O primeiro quartel do século XXI
BENFICA - Foi entre 2013 e 2017 que o Benfica conquistou o único tetracampeonato de futebol da sua história. Jorge Jesus liderou a equipa entre 2013 e 2015, ficando as duas últimas épocas a cargo de Rui Vitória. Apenas cinco jogadores atuaram em todas essas temporadas, André Almeida, Luisão, Sálvio, Fejsa e Jardel. Nesse período, sob a presidência de Luís Filipe Vieira, o Benfica marcou presença nas finais da Liga Europa de 2013 e 2014, a primeira perdida para o Chelsea, em Amesterdão (1-2) e a segunda para o Sevilha, em Turim, no desempate por penáltis. Nos primeiros 25 anos do milénio, o Benfica foi sete vezes campeão nacional, menos duas que no último quartel do século XX.
BOAVISTA – O século XXI assistiu à ascensão e queda do Boavista. Campeões Nacionais em 2001, com Jaime Pacheco ao comando da equipa e João Loureiro na presidência, os axadrezados viram-se depois enredados nas teias dos ‘Apitos’, foram coercivamente relegados aos escalões secundários, sendo mais tarde readmitidos administrativamente. Porém, o clube nunca recuperou totalmente, deixando de lutar por títulos e limitando-se a batalhar pela permanência entre os maiores. Com um estádio, renovado para receber jogos do Euro 2024, que de repente ficou sobredimensionado para as necessidades do clube, os últimos anos foram penosos e as ‘panteras’ tentam agora a fuga à extinção.
CRISTIANO RONALDO – Pode dizer-se que o século XXI tem sido a praia de Cristiano Ronaldo, que se estreou na primeira equipa do Sporting a 14 de agosto de 2002, num jogo com o Inter de Milão (terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões), substituindo Toñito aos 57 minutos. De então para cá, o atual navio-almirante do Al Nassr afirmou-se como um dos melhores jogadores da história do futebol mundial, intrometendo-se, com Leo Messi, numa querela que parecia reservada a Pelé e Maradona. Internacional A por Portugal em 226 ocasiões (143 golos), conquistou com a turma das quinas o Euro 2016 e as Ligas das Nações de 2019 e 2025. Está a 47 golos de atingir o milhar, em jogos oficiais, feito nunca antes alcançado. Se a tudo isto juntarmos cinco Champions, por dois clubes, cinco Bolas de Ouro e quatro Botas de Ouro, temos o retrato de um dos maiores desportistas de sempre.
FC PORTO - Além de ter somado 11 títulos nacionais no século XXI (13 nos últimos 25 anos do século XX), o FC Porto teve nas conquistas europeias o ponto mais alto. Uma Liga dos Campeões, em 2003/04, sob a batuta de José Mourinho (último clube, fora dos ‘big five’ a erguer a ‘Orelhuda’), e uma Taça UEFA (também com o ‘special one’, em 2202/03) e uma Liga Europa com o atual presidente, André Villas-Boas, como treinador, em 2010/11 mostram a apetência dos dragões para terem sucesso nas competições da UEFA. Impossível falar deste FC Porto do século XXI sem referir a subida de Villas-Boas à cadeira de sonho, depois de ter derrotado nas urnas o presidnete histórico do clube, Pinto da Costa.
JOÃO ALMEIDA - São 50 os quilómetros que separam A-dos-Francos, onde nasceu João Almeida, e Brejenjas, terra natal de Joaquim Agostinho, que veio ao mundo 53 anos antes do atual ciclista dos Emirates. Foi preciso esperar mais do que meio século para Portugal voltar a ter um voltista de nível mundial (José Azevedo foi mais um gregário de luxo e Rui Costa nunca teve três semanas nas pernas), verificando-se com João Almeida, num dado o momento, o que se tinha passado com Cristiano Ronaldo, quando surgiu o debate sobre quem merecia o título de melhor futebolista português de sempre, se ele, se Eusébio. Segundo na Vuelta, terceiro no Giro e quarto no Tour, vencedor das Volta à Suíça, à Romandia, ao País Basco, ao Luxemburgo e à Polónia, João Almeida é sem dúvida um dos maiores destaques do desporto nacional no século XXI.
JOSÉ MOURINHO – Veja-se o ‘special one’, apenas pelos principais títulos conquistados: oito campeonatos nacionais (em Portugal, Espanha, Inglaterra e Itália); nove Taças e Supertaças, nos mesmos países; duas Champions (FC Porto e Inter), duas Ligas Europa/Taça UEFA (FC Porto e Manchester United), e uma Liga Conferência (Roma). Agora juntemos-lhe o protagonismo da primeira revolução da ciência do treino no século XXI e, ‘last but not least’, a importância histórica que teve ao abrir as portas do Mundo aos treinadores portugueses. Obviamente, incontornável neste quadro de honra.
OURO OLÍMPICO - Portugal esteve presente em vinte edições dos Jogos Olímpicos no século XX, onde conquistou três medalas de ouro, todas no atletismo (Carlos Lopes e Rosa Mota, maratona e Fernanda Ribeiro, 10 mil metros). No século XXI, em seis presenças, os atletas portugueses (Nélson Évora e Pedro Pablo Pichardo, triplo salto, e a dupla Iuri Leitão/Rui Oliveira, Madison) conseguiram igual pecúlio. Foram anos de evolução nas modalidades técnicas do atletismo e de afirmação em nichos como o judo (bronze, neste século, de Telma Monteiro, Jorge Fonseca e Patrícia Sampaio) ou a canoagem (extraordinário Fernando Pimenta). Aguardemos por Los Angeles, na certeza de que para colher (medalhas) é preciso semear (investimento).
SELEÇÃO A – Portugal, finalmente, ultrapassou a fase do ‘quase’ e começou a levantar Taças, dando expressão às excelentes gerações de jogadores que se têm sucedido, apoiadas pela excelência das condições proporcionadas pela FPF. Obviamente o dia 10 de julho de 2016 ficou gravado a letras de ouro na história do nosso desporto, mas a continuidade a seguir verificada com a conquista de duas Ligas das Nações, prova que o Stade de France não foi obra do acaso e há razões para acreditarmos que somos, de facto, uma potência no futebol, fruto de uma capacidade formadora sem par a nível global. Fernando Santos e Fernando Gomes (2016 e 2019) e Roberto Matinez e Pedro Proença (2025), ficam umbilicalmente ligados aos troféus que Cristiano Ronaldo ergueu em Paris, no Porto e em Munique.
SPORTING – Num primeiro quartel do século XXI que até começou bem, com o título de 2001/2002, o Sporting bateu no fundo com a presidência de Bruno de Carvalho, que teve como cereja no topo do bolo o assalto à Academia de Alcochete. Depois, a capacidade de regeneração dos leões foi extraordinária, da AG para a destituição do então presidente às eleições ganhas por Frederico Varandas, ponto de partida para conquistas que pareciam interditas ao emblema de Alvalade. A revolução de Ruben Amorim deu uma nova face ao futebol do Sporting, houve capacidade para sanear as finanças e o bicampeonato, que fugia aos leões desde a primeira metade da década de cinquenta do século passado, transformou-se em realidade. Por tudo isto, o Sporting é destaque nestes primeiros 25 anos do III Milénio.
SUB-17 – Portugal, graças aos clubes que têm investido muito num modelo de negócio que tem a formação por base, conseguiu transformar-se numa potência reconhecida do futebol jovem a nível mundial, capaz de ‘produzir’ gerações atrás de gerações de jogadores altamente diferenciados. Se a isto juntarmos as condições de trabalho que a FPF oferece a quem faz parte das seleções nacionais, teremos reunidas condições para celebrar títulos nos escalões jovens. Porém, embora regulares, essas conquistas estavam, desde 1991, circunscritas ao patamar europeu. Assim, foi uma pedrada no charco o título mundial que a seleção de sub-17 venceu no Catar, depois de ter derrotado a Áustria na final.
Com uma base tão sólida, há razões para otimismo...