André Villas-Boas com a Taça de Portugal de 2024, no Estádio Nacional
André Villas-Boas com a Taça de Portugal de 2024, no Estádio Nacional. Foto: Grafislab

O pecado original no FC Porto

Villas-Boas tentou um golpe de génio com a contratação de Martín Anselmi. Como Frederico Varandas tentou, por exemplo, com Marcel Keizer

Martín Anselmi já estará a fazer as malas para partir do FC Porto. Chegou desconhecido, por nossa ignorância, a Portugal, partirá, confirmando-se cedo ou tarde o divórcio, sem honra nem glória. Completam-se amanhã cinco meses desde que assinou, trazendo com ele um amanhecer da esperança em dias melhores. Deixa o breu da ilusão perdida.

Na qualidade de seres imperfeitos e prisioneiros do momento, é difícil escapar desta ideia de que se não será o fim do mundo para o FC Porto andará lá perto. Não nos lembrando de que outros houve que passaram pelas Antas ou pelo Dragão sem deixar saudade, ou seja, sem conquistar qualquer título. Não será o primeiro, nem será o último, no FC Porto ou noutro clube qualquer.

Talvez sejam muitos, agora, a apontar a mira a André Villas-Boas. Seguramente aqueles que ficaram órfãos ou até desempregados depois das últimas eleições. Mas muitos preocupados genuinamente e com razões objetivas para criticar a política desportiva do presidente dos dragões. E desses deve cuidar Villas-Boas.

Passados seis meses é fácil criticar a contratação de Martín Anselmi. E, no entanto, não me é difícil reconhecer que Villas-Boas tentou, nas palavras que o meu camarada Paulo Cunha me ajudou a encontrar, um golpe de génio. Já outros o fizeram com e sem sucesso. Nem é preciso puxar muito pela cabeça para recordar que Frederico Varandas, antes de ganhar a lotaria com Ruben Amorim, nem sequer na terminação acertou com Marcel Keizer.

Não será bem assim mas, no futebol, parece que as coisas mudam mais depressa que em tudo o resto. No Benfica, por exemplo, quatro dias depois da tempestade que se abateu sobre a equipa com o incidente entre Orkun Kokçu e Bruno Lage festeja-se o apuramento para os oitavos de final do Mundial de Clubes. E mudou assim tanta coisa? Estaria assim tanta coisa mal antes para estar agora tudo bem? Sabemos todos qual é a resposta. Não.

A qualquer sócio e adepto do FC Porto este momento demorará sempre a passar. E, no entanto, passará. Não há como ignorar que as principais decisões de Villas-Boas, ou seja, a escolha de treinadores falhou. Por diferentes motivos. O contexto não favoreceu Vítor Bruno, considerando a ligação forte que alguns jogadores tinham com Sérgio Conceição. O crédito de Anselmi esgotou-se depressa com más exibições atrás de más exibições e nem um sinal de evolução.

A 23 de janeiro, escrevia que a tempestade se tinha abatido sobre o FC Porto e que a contratação de Anselmi seria um risco para André Villas-Boas. E que seria maior ou menor se o presidente dos dragões assumisse que está em desvantagem em relação aos rivais, como fez, bem entendido, Ruben Amorim quando chegou ao Man. United.

O líder dos dragões terá de fazer esse caminho. É mais duro e cruel. Mas não é difícil acreditar que os 80 por cento que o elegeram estarão preparados para aceitar a realidade. Porque todos sabemos que o pecado original está em quem deixou o FC Porto sem condições para lutar de igual para igual com os principais adversários.

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