Editorial: O bom gigante e o gigante bom
A felicidade de Castro ao marcar o 3-2 sobre o Union Berlim

Editorial: O bom gigante e o gigante bom

OPINIÃO04.10.202308:30

Ganhar na Alemanha não é coisa de que o futebol português se possa gabar muito...

 Em Berlim, nem o alemão Robin Gosens, que tanto cabo deu de Portugal no Euro-2020 jogado, por causa da pandemia, em junho de 2021 (lembram-se?, levámos 4-2 dos germânicos…), nem os dois golos do poderoso Becker, nem o experiente italiano Bonucci e muito menos os segredos eventualmente contados sobre o Braga pelo português Diogo Leite (que já jogou pelos guerreiros) foram suficientes para impedir a extraordinária vitória com que o SC Braga saiu de Berlim, imperial e lindíssima capital da Alemanha unificada. 

O sucesso dos minhotos (terceiro triunfo fora de casa num total de 14 jogos já realizados em três presenças na fase de grupos da Champions) foi ainda mais notável pela épica reviravolta num resultado que lhes era tão desfavorável aos 37 minutos de jogo. 

Não foi, pois, apenas uma vitória; foi o reencontro do SC Braga com o sucesso na fase de grupos da grande competição de clubes, que lhe fugia desde outubro de 2012 (fez agora, precisamente, onze anos), quando ganhou pela última vez, então também longe de Braga, na distante Istambul, com aqueles 2-0 ao Galatasary, na segunda vez que os guerreiros jogaram neste grande palco europeu. 

De então para cá, o SC Braga somou cinco derrotas, já incluída a desta edição, em casa, aos pés do Nápoles, há 15 dias, e por isso foi tão intensa e justificadamente festejado o sucesso de berlim (grande golo o de Bruma!), frente à equipa-sensação dos últimos dois anos na Liga alemã, que acaba de conquistar o direito a estrear-se na Champions, apenas quatro anos após ter chegado à principal divisão do futebol germânico. O que é igualmente notável. 

Nenhum de nós se recorda, infelizmente, de muitas vitórias de equipas portuguesas na Alemanha (até hoje, em toda a história, pouco mais de meia dúzia…), e por isso, sabor mais especial ainda teve aquele momento em que um rapaz de 35 anos, natural de Gondomar, com a experiência e a alma de André Castro, acreditou que podia, com aquele remate de fora da área a poucos segundos do fim do jogo, silenciar definitivamente os 70 mil alemães presentes no monumental Estádio Olímpico de Berlim. Foi este Braga um gigante tão bom!... 

Modesto acabou por ser o Benfica em Milão, onde voltou a não conseguir vencer, apesar da olímpica calma de Roger Schmidt mesmo quando vê a equipa sofrer bolas nas ferros e meia dúzia de ataques adversários que bem podiam ter resultado no golo do Inter bem antes do Inter chegar ao golo. Voa, para já, muito baixinho a águia na Europa, com duas derrotas nos dois jogos feitos nesta Champions. Não decide nada? Não. Mas já define muita coisa! 

A sensação que ficou do jogo de Milão foi a de um Inter bastante mais maduro do que um Benfica que apareceu em San Siro com um onze apenas com três jogadores (três, imagine-se!) do onze que em abril (só há cinco meses) tinha conseguido meritória igualdade a três golos. Daquele onze estavam no onze de ontem apenas Otamendi, Aursnes e Rafa, muito pouco para se falar de equipa consolidada, ao contrário do Inter, que apareceu no onze com sete caras do jogo de abril. 

Não explicará isso, evidentemente, todo o desespero que a equipa encarnada chegou a revelar no segundo tempo, tão mal defendeu, tão pouco rápida foi, tão deficiente chegou a ser a sua execução individual e coletiva, e nem a ousada ideia do treinador alemão de manter como titulares os virtuosos Dí Maria e Neres chegou ao Benfica para dar uma ar da sua graça. Ar de graça deu Trubin, de quem tanta gente ainda desconfia. Uma derrota é uma derrota, mas sem o seu bom gigante, o Benfica lamentaria derrota bem mais pesada…