Aprecio a atenção de Roberto Martínez à formação. O selecionador já mostrou estar muito atento a jovens que vão despontando na Liga, alguns até antes disso. Na conferência de imprensa de apresentação da convocatória para os jogos com a Dinamarca, dos quartos de final da Liga das Nações, até referiu que Quenda estava sob observação desde janeiro de 2023, antes de se estrear pela equipa principal do Sporting. Não me surpreende. Também aprecio que vá mencionando alguns desses jovens. É uma forma de incentivá-los, de mostrar que está alerta para novas opções, de fazer crer que um bom rendimento desportivo pode traduzir-se numa chamada, independentemente da idade, como também afirmou na sexta-feira, ainda que a realidade, e as suas ações, nem sempre o comprovem... Convém, porém, não levar as coisas longe demais, e acho que Martínez está a fazê-lo. Gostaria de poder ter convocado João Simões e Rodrigo Mora? Deu a entender que só não o fez porque estão lesionados. Mas para os convocar, numa lista já alargada a 26, quem teria ficado de fora? Rúben Neves e Trincão? A sério? E o que sentem ao ouvir isso jogadores como Florentino ou Pedro Gonçalves (atualmente lesionado, é certo), que vão somando titularidades nos dois principais candidatos ao título em Portugal sem que isso se traduza em chamadas à Seleção? Afinal, é preciso fazer milagres para ser convocado ou basta ter menos de 18 anos? As palavras dum treinador têm peso, Martínez não deve esquecê-lo. Por cada jogador que menciona, há quatro ou cinco se calhar tão merecedores que não são nomeados. Mostrar atenção a Martim Fernandes ou Chissumba tem todo o valor, mas e Francisco Moura? E Raphael Guerreiro? Por falar em Guerreiro, onde está ele? Em setembro, o selecionador explicou que tinha falado com o lateral e que tinham decidido, em conjunto, que não seria convocado no primeiro semestre da temporada, para aproveitar as paragens da Seleção para fazer um trabalho físico que ajudasse a prevenir lesões como a que o afastou do Euro 2024. Mas já estamos no segundo semestre. Raphael Guerreiro não é titular indiscutível do Bayern, mas tem jogado com bastante regularidade (e com alto rendimento), e sem problemas físicos, ao contrário de muitos dos 26 convocados desta lista, alguns, como Renato Veiga ou Francisco Conceição, parados há várias semanas. E para além de atuar a lateral-esquerdo, tem jogado também como defesa-direito e no meio-campo, mostrando uma polivalência que muito jeito poderia dar à Seleção, sobretudo quando há tantos jogadores de características ofensivas cuja chamada parece obrigatória, como João Félix, e vão faltando opções para os setores mais recuados… Sim, talvez Guerreiro não merecesse ir à Seleção se isso significasse a ausência de Nuno Tavares. Mas seria interessante perceber se o selecionador está tão atento ao campeão europeu de 2016 como a Francisco Chissumba.
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