De 1984 a 2024
Miguel Nunes/ASF

OPINIÃO De 1984 a 2024

OPINIÃO03.03.202410:00

Fernando Mamede, Diogo Ribeiro e os ursos — inclusive os do clima; a ‘kryptonita’ de Ronaldo

1 Agora que Portugal mergulhou numa onda de entusiasmo ao lado de Diogo Ribeiro, o maior fenómeno da história da natação nacional, aparentemente imune ao vírus da pressão que tantos talentos inibe na hora das grandes decisões, já se começa a antecipar que às duas medalhas de ouro trazidas dos Mundiais de Doha (Catar) o nadador natural de Coimbra juntará outra(s) conquistada(s) nos Jogos Olímpicos que se avizinham.

Por esta altura, há 40 anos, quando nunca se ouvira a Portuguesa no lugar mais alto do pódio da competição que povoa o sonho de todos os atletas, Fernando Mamede era uma das fortes apostas para o ouro em Los Angeles-1984. Uma das maiores máquinas humanas de sempre do atletismo mundial — assim o definia Moniz Pereira — falhou nos 10 mil metros naquela madrugada de 6 de agosto e hoje continua a penar — meu caro Mamede, você foi genial, acredite! — com essa desistência.

Nem o sublime recorde do mundo dos 10 mil metros fixado a 2 de julho em Estocolmo (27:13.81, marca que só seria batida a 18/8/1989 pelo mexicano Arturo Barrios, 27:08.23), nem a vitória imperial nos 5 mil metros do Meeting de Zurique a 22 de agosto, contra alguns dos que brilharam em LA na prova em que voltou a eclipsar mentalmente, lhe atenuaram o sofrimento. Mente nada sã em corpo são, eis Fernando Mamede, um dos meus ídolos de infância à margem do futebol que secava tudo.

Com Paris-2024 à distância de quatro meses e meio, em tempos que a saúde mental deixou de ser tema tabu e o treino da mente é tão importante como a preparação física e técnica, Diogo Ribeiro dispõe de armas que Fernando Mamede não dispunha. Armas também para lidar com aquela espécie muito particular de portugueses que, de quatro em quatro anos, a lembrar os ursos, acordam de longo sono de hibernação em que ignoraram tudo o que não era futebol para exigirem sem noção medalhas nos Jogos Olímpicos. Se for esse o caso que passem pelas brasas de 26 de julho a 11 de agosto e não façam figura de urso...

2… por falar em ursos. Um vândalo do clima — por favor, parem de apelidá-los de ativistas, a esses devemos estar gratos — atingiu com tinta verde Luís Montenegro, candidato da AD a primeiro-ministro. No passado foram outros as vítimas — inclusive obras de arte em museus e noutros locais — dos energúmenos que confundem o direito sagrado de manifestação com práticas criminosas sob o manto da preocupação com as alterações climáticas. Não precisamos de hooligans fundamentalistas para defender o planeta.

3 Um gesto considerado provocador pela federação da Arábia Saudita, dirigido aos adeptos do Al Shabab, após duelo em que contribuiu com um golo para a vitória do Al Nassr, valeu a Cristiano Ronaldo um jogo de suspensão e 7500 euros de multa. (Pausa para lamentarmos o rombo no orçamento familiar do goleador liquidado o montante e sugerirmos um crowdfunding para ajudar.) Desde aquele pirete aos benfiquistas, na Luz, em 2005, quando ainda estava no Man. United, ficámos a saber que também era capaz de dar nas vistas com as mãos. Agora, voltou a usá-las sem ser tão ostensivo para saudita ver. CR7, mesmo aos 39 anos, senhor de currículo único, não consegue resistir à habitual provocação que lhe dispensam ao gritarem por Lionel Messi. O argentino continua a ser a kryptonita do super-homem português.