Vitó com a bandeira do clube que é uma paixão e modo de vida (Foto Miguel Nunes)
Vitó com a bandeira do clube que é uma paixão e modo de vida (Foto Miguel Nunes)

Vitó, de apanha-bolas a faz tudo na Tapadinha

No Atlético toda a gente conhece o homem que tem uma paixão intensa pelo clube

Vítor Manuel Domingues, Vitinha ou Vitó. Responde por todos os nomes. Quem chegue à mítica Tapadinha e pergunte por ele, todos sabem por onde anda o faz tudo que trabalha na secretaria mas também dá apoio a todos os outros setores do clube.

Aos 70 anos e sócio há 50 anos e tem um amor ao clube incomensurável. Aliás, quando lhe perguntam qual o outro clube, pois os adeptos dos emblemas mais pequenos têm tendência a apoiar um grande, Vitó responde de rajada: «Sou do Atlético. Só Atlético

Outro clube? Sou Atlético. Só Atlético

O menino Vítor bem queria ter sido mais cedo filiado no popular clube de Alcântara, mas as dificuldades económicas da família impediram que tal acontecesse na infância.

Assim, a entrada no Estádio da Tapadinha quando era menino e moço fazia-se, em primeira instância, agarrado a um adulto, depois na qualidade de apanha-bolas e mais tarde na condição de andebolista do clube. E é como apanha-bolas que se escreve a primeira página deste capítulo. «Na altura não é como agora e os apanha-bolas eram jovens adolescentes. Eu ficava na baliza do topo norte, onde estavam os fotógrafos como o Nuno Ferrari ou o António Capela. Há um jogo com o Benfica, em 1972/73, em que levámos um massacre incrível mas o Lapa defendeu tudo e mais alguma coisa e empatámos 0-0», recorda.

Eusébio numa Tapadinha lotada (Foto A BOLA)

E é a propósito deste jogo que vem à conversa Eusébio. «Ele chegou aqui empatado com o alemão Gerd Muller em termos de golos para a conquista da Bota de Ouro europeia e toda a gente pensava que ia marcar uns quantos para se destacar, pois o Benfica era fortíssimo. Bem tentou, mas nada: nem um. Conseguiu o troféu porque no último jogo, com o Montijo, fez quatro golos», adianta. Assim, Eusébio ficou com 40 golos e como Gerd Muller ficou em branco no último encontro do Bayern Munique na Bundesliga arrecadou o troféu, o segundo do palmarés, depois de também o ter conquistado em 1968.

Mas voltando a Vitó, continuou a frequentar o clube até que em 1982/83 entrou para o departamento de futebol juvenil do Atlético. «A minha referência é o senhor Lino Santos pelo amor que tinha ao clube e pela forma como tratava os miúdos», diz.

E explica a componente social que Lino Santos colocava nas suas ações. «Tem de ser ver que Alcântara não é como é hoje. Era um bairro popular com algumas zonas degradadas. Estas zonas tinham miúdos com muito talento mas com dificuldades financeiras. O sr. Lino tinha essa preocupação de os acompanhar para que não se perdessem por maus caminhos e, muitas vezes, pagava-lhes sandes ou sumos para terem algo o que comer», recorda.

O sr. Lino Santos tinha uma grande preocupação com os miúdos com mais dificuldades

Vitó entrou para funcionário do clube há sensivelmente 20 anos e trabalhou na secretaria mas também em muitos outros setores. E foi em trabalho totalmente gratuito que se dispôs a organizar uma sala de troféus que estava um anárquica. «Cataloguei os troféus todos e arrumei-os porque julgo que a história do clube o merece. É uma espécie de coroa de glória para mim. Tenho pena que a sala tenha problemas devido às infiltrações de humidade, mas é melhor isto do que nada», conta.

Vítor Domingues junto dos troféus que catalogou (Foto Miguel Nunes)

 UM AMOR DE FAMÍLIA

A paixão e a ligação ao Atlético vai passando e hoje em dia a filha, Sandra, já faz 25 anos que trabalha no clube. «Não é por ser minha filha, mas também é duma dedicação extrema ao clube. E a minha neta, a Beatriz, também já aí anda nos dias de jogos a vender bilhetes», conta.

Vitó com a filha Sandra Domingues (Foto Miguel Nunes)

O emblema alcantarense viveu um período muito complicado em 2018, quando a SAD detida pelo chineses a levou praticamente à falência, deixando o emblema na III Divisão da AF Lisboa. Terá sido o pior momento desde que está no clube? «Não me lembro duma altura em que o Atlético tenha tido vida fácil», responde sem hesitar.