A marca de água de Anselmi
Treinador argentino mostra carisma e exuberância no banco, mas tem a obrigatoriedade de vencer de forma regular num curto espaço de tempo. E lidar com a impaciência dos adeptos...
Já existe uma nítida marca de água no dragão de Martín Anselmi. A forma entusiasmante como o treinador argentino vive os jogos no banco — postura que já lhe valeu a amostragem de cartões amarelos com o Rio Ave e o Sporting — mostra um amor platónico à causa que agora defende, levada ao extremo nos festejos do golo apontado por Danny Namaso na reta final do clássico com o Sporting, num empate que deixa os dragões a uma longa distância — oito pontos, nove na realidade se levarmos em linha de conta o confronto direto (derrota em Alvalade 2-0 e 1-1 no Dragão).
Dá para perceber que Martín Anselmi é um comunicador nato, as suas conferências são recheadas de conteúdo, fala de futebol e de conceitos táticos sem complexos, ele que conseguiu, num curto espaço de tempo, elevar os índices de confiança de uma equipa que estava de rastos animicamente. Herdou uma pesada herança, mas já percebeu que a cultura de exigência no FC Porto é enorme. No golo de Danny Namaso, naturalmente com as emoções à flor da pele, extravasou tudo o que lhe ia na alma, próprio de quem está pressionado pela obrigatoriedade de conseguir resultados positivos que permitam à equipa minimizar uma época marcada por uma irregularidade exibicional gritante, com os jogadores sempre sob a intensa pressão do universo azul e branco.
Na realidade, Martín Anselmi conseguiu retirar o dragão do precipício em que se encontrava, mas, sejamos francos, a possibilidade de o FC Porto alcançar o seu principal objetivo, o título nacional, é praticamente uma miragem. A almofada que o Sporting tem nesta altura na classificação é bastante confortável e os azuis e brancos têm de olhar para cima mas também para o retrovisor. O SC Braga está na peugada dos dragões e, por isso, há a necessidade de o FC Porto voltar às vitórias na Liga, o que ainda não aconteceu em 2025.
Para se ter uma ideia do menor fulgor portista na competição, refira-se que há 43 anos que o FC Porto não estava cinco jogos sem ganhar na Liga portuguesa, tempo em que Pinto da Costa ainda não era presidente dos dragões. É a oitava vez na história que este registo acontece, sendo que o máximo de jogos sem conhecer a vitória no campeonato foram sete, na longínqua 1969/1970. É contra estes números negativos que Martín Anselmi tem de lutar. Já deu provas da sua competência, sabe como motivar as tropas, mas no FC Porto exigem-se vitórias. O tempo urge e o treinador sabe que tem pela frente um árduo trabalho.
Já caiu no goto dos adeptos, trazendo uma áurea diferente. É uma lufada de ar fresco, sem dúvida, mas tem de começar ganhar no imediato. No FC Porto é assim, os empates não se festejam...