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Momento de definição
Apesar de ser ainda demasiado cedo para que tenhamos momentos definidores sobre como correrá a restante época, este jogo do Vitória, de e em Guimarães, hoje, contra o Chaves, parece-me um deles. Por variadíssimas razões.
Porque será o primeiro jogo em casa de Álvaro Pacheco, para mais após duas vitórias nos seus dois primeiros jogos: a categórica e prometedora vitória em Famalicão (1-3) e a passagem da eliminatória na Taça de Portugal em que o Vitória fez o que lhe competia, vencendo sem deixar margem para sobressaltos.
Ainda porque, além de ser um jogo em casa, o Vitória se apresenta para esta jornada isolado no 5.º lugar, com os mesmos pontos do 4.º classificado (Sp.Braga) e a três pontos do 3.º (F.C.Porto). É, manifestamente, um início de época que em termos de resultados supera de longe aquilo a que estamos habituados sendo a derrota em casa frente ao Portimonense (1-2) a única mancha nesse percurso.
E, naturalmente, porque a visita do Chaves a Guimarães implica o regresso de Moreno a um palco que é o seu e a uma massa associativa de que faz parte e que o receberá como um filho da casa merece ser recebido. Sem prejuízo do elevado e indubitável profissionalismo de todos os agentes envolvidos, naturalmente que esta circunstância de natureza mais emocional não será indiferente à forma como vai decorrer o jogo. O plantel conhece bem Moreno como Moreno conhece ainda melhor o plantel. Será um jogo muito difícil porque o Chaves melhorou imenso aos comandos de Moreno, será um momento bonito e carregado de significado, daqueles que o futebol por vezes proporciona, e esperemos seja um excelente jogo de futebol que termina com a vitória do Vitória; precisamente por ser este um jogo importante para a consolidação da liderança de Álvaro Pacheco e para o futuro próximo da nossa prestação desportiva.
Manifestar nestas linhas a minha solidariedade para com Ricardo Pessoa, treinador do Lusitânia dos Açores, que na antevisão do jogo para a Taça de Portugal que a semana passada disputou contra o Benfica, viu dizer-se na comunicação social que o Benfica ia fazer “recuperação ativa” no jogo contra o seu clube, atento o jogo que teria durante a semana frente ao Real Sociedad. Para além de ser manifesto que a “recuperação ativa” não foi pelos vistos muito eficiente, a verdade é que esta frase, mais do que reveladora de menosprezo pelos clubes de divisões inferiores e seus atletas, exibe uma pesporrência a todos os títulos intolerável. Mas que é ao mesmo muito reveladora de como é efetivamente o futebol nacional, com três clubes que absorvem toda a atenção, todo o interesse comunicacional, todos os comentários, todos (ou quase todos) os adeptos. O que obviamente nos diminui e os diminui, ao invés de nos engrandecer. Uma frase destas é reveladora da nossa pequenez, porque só os grandes são capazes de ser humildes. Salvou-se a postura absolutamente exemplar de Ricardo Pessoa. Não apenas pela forma corajosa como abordou este episódio na sua flash interview, como sobretudo com a forma digna como se lhe referiu, procurando fazer pedagogia sem demonstrar ressentimento. Um exemplo de dignidade vindo das divisões inferiores.
Uma última palavra para a Seleção Nacional e para Roberto Martinez. Portugal conseguiu aquele que talvez seja o apuramento mais imaculado de sempre. Um percurso só com vitórias, a espalhar o bom futebol de que sabemos serem os nossos jogadores capazes, a exibir um futebol ofensivo e confiante, a assumir o estatuto que a Seleção Nacional conseguiu construir e solidificar nas últimas décadas. Não há como não dizer que esta matéria-prima já estava lá e já lá tem estado há muitos anos, mas nunca nos safámos dum apuramento agarrado à calculadora, à portuguesa, deixando para o fim o que se pode resolver no início. Desta vez foi diferente, desta vez foi sem espinhas. E isso tem que ser assinalado porque, parecendo pouco, vale bem mais do que o apuramento. Vale pelo que representa de profissionalismo e compromisso com o resultado e vale pela assunção de um estatuto que já devíamos ter assumido há muito.
É por isso devida uma palavra de felicitações a Roberto Martinez como responsável máximo pela equipa e a Fernando Gomes pela aposta, sempre arriscada, num treinador estrangeiro numa terra cheia de treinadores de enorme qualidade. Felicitações acompanhadas dos votos de que se mantenha esta postura e esta ambição, da qual só podem resultar coisas positivas no futuro.