Caldo entornado no Sporting
A intervenção de Frederico Varandas, no Museu Sporting de Leiria, para explicar o que se está a passar com Viktor Gyokeres e respetivo agente foi, claramente, uma vitória numa batalha cujo fim é impossível de prever. O presidente dos leões não só foi capaz de serenar eventuais ânimos agitados de adeptos incomodados com o que foram sabendo, como também marcou posição antes de novas conversas com empresário e avançado sueco.
Frederico Varandas percebeu, como outros deveriam ter percebido, que está em vantagem sempre que fala e, neste caso, só teve a ganhar ao ser claro e transparente. Revelou detalhes das negociações sem comprometer o clube nem Gyokeres ou o empresário dele. E de forma simples e compreensível para todos. E disse, para destinatários óbvios, que não está — ninguém gosta e todos percebem — para aturar ameaças, chantagens e ofensas. Acusou que o agente está a fazer um jogo que só piora a situação, numa prova de que se sente preparado para o conflito.
Já se percebeu que o caldo está entornado. E, aqui chegados, difícil é perceber como será resolvida a situação. Quando um jogador mete na cabeça que quer sair é, quase sempre, isso que acontece. Mas, como só há duas coisas certas na vida, a morte e os impostos, ainda é possível a reconciliação, mesmo que isso signifique a saída de Gyokeres por um valor que satisfaça o Sporting.
Ficaram, na verdade, algumas perguntas por fazer. E disso Frederico Varandas não tem culpa. O presidente do Sporting disse que Hugo Viana, na qualidade de diretor desportivo, tinha um espaço «relacional, comercial e negocial» com empresários. Mesmo que na reunião que teve com o empresário e na qual, assegura Frederico Varandas (e não temos porque duvidar), não tenha ficado acordado qualquer compromisso para a transferência pelo valor de €60 milhões mais €10 milhões por objetivos, não poderá isso ter acontecido noutro espaço?
Também fica difícil acreditar que empresário e avançado sintam que não está a ser respeitado um compromisso sem que esse tenha existido, por exemplo na forma de promessa falada. Ou que de repente se lembrem daqueles valores em concreto. Impossível já é acreditar que alguma coisa se tenha perdido na tradução.
Gyokeres não é um jogador qualquer. É só o mais recente fenómeno do futebol português. Que não tenham chegado propostas a Alvalade também é normal e Frederico Varandas também sabe que só chegam, formalmente, depois de negociações. O presidente do Sporting promete que não venderá Gyokeres por €60 milhões mais €10 milhões de bónus. Hoje não temos razões para duvidar de que não são apenas palavras com prazo de validade.
Seria bom, noutro âmbito, que o Governo acolha o pedido de ajuda do presidente do Sporting para combater o fenómeno de violência das claques dos grandes. Frederico Varandas teve a coragem de enfrentá-lo, desempenha o papel que lhe compete, mas, como disse, os clubes não são polícia. Estamos todos fartos disto. Haverá coragem no Governo?