Pontapé de Estugarda A hora dos derrotados. Até dos escoceses

Há um cheiro a ressaca na Alemanha

Há um ambiente de euforia misturado com depressão na Alemanha . É sempre assim no final de cada fase de grupos de uma grande competição de futebol de nações, quando a peneira entra em ação, deixando cair as pedras sem valor e começando a reter os metais mais preciosos. Antes do primeiro jogo de cada grupo não há adepto que não acredite no triunfo após sete jogos. Os escoceses sonham com uma final, os checos ambicionam umas meias, os albaneses desenham epopeias. Desta é que é. Tudo é normal e legítimo e nada há como o ambiente pré-estreia num Euro ou num Mundial: todos estão no plano de igualdade e dispostos a consumir à medida das suas esperanças.

E depois vem o choque com a realidade. Os escoceses, com férias pagas por várias semanas, continuam a passear os kilts, cabisbaixos. Um ou outro grupo ainda esboça os primeiros acordes do No Scotland no Party, mas é abafado pelo adormecimento geral. Foi-se o sonho, resta beber para esquecer, sentados nas enormes esplanadas de Estugarda, Frankfurt ou Munique, as cidades de onde temos observado e retratado o Euro 2024.

Os albaneses, sempre muito ruidosos e com um nacionalismo extremo que a História ajuda a explicar, não largam os símbolos ou as bandeiras gigantes nos capôs dos carros. A esmagadora maioria vive na Alemanha, não viajou dos Balcãs e por isso vai ficando por aí, observando como os turcos ou os italianos festejam, também eles residentes de enormes comunidades imigrantes.

Os checos, mais discretos, guardam as bandeiras e zarpam rapidamente para Leste que a fronteira é já ali, voltando à vida normal e fazendo da geração de 1996 (a tal que chegou à final com a Alemanha e perdeu com golo e ouro de Bierhoff) o seu esquadrão Marvel: quanto mais o tempo passa sem qualquer registo digno dos atuais protagonistas, maior é a dimensão heroica de cada um dos donos do palco antigos.

Cada um chora a derrota à sua maneira enquanto vê os outros em comboios militares ruidosos. Amanhã a ressaca será grande. Menos para os escoceses, que prometem continuar até Berlim. No Scotland no Party.