Gyokeres: aproveitemos enquanto é tempo
Viktor Gyoketes, 25 anos, é o jogador mais influente do Sporting (Foto: Maciej Rogowski/IMAGO)

OPINIÃO Gyokeres: aproveitemos enquanto é tempo

OPINIÃO06.12.202309:00

E de repente a possibilidade de o sueco sair por €100 milhões passa a ser algo expectável a curto prazo. E imaginar que ainda não é produto acabado...

Questiona-se, com legitimidade, se não estará o Sporting a ficar demasiado dependente de Viktor Gyokeres, mas a resposta de Rúben Amorim após o triunfo frente ao Gil Vicente foi inteligente, porque não o podia ser de outra forma, ao admitir que o internacional sueco é o jogador mais influente da equipa. Surpresa seria o contrário: ter um treinador o privilégio de contar com um avançado de características únicas e não espremer ao máximo o potencial físico e atlético do seu n.º 9, a qualidade técnica e a atitude que contagia colegas e o público.

Não sabemos até que ponto as campainhas não estarão já a tocar em Alvalade face a um cenário que promete deixar o domínio do improvável: a possibilidade de um clube dos big 5 aparecer e bater a cláusula de €100 milhões. Estivesse Gyokeres a exibir-se a este nível na Liga dos Campeões e se houvesse um Europeu em dezembro com a Suécia apurada, tal como houve um Mundial no ano passado, o fenómeno Enzo Fernández poderia repetir-se (vendido por €121 milhões apenas seis meses depois de chegar a Lisboa), mesmo que os canais de venda do Sporting não sejam os mesmos do Benfica (e não, não é por haver mais páginas de jornais dedicadas ao jogador, até seria bom que fosse pois seria sinal de uma força que os media hoje já não têm).

Porque Gyokeres é aquele tipo de jogador que aparece apenas de tempos a tempos. Nota-se que aos 25 anos ainda é um produto em bruto e dá para imaginar de que futebolista se tornará quando refinar o último passe, a desmarcação em espaços curtos e o jogo de cabeça. Nem que seja uma melhoria de 5 a 10 por cento, será inegavelmente um avançado a querer comer na mesma mesa dos melhores da atualidade. Porque à força de um gladiador junta a mentalidade da tropa de elite e a concentração de um xadrezista. Será, por isso, uma questão de tempo até ele se ir embora. Porque por muito grande que seja a dimensão de um clube, a liga portuguesa tem as suas limitações que não convencem os craques por muito tempo e que ficaram bem à vista na última partida dos leões, em casa: um jogo numa segunda-feira fria, à noite, com faltas e faltinhas e pausas constantes permitidas por uma arbitragem à portuguesa (os juízes continuam a defender-se em vez de defenderem a competição) que são um atentado para um campeonato que se tenta vender como atrativo. Na partida frente ao Gil Vicente deu para perceber, pela linguagem corporal, o quão incomodado ficava Gyokeres com as quebras permanentes, ele que veio mal habituado de Inglaterra, cujo Championship onde atuava é mais competitivo que o principal campeonato português. O apetite voraz que trouxe das ilhas britânicas e a excecionalidade dos seus atributos mais cedo ou mais tarde refletir-se-ão no adeus. Aproveitemos, pois, enquanto podemos.