Gyokeres, avançado sueco de 27 anos, posa com o troféu de campeão nacional de 2024/25 conquistado pelo Sporting e morde a medalha comemorativa desse feito
Sporting foi campeão pela 3.ª vez nos últimos cinco anos e Gyokeres bisou como melhor marcador
Foto: IMAGO

Foi o Sporting que me escolheu

OPINIÃO17.06.202511:30

Verde à Vista é o espaço de opinião de Carmen Garcia, enfermeira, sportinguista e autora do blogue 'Mãe Imperfeita'

O meu nome é Carmen, tenho 38 anos e sou sportinguista desde que me lembro de existir. Podia tentar explicar este amor de forma racional ou, no sentido inverso, romanceá-lo, mas talvez o mais honesto seja dizer que nunca escolhi ser do Sporting. Foi o Sporting que me escolheu. O meu sportinguismo é, aliás, uma das poucas certezas que permaneceram inalteradas na minha vida, mesmo que nos primeiros catorze anos da minha existência não tenha festejado um único campeonato.

Na escola, tal como todos os sportinguistas — e éramos muito poucos na minha turma —, era gozada forte e feio pelos colegas que não percebiam como era possível amar um clube em plena travessia do deserto ou sentir ainda o embalo da música de cinco violinos que há muito haviam parado de tocar.

Confesso que, a partir de certo ponto, já nem me dava ao trabalho de lhes explicar que ser do Sporting era quase uma questão de fé, totalmente desprovida de lógica ou racionalidade. Eu era do Sporting porque não podia ser de outra coisa.

E quando, na época 1999/00, comandados por Augusto Inácio, depois de um terrível início de campeonato pelas mãos de Giuseppe Materazzi, fomos finalmente campeões nacionais, a alegria que me atingiu o peito teve tantas cores que é impossível descrevê-la em palavras.

Em 2001/2002 repetimos o feito e juro que acreditei nas palavras de José Roquette quando disse que o milénio do Sporting tinha começado.

Mal sabia eu que só voltaríamos a festejar um campeonato dezanove anos depois.

A fase que vivemos agora, por muito errado que pareça dizê-lo, é atípica para todos os sportinguistas millennials. Três campeonatos em cinco anos? Adorava acostumar-me a festejar a este ritmo, mas ser sportinguista também é ter sempre a pulga atrás da orelha e não conseguir evitar pensar que o mal está seguramente à espreita.

Olho para os meus filhos, de oito e seis anos, e percebo que o sportinguismo deles tem sido muito mais fácil do que o meu era quando tinha aquelas idades. Aliás, na turma do mais velho, todos os rapazes são sportinguistas e isto, acreditem, era coisa impossível de acontecer há trinta anos. Nós éramos sempre a minoria. Para os meus filhos, e ainda bem, ser do Sporting é ser ganhador. Para mim foi sempre um treino de resiliência.

E agora que o meu amor está confessado, e tinha de o fazer para que não restassem dúvidas, quero dizer-vos que vos farei companhia todas as terças-feiras nas páginas deste jornal. Não só para falar do Sporting, nem sempre para falar de futebol.

Não esperem, da minha parte, análises aos jogos e opiniões de treinadora de bancada. Se gostava de o poder fazer? Talvez.

Mas faltam-me conhecimentos e de especialistas em tácticas e sistemas de jogo estão os jornais desportivos cheios. Até porque o meu lado favorito é aquele que envolve os campos e que faz bater o coração. As paixões, os ódios, as histórias paralelas e os caminhos onde, tarde ou cedo, todos os protagonistas se encontram.

Gosto de perceber as dinâmicas dos clubes e a força que os move. Gosto das histórias escondidas e que ficam por contar. É esse lado que vos convido a explorar comigo durante os próximos meses. Se vai correr bem? Não sei. Mas como boa sportinguista, e sem empresários metidos de permeio, eu acredito sempre.

E sim, esta dos empresários foi a minha forma pouco subtil de introduzir aquele que é o assunto do momento para os lados de Alvalade. E eu, que torcia até quebrar por João Benedito na presidência do clube, estou cada vez mais conquistada por Frederico Varandas. É claro que os resultados desportivos facilitam este amor, mas acima de tudo é com a postura que o presidente me tem conseguido ganhar. Sem vergar, mantendo a assertividade, travando ambições de empresários gananciosos e, ainda antes de tudo isto, impedindo o sequestro do clube por claques.

Frederico Varandas não é, seguramente, o homem mais eloquente do mundo. Mas devolveu o Sporting aos sportinguistas e mostrou-nos que a grandeza que sempre aspirámos era, de facto, possível. Sem esquemas, sem manipulações e sem entrar em jogos de xadrez com pombos (acho que não preciso de explicar esta, pois não?).

Quanto a Gyokeres, escolherá como quer deixar Alvalade. Aos golos marcados e títulos conquistados a história acabará sempre por fazer justiça. Ao carácter, aqui estaremos para ver.

Eu percebo, juro que percebo, que aos 27 anos o jogador possa sentir que o contrato milionário da sua vida terá de ser agora ou nunca. Mas Frederico Varandas já avisou que esta pressão e estas jogadas só piorarão a situação e não me pareceu, de todo, que estivesse apenas a falar por falar.

É que o mercado ainda mal começou a mexer, muita água há ainda para correr neste moinho, mas a novela Gyokeres já vai a meio. É a promessa de sair por €60+10 M de que o empresário fala e que o clube nega taxativamente, é o interesse do Arsenal com uma proposta que chega a ser ofensiva, é a nega do jogador ao United de Amorim, é o arrefecimento do interesse do Arsenal, é o interesse da Juventus que pode oferecer os €70+10 M e é o jogador que diz que falará no momento certo… Sabem o que vos digo? Ainda vamos a meio de junho e esta história já cansa. Se o ritmo for este até final de agosto, comecem a distribuir-nos ansiolíticos. É que assim não haverá quem se aguente.

E pronto, tinha pensado escrever esta primeira crónica sobre Morata e acabei por gastar todos os caracteres que tinha disponíveis entre a minha apresentação e a novela sobre a qual todos falam e que, oxalá, chegue depressa ao fim. E não, não faço ideia qual o fim mais acertado. O que sei é que não devemos ceder a chantagens nem vergar perante empresários, mas que também não faz sentido manter um jogador contra vontade e com o amor morto à verde e branca — mesmo que esse jogador já tenha inscrito, com letras douradas, o seu nome na nossa história.

Dito isto, Morata fica para a próxima semana. A não ser que aconteça alguma coisa tão extraordinária que me faça novamente protelar a história do homem que se tornou o jogador mais odiado de Espanha — e não, não foi pela grande penalidade falhada contra Portugal na Liga das Nações.

No pódio

Luís Godinho, da Associação de Futebol de Évora, foi o árbitro mais bem classificado da época 2024/25. Apesar das duras críticas que, mais do que uma vez, lhe invadiram o seio familiar e do falecimento inesperado da mãe durante a época, o alentejano terminou a temporada com a nota final de 9,402.

Na bancada

Soubemos no dia 14 que os três adeptos do Sporting que incendiaram o carro de adeptos do FC Porto, após o jogo de hóquei em patins entre as duas equipas, ficaram em prisão preventiva. E aquilo que espero do clube é que, mantendo a coerência, os impeça, independentemente da decisão final dos tribunais, de voltarem a sentar-se em qualquer bancada verde e branca. Quem comete este tipo de actos não merece nunca mais entrar na nossa casa ou vestir a nossa camisola.

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