Benfica ou Sporting: de justiça falará o dérbi
Gyokeres é obviamente figura de cartaz e grande arma dos leões para a vitória no dérbi e no campeonato nacional

Benfica ou Sporting: de justiça falará o dérbi

OPINIÃO09.05.202509:20

O grande jogo dará sentido a um campeonato que só teve um dominador e um vencedor antecipado enquanto Rúben Amorim se manteve em Alvalade. O dia D é já amanhã!

Tudo ou quase tudo ficará decidido amanhã. A Liga chega, ligue-se ou não esta jornada umbilicalmente à última, caso seja ainda preciso um último fôlego, a um final épico. Aquele final de cinema, para assistir com um balde de pipocas ao colo e a sorver o gelo que vai derretendo no fundo do copo do refrigerante, de costas coladas ao sofá. Um final que mistura ansiedade, medo, alegria, tristeza e um epílogo de êxtase ou de dor. É, obviamente, se não houver outro tipo de violência bem mais grave e menos emocional, como se espera, o melhor final que este campeonato podia ter e, sim, a melhor propaganda para um produto.

Dito isto, deixem-me colocar aqui um breve parêntesis. Além de nada disto ser fruto de um plano ou processo, é preciso fazer muito mais para a cimeira da Luz não seja mera publicidade enganosa, não sobre o que aí se vai passar nos 90 minutos, mas para as restantes 305 partidas, ou seja, para toda a competição. Talvez nos alerte que há embates a menos entre os grandes e a mais dos outros, algo que até a UEFA percebeu perante a ameaça da Superliga Europeia, oferecendo-nos uma Liga dos Campeões mais espetacular, todavia, há muito que sabemos o que há a mudar: a fraca competitividade dos mais pequenos, as bancadas vazias, a péssima cultura desportiva, o ruído constante sobre a arbitragem e a menor qualidade de todos os intervenientes, até dos que não jogam, mas decidem sobre o jogo. O melhor é deixá-lo para outras núpcias. Só não podemos passar agora a achar que está tudo bem, quando não podia estar mais longe de estar.

Na Luz, estarão as duas melhores equipas portuguesas do momento e por larga distância. O Sporting chega com vantagem mínima, o que lhe dá para mudar de face, se o entender, durante os 90 minutos. Se assinar o empate adiará a decisão e voltará a ter de lidar com a ansiedade, embora continue a apenas depender de si próprio. Se vencer, valer-se-á do KO no rival, em sua casa, para sair daí de imediato em ombros pela cidade. Já o Benfica também terá o seu conflito interno, a sua gestão, embora só possa vencer. O 1-0 deixá-lo-ia a um empate da festa, mas teria de encontrá-lo na Pedreira, onde os locais ainda provavelmente lutarão pelo pódio. Dois golos de diferença já obrigariam a ser os leões, no futuro, a fazer a guarda de honra aos maiores rivais.

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O sentido de justiça virá desse confronto, para um lado ou para o outro, a um ou a dois tempos, mas só aí será consagrado. É aí que chegam praticamente empatados, é daí que sairá o campeão ou quase campeão. Nenhum deles será um dos melhores vencedores que já tivemos, uma vez que esta Liga (e a própria luta entre ambos) o nivelará por baixo. Pouco interessará os próprios e para as contas que fizerem, porém não deixa de ser a realidade.

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Tal não quer dizer que os dois treinadores não possam reclamar mérito. Rui Borges estancou a grave hemorragia de um leão moribundo, na sequência da saída de Ruben Amorim e da chegada um João Pereira sem habilidades curativas, pelo menos para ser útil em cuidados intensivos. Bruno Lage mostrou ser possível reorganizar uma equipa e torná-la competente, mesmo que tudo à sua volta, no clube, pareça parado no tempo, sem conseguir rumo. Também ele beneficiou dos problemas no rival, ainda que se tenha mostrado incapaz de o ultrapassar em definitivo.

Além disso, nenhum dos projetos parece finalizado. Ambos sentem problemas a atacar. Mesmo com um super Gyokeres ou um Pavlidis em crescendo. O ataque posicional leonino andou demasiado tempo órfão de Pedro Gonçalves e o transmontano ainda reclama tempo para recuperar ritmos, enquanto o do Benfica não possui jogadores que descubram espaço em combinações interiores. Em ambos, o recurso é óbvio: Gyokeres ataca a profundidade e a equipa sobe em apoio, Akturkoglu explora diagonais, alternando com Pavlidis, também garimpando para lá das linhas defensivas. Tanto Borges como Lage preferem que o jogo parta em vez de ter de lidar com blocos baixos. Ambos se vão esvaziando com o decorrer do jogo, consentindo mais aos adversários.

Os leões parecem mais capazes sob pressão na primeira fase de construção, no entanto, não é líquido que o Benfica salte cedo ao portador, adotando o modo champions que lhe trouxe bons resultados. Só que o Sporting não precisa de atacar em número, ao contrário das águias. Estas também não têm conseguido controlar a largura em profundidade, sobretudo no lado cego, o de Geny Catamo ou Francisco Trincão – e a solução Dahl-Carreras em simultâneo não foi testada muitas vezes.

Por outro lado, a dimensão criativa do ataque dos encarnados, incluindo os esquemas táticos, parece atravessar melhor momento e menor dependência de uma única unidade, pecando muito, aí sim, na finalização. Nos dois lados, andará ainda a dúvida: os dois jogadores dos grandes momentos, Pedro Gonçalves e Di María, atravessam uma dimensão física demasiado tenra e, no caso do argentino, a equipa tem vivido bem com a troca da definição pela consistência organizativa.

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Quando aqui há semanas escrevi que a Liga teria de ser conquistada referia-me ao avanço em definitivo de uma das equipas rumo ao título. Surgiram percalços para os dois lados, talvez quando menos se esperasse, diante do Arouca no caso dos encarnados, e na segunda parte na Vila das Aves e nos últimos minutos perante o SC Braga no dos leões, e o verbo parece ser hoje mais apropriado para o Benfica, que joga em casa e pode afirmar-se em definitivo depois de não o ter conseguido antes, do que ao Sporting, que tem sobretudo resistido e pode jogar até com o empate para continuar na frente e em boa posição para a festa. Ou seja, o leão não precisará de se impor totalmente para ser campeão, sob o risco de se expor em demasia, embora esse caminho e os riscos associados também existam, naturalmente. Se Rui Borges o quiser fazer e for bem sucedido essa conquista daria certamente outro brilho a um campeonato que neste momento, na verdade, não tem sequer vencedor moral. O que até é pouco comum.