Gyokeres tinha todos os trunfos, Arthur Cabral não
Arthur Cabral não foi feliz na Luz (IMAGO / ZUMA Press Wire)

Gyokeres tinha todos os trunfos, Arthur Cabral não

OPINIÃO11.06.202409:00

Comparado com sueco, Cabral não terá sido 1.ª opção ou sequer escolha do seu técnico, e falhava no encaixe no modelo inegociável de Schmidt

Os adeptos gostam de rótulos e têm dificuldades em distinguir tons. É quase sempre preto ou branco. Craque ou flop. Por isso, quando quem lidera é tão ou ainda mais adepto do que os que quer ver a encher as bancadas do estádio onde joga a sua equipa há sempre riscos de que corra mal. No entanto, quando o futebol é visto e analisado desde dentro, o contexto começa ou deveria começar a ganhar contornos decisivos. Porque pode ser fundamental no sucesso ou insucesso de um jogador.

O treinador português ficou fora de moda 

7 junho 2024, 09:30

O treinador português ficou fora de moda 

Como é que se explica que os portugueses se considerem entre os melhores treinadores do mundo quando já não treinam as melhores equipas nem podem atacar grandes títulos?

Não há jogadores iguais e Arthur Cabral e Viktor Gyokeres são muito diferentes. O primeiro ainda sobreviveu ao rótulo de flop que no início lhe parecia destinado, porém os 11 golos e 3 assistências em 43 encontros não chegaram para qualificar a época de bem-sucedida ou sequer garantir ao brasileiro uma segunda oportunidade na Luz. Precisamente ao contrário do sueco, que chegou, viu, convenceu de imediato e manteve o rendimento, fazendo da escolha para melhor jogador da temporada uma mera formalidade. 43 golos e 15 assistências em 50 partidas não deixaram margem para dúvida. No seu caso, a dificuldade será amarrá-lo a curto, médio prazo a uma liga tão periférica quanto a portuguesa.

Houve, no entanto, um caminho a percorrer até os dois avançados poderem colocar em campo o seu talento individual e as suas competências. Gyokeres foi aposta clara do Sporting. Desde cedo, ficou evidente que era o alvo principal e Rúben Amorim envolveu-se pessoalmente ao ligar-lhe. Explicou-lhe onde se enquadrava e convidou-o a vir. Deu-lhe moral. Ao fim dos primeiros treinos e jogos, o técnico percebeu o real impacto do nórdico e todo o processo de mutação na direção de um ataque mais posicional, iniciado na temporada anterior, ficou em suspenso. Amorim adaptou-se sim ao que lhe tinha caído nos braços porque percebeu o que valia, que era muito no panorama português.

Arthur Cabral foi solução de recurso e nunca muito bem aceite por Roger Schmidt. Antes, falara-se em Santiago Giménez, Pavlidis e Lucas Beltrán. O argentino estaria ainda com uma proposta dos encarnados em cima da mesa, quando se inclinou definitivamente para Florença, de onde partiu o brasileiro para Lisboa. O investimento foi alto, de 20 milhões de euros. Só que o alemão nunca o considerou um dos seus e, provavelmente, sempre sentiu que lhe faltava algo para que pudesse jogar o seu jogo. Schmidt desistiu dele, até quando estava a marcar golos. Nunca lhe deu importância suficiente para ajustar o modelo à sua volta, ele é que teria de adaptar-se. A equipa nunca o aproveitou e, assim, fracassou. Não querendo aqui medir talento, é certo que até o contexto favoreceu Gyokeres. Na Luz, desta vez, Pavlidis, parece ser alvo bem mais transversal. E esse é sempre um ponto de partida mais favorável.

P.S. Bastou a derrota com a Croácia para ler que Roberto Martínez deveria voltar à verdadeira identidade da Seleção Nacional, com bloco defensivo sólido e contra-ataques rápidos (!). No fundo, voltarmos a ser pequeninos outra vez. Humm... Até Trump tinha melhores slogans!