Vitória de Guimarães defende venda de álcool nos estádios
Clube minhoto propôs que a Liga, em conjunto com os restantes clubes, subscreva uma petição pública a ser apresentada à Assembleia da República
Na Assembleia Geral Ordinária da Liga, que se realizou esta terça-feira, no auditório da sede do organismo, no Porto, o Vitória de Guimarães defendeu a necessidade de revisão da legislação que proíbe a venda de bebidas de baixo teor alcoólico nos estádios de futebol em Portugal. Uma norma em vigor há mais de 40 anos. Segundo o clube, esta proibição está desajustada à realidade atual, uma vez que os estádios portugueses evoluíram significativamente em termos de segurança, conforto e organização desde a década de 1980.
O clube argumenta que estudos internacionais não estabelecem uma relação direta entre o consumo moderado de álcool e episódios de violência nos estádios. Além disso, lembra que noutros países europeus, como Inglaterra, Alemanha e Países Baixos, a venda de bebidas alcoólicas nos recintos desportivos representa uma importante fonte de receita para os clubes, enquanto em Portugal essa oportunidade é desperdiçada. O Vitória também sublinha a incoerência da legislação nacional, que permite a venda de álcool em eventos como concertos e festivais, mas não em jogos de futebol.
Neste contexto, o clube propôs que a Liga, em conjunto com os restantes clubes, subscreva uma petição pública a ser apresentada à Assembleia da República. O objetivo é solicitar a revisão da lei, permitindo a venda regulada de bebidas com baixo teor alcoólico nos recintos de futebol, promovendo a modernização do espetáculo desportivo e o aumento das receitas dos clubes, sem comprometer a segurança dos adeptos.
«Já é possível», lembra Reinaldo Teixeira
Reinaldo Teixeira, presidente da Liga, encontra da parte do Governo suporte para tornar a legislação mais clara: «É possível, já hoje, vender-se bebidas de baixo teor alcoólico nos estádios. Há abertura, pelo que sentimos, do Governo, para que a legislação seja ajustada para que isto fique mais claro.»
A proposta do Vitória aos clubes
Caros representantes dos clubes,
O Vitória Sport Clube entende que chegou o momento de trazermos para cima da mesa um tema, que apesar de antigo, permanece por resolver e, portanto, continua profundamente desajustado à realidade atual do desporto português. Refiro-me à proibição da venda de bebidas de baixo teor alcoólico nos estádios de futebol, decorrente de uma legislação publicada há mais de quarenta anos.
Esse Decreto-Lei foi elaborado num tempo em que os estádios portugueses não tinham as condições de segurança, de conforto e de organização que hoje conhecemos. Desde então, o futebol nacional transformou-se:
• Construímos e modernizámos estádios;
• Implementámos sistemas de bilhética nominativa e controlo de acessos;
• Instalámos sistemas de videovigilância
• Reforçámos os efetivos de segurança pública e privada presentes;
• Profissionalizámos a organização dos jogos;
• Ganhámos experiência internacional na gestão de grandes eventos.
Ora, manter em 2025 uma proibição, pensada para um contexto social e desportivo dos anos 80, é um anacronismo.
Existem inúmeros estudos internacionais que demonstram que não há uma relação direta entre o consumo de bebidas de baixo teor de álcool e episódios de violência nos estádios de futebol.
A isto, acresce um fator que, no nosso entender, não pode ser ignorado. Nos principais campeonatos europeus, a venda de bebidas de baixo teor alcoólico nos estádios representa uma parcela muito significativa da receita de “matchday”:
• Em Inglaterra, cada jogo da Premier League gera entre 175 mil e 350 mil euros;
• Na Alemanha, clubes da Bundesliga chegam a vender mais de 40 mil cervejas num único jogo, traduzindo-se em centenas de milhares de euros por jornada;
• O AZ Alkmaar, da Holanda, fatura mais de 6 milhões de euros por época desportiva apenas com a venda de cerveja no seu estádio que tem lotação de 20 mil pessoas
Em Portugal, pelo contrário, além de os clubes ficarem privados dessa receita, os adeptos consomem no exterior do estádio — muitas vezes em condições menos controladas – quantidades significativas de bebidas espirituosas, de elevado teor alcoólico, incrementando assim o risco de violência no espaço publico.
Por outro lado, a realidade portuguesa é incoerente. Em concertos, festivais de música, feiras populares ou até em recintos de outras modalidades desportivas, a venda de cerveja e cidra é uma prática comum.
O Vitória Sport Clube entende que apesar de não caber à Liga Portugal legislar, cabe-nos a todos, enquanto clubes e agentes do setor, lançar o repto à Assembleia da República para que este tema seja revisto, com equilíbrio e bom senso.
Por isso, o Vitória de Guimarães propõe que a Liga Portugal, em conjunto com todos os clubes que aqui se fazem representar, subscreva uma petição pública a ser apresentada à Assembleia da República, pedindo que seja repensada a legislação em vigor e autorizada, de forma regulada, a venda de bebidas com baixo teor alcoólico, em todas as bancadas, dos estádios de futebol portugueses.
Não se trata apenas de alinhar com a Europa. Trata-se de coerência legislativa, de liberdade responsável, de modernização do nosso o nosso espetáculo desportivo e de valorização das receitas dos clubes, sem nunca comprometer a segurança dos adeptos.
Caros colegas, o Vitória deixa este desafio à consideração de todos.
Acreditamos que, juntos, podemos dar este passo e contribuir para atualizar uma lei ultrapassada, adaptando-a à realidade do futebol e da sociedade portuguesa do século XXI.
(Notícia atualizada às 19h20 com declarações de Reinaldo Teixeira)