que os trabalham e que lhes permitem adquirir as bases para alcançarem outros patamares. Num momento em que a nossa Seleção está a evoluir, é fundamental continuar a valorizar (com palavras e atos) aqueles que não têm retorno dos sucessos, mas que são fundamentais para os alcançar. Estas últimas prestações da nossa equipa de andebol são uma enorme motivação para que os jovens pratiquem desporto e olhem para esta modalidade de outra forma. 

Futsal feminino

Infelizmente, a fase final da Taça da Liga de futsal feminino e masculino vai ficar-nos na memória pela negativa. É com muita pena que digo isto, por vários motivos. Em primeiro lugar, pela qualidade e capacidade da organização. Em segundo pelo espetáculo que foi proporcionado ao longo de vários dias. Em terceiro, porque a maior parte dos ou das intervenientes não o merecia. De entre estas duas vertentes, gostava de destacar a final de futsal feminina. Foi um excelente jogo (Novasemente-Nun’Álvares), num pavilhão muito bem composto. Houve emoção até ao fim, grandes golos e belos momentos de futsal. As atletas tiveram fair-play, respeito e paixão pelo jogo. Deixaram um bom cartão de visita e devem ter motivado muitas mais atletas a juntarem-se à prática do futsal. 

Ganhar acima de tudo

O que se viu na final da Taça da Liga de futsal entre Benfica e Sporting, infelizmente, representa uma parte do desporto em Portugal onde imperam a chico-espertice, os vícios e onde tudo pode ser feito para alcançar o objetivo máximo de vencer. De uma forma objetiva, Taynan errou. No maior cartão de visita do futsal em Portugal, a imagem que passou é que, se estiver dentro dos regulamentos, vale tudo para ganhar! É verdade que esta situação está prevista nos regulamentos da competição, o que por si só é uma aberração! Muito mais do que vitórias ou derrotas, o desporto vive de exemplos e de valores. Não posso deixar de criticar o facto de Taynan ter tido a atitude que teve e ser considerado o melhor em campo! Até pode ter sido decisivo dentro da quadra, mas quem faz o que ele fez nunca pode sair do pavilhão com o prémio de melhor em campo. Porque é que digo isto? Porque no desporto não vale só ganhar. O desporto tem a ver com ética, atitude, fair-play e respeito. Quem não respeita a competição, que foi o que Taynan fez de uma forma irracional, não pode ser premiado. Errar todos erramos. Com os nervos à flor da pele ainda mais. O que pretendo realçar é que se o erro é humano, o castigo também terá de ser. Os mais novos não podem ficar com a perceção de que o crime compensa e é premiado. Este é o pior exemplo que podemos dar às gerações mais novas. O que torna todo este episódio ainda mais negativo foram as reações posteriores. Taynan, a frio, referiu que jogou com o regulamento!! Ou seja, a partir de agora todos podem jogar com o regulamento e entrar em campo para parar os adversários. O Sporting emitiu um comunicado em que se preocupou muito mais em atacar o adversário do que reprimir o ato do seu atleta. O que deveria ter feito o Sporting? Deveria ter referido que há valores que são inultrapassáveis e que irá fazer de tudo para que situações destas não se voltem a passar com os seus atletas, até porque estes não são os valores que representam essa grande instituição. Ao invés, o comunicado refere que o jogador teve um ato irrefletido e que a forma como se está a tratar este tema tem a ver com o resultado. Em vez de resolver o problema internamente, de uma forma dura, ainda atacou o adversário (Benfica). Por fim, o Sporting referiu que Taynan pediu desculpa a todos os sportinguistas. Não me levem a mal, mas o Sporting não é maior que o desporto. O que Taynan deveria ter feito era pedir desculpa a todos os amantes do futsal e referido que não vale tudo para atingir os fins. Do lado do Benfica, depois de toda esta situação, é incrível a forma de tentativa de condicionamento dos jornalistas com agressões verbais. São os clubes que devem decidir o que os jornalistas escrevem? Para piorar, em vez de se focarem nos valores e exemplos negativos do acontecimento em causa, o Benfica tentou tirar proveito da situação solicitando a repetição do jogo, em vez de exigir uma mudança imediata dos regulamentos! Infelizmente, este é o estado do desporto em Portugal. Chegam novos dirigentes, apregoam que são diferentes, que querem combater os poderes instalados e, na verdade, tornam-se iguais a todos os do passado. Este comunicado do Sporting demonstra o que é mais importante para o clube. Ganhar, ganhar e atacar os adversários! Do lado do Benfica, fica a resposta com a tentativa de condicionamento de um jornalista! O que o desporto merecia era que os dois clubes se sentassem à mesma mesa, numa conferência de imprensa e que repudiassem o que se passou no jogo e no final do mesmo, demonstrando que o desporto e os valores, que nele devem imperar, estão acima de tudo. O que ficou demonstrado é que, muito mais do que pensar nos seus clubes, no desporto e no caminho que estamos a seguir, as pessoas que dirigem os clubes pensam em si próprias e na forma de se perpetuarem no poder. 

A valorizar

Futebol feminino do SLB Momento absolutamente histórico: primeira equipa portuguesa de futebol feminino a alcançar os quartos de final da Champions. 

SC Braga Após um período algo conturbado, recuperou a confiança que parecia perdida e conquistou, mesmo que nas grandes penalidades, um dos objetivos da época. 

A desvalorizar

Rúben Amorim Apesar do Sporting ter sido a melhor equipa em campo na meia final da Taça da Liga frente ao SC Braga, foi eliminado e não conseguiu chegar à final da prova. 

Roger Schmidt Contas feitas, não conseguiu melhor do que o eterno rival. Com um investimento muito elevado no seu plantel, não teve a capacidade de eliminar o Estoril.