A real dimensão do feito do futsal
É pela luta constante contra a adversidade que se criam heróis como Ricardinho e Bebé
EXTRAORDINÁRIO feito do futsal português, com a conquista do Campeonato do Mundo. É prémio justo para um conjunto de jogadores, que atravessou gerações e é a nata do trabalho de décadas de inúmeros emblemas, muitas vezes longe dos holofotes, liderado por um fora-de-série. Ricardinho sempre foi genial, mas num jogo em que o génio está sempre condicionado pelo equilíbrio e pela maior gravidade do erro, além do compromisso que não permite que um entre cinco se desligue ou fique retido no seu próprio minifúndio,
O futsal ainda é jovem. Evoluiu de outras modalidades e cresceu exponencialmente, dando guarida também ao futebol de rua, enquanto os técnicos aprendiam e cresciam, tornando-se muitos deles igualmente de elite. Por carolice, a anos-luz dos valores envolvidos no futebol, em regime amador ou semiprofissional, o jogo cresceu na Linha de Cascais e zona metropolitana de Lisboa, em Leiria, no Minho, nas Caxinas, na Beira Alta e no Algarve, um pouco por todo o lado, tornando-se nacional e revelando todo o seu potencial. Deu de beber a Sporting e Benfica, que não só recrutam como depois muito trabalham na formação, fez emigrar os melhores e alimentou várias grandes Seleções.
Muito maltratado pelos governantes, como aliás todo o desporto português, é incrível como em tão poucos anos se criaram campeões da Europa e do Mundo. Basta comparar com o desporto-rei nas condições e no tempo que demorou a atingir a meta, para se perceber o que está em causa. Mais do que de um projeto federativo, a dupla conquista é o resultado do amor ao jogo por parte dos muitos jovens e adultos, que tantas vezes andam com a casa às costas, sem compensações financeiras, e que por crescerem a lutar contra a adversidade se tornam em heróis da resistência como Ricardinho e Bebé. Obrigado, rapazes!