Viveiros de talentos preparados para projetar ainda mais craques
Estruturas de clubes a trabalhar (arduamente) na sombra, plantéis já devidamente compostos, relvados totalmente prontos. Prepara-se, caro leitor: a Liga 3 e a Liga Revelação estão... na área.
Diz a história que estas duas apostas da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) não poderiam ter-se revelado mais acertadas. Afinal, em ambas as competições têm emergido autênticos craques que, já o sendo, tinham pouco espaço competitivo para darem asas a toda a sua qualidade. Uns por uma razão, outros por outra. A verdade é que anos houve em que, concluídos os respetivos processos de formação, um imenso número de jogadores, não tendo espaço nas equipas principais dos clubes onde cresceram, acabaram por não conseguir ter o rumo sonhado. Era, no fundo, como que uma machadada em jovens que só pediam... uma oportunidade.
Tudo começou a mudar a partir da época 2018/2019. A criação da Liga Revelação foi o primeiro (grande) passo para que os aspirantes a craques pudessem continuar a demonstrar todo o seu talento. A montra tornou-se apetecível e a prova foi ganhando cada vez mais adeptos. E por adeptos entenda-se não apenas os espectadores, mas também os próprios clubes, que, em muitos casos, iniciaram neste espaço mais um campo de recrutamento de promessas a emergir.
Aves, Estoril (3), Estrela da Amadora e Torreense foram os clubes que já levantaram o troféu - em 2019/2020 a prova não teve vencedor atribuído devido à Covid-19.
Já em 2021/2022 surge mais uma competição com o selo de qualidade FPF: a Liga 3.
Quem ainda se lembra de tempos idos, recordar-se-á da antiga III Divisão Nacional. Noutros moldes, evidentemente, também dali se projetavam muitos nomes para patamares superiores. O conceito é, agora, em tudo similar. Com outras condições, claro está, fruto dos tempos e do próprio desenvolvimento da FPF e dos clubes.
O Torreense tocou o céu nessa temporada e ficará, para sempre, como o primeiro vencedor da Liga 3. UD Leiria, Alverca e Lusitânia de Lourosa não quiseram ficar atrás e também já inscreveram os seus nomes na galeria dos notáveis. Ao quinto ano de competição, uma certeza: haverá um novo emblema a receber o troféu.
O primeiro jogo da história da Liga 3
Recordemos o primeiro jogo da história da Liga 3 e percebamos a nata que dali se projetou. A 13 de agosto de 2021, a UD Oliveirense triunfava no reduto do SC Braga B (3-2). Artur Jorge (atual técnico do Al Rayan, do Catar) orientava os arsenalistas, Fábio Pereira (hoje ao leme da UD Leiria) treinava a formação de Oliveira de Azeméis.
E para se ter uma ideia ainda mais dimensionada da importância desse jogo, por ser, reforçamos, o primeiro de sempre da história da Liga 3, olhemos a alguns craques dessa partida e... onde estão hoje.
Do lado do SC Braga B alinharam Lukas Hornicek (equipa principal), Dinis Pinto (Moreirense), David Oliveira (Samaxi, Azerbaijão), Rodrigo Gomes (Wolverhampton, Inglaterra), Vasco Moreira (Felgueiras), Bernardo Couto (Spartak Varna, Bulgária), Pedro Santos (Arouca), Álvaro Djaló (Al Gharafa, Catar) e Vitinha (Génova, Itália). Pelos oliveirenses atuaram, entre outros, Kadu (Sagrada Esperança, Angola), Vasco Gadelha (Niki Volos, Grécia) e Jaiminho (Farense).
Desde essa altura até à data, estamos a falar de 78 jogadores que se destacaram na Liga 3 e que lograram, depois, dar o salto para ligas profissionais. Em Portugal e/ou no estrangeiro. Números extremamente relevantes e que sublinham a magnitude desta competição. Que passou a ser mais um autêntico bloco de notas para os olheiros de clubes de maior dimensão e que neste mar têm pescado autênticos... tubarões.
Nesta caminhada, há a registar três estreantes absolutos: Mafra (despromovido da Liga 2), Lusitano de Évora e Marco 09 (ambos promovidos do Campeonato de Portugal).
Os próximos meses prometem, pois, emoção a rodos. De Norte a Sul de Portugal haverá um verdadeiro desfile de artistas. Os viveiros de talentos estão preparados para projetar ainda mais craques. Semana após semana, a magia andará à solta.
Em primeira instância estarão, naturalmente, os objetivos coletivos, com os jogadores a darem tudo para levarem os respetivos clubes à glória, mas, em paralelo, e não menos importante, as individualidades vão acabar por sobressair. Porque, afinal, se o futebol é para os adeptos, o futebol é concebido por aqueles que no relvado dão asas ao dom com que foram presenteados à nascença.
Quando as cortinas da Liga 3 e da Liga Revelação, edição 2025/2026, baixarem, dois clubes irão escrever uma página de história. Os troféus rumarão a dois novos museus. Mas os craques, esses, serão muitos a brilhar...