Quando um ex-treinador do Benfica foi viver para uma roulote

Ted Smith foi treinador do Benfica nos finais da década de 40 e inícios de 50 e vinte anos depois orientou o Atlético. «No final da época de 1972/73, descemos de divisão, ele era o treinador e foi despromovido aos juniores, com consequente baixa de ordenado. E foi morar para uma roulote aqui em Monsanto. Os jornais indignaram-se porque não era possível alguém tão acarinhado ter sido colocado a morar numa roulote. Até que lhe foram perguntar e ele respondeu com simplicidade que vivia ali por opção, pois era um grande amante da natureza», relata Rui Gomes.

 Além de Germano e de Ben David como jogadores, Rui Gomes enumera mais algumas figuras que passaram pelo clube, como Matateu, que ali chegou proveniente ao arquirrival Belenenses. «Era terrível com as mulheres», conta, o guarda-redes Ernesto, que foi internacional no futebol, um dia porque era alto foi chamado para jogar basquetebol e também aí foi internacional; José Henrique, que esteve na Tapadinha antes de ingressar no Benfica e faz referência a José Águas, que foi treinador em Alcântara.

Quem ainda tiver bem presente na memória o antigo Estádio da Luz certamente se lembrará duma magistral águia de pedra que estava colocada na sua entrada mas poucos sabem que a imponente escultura partiu da ideia de um presidente do Atlético. «O dr. Lopes da Costa teve esta ideia e depois alguns outros clubes aderiram, mas o escultor era daqui de Alcântara, Soares Branco. Mas no dia da inauguração do antigo estádio quem lá esteve foi o dr. Lopes da Costa a fazer a oferta simbólica», adianta.

O Atlético é hoje em dia conhecido por alcantarenses devido, como é óbvio, à génese do clube mas há outra mais ancestral: carroceiros. Pode parecer estranho mas não é assim tanto, basta recorrer um pouco à história de Lisboa. Carroceiros era o epíteto dado aos adeptos do Carcavelinhos, clube que era proprietário do Estádio da Tapadinha, exatamente no mesmo local do de hoje, mas em madeira. Alcântara, como bairro operário de humilde, também tinha muitas cocheiras onde eram guardados os cavalos que puxavam as carroças nas quais os donos se dirigiam para comprar produtos hortícolas que depois vendiam a fugir à polícia pelas zonas circundantes de Alcântara. Os donos das carroças eram os carroceiros, adeptos do Carcavelinhos, que se tornaram apaniguados do Atlético e nos quais grassava, em muitos deles, o alcoolismo. Era algo vulgar morrerem relativamente novos e de tuberculose. A atividade de carroceiro foi-se desvanecendo com o andar do tempo e a alcunha perdeu-se…

O Atlético viveu em meados dos anos 80 um episódio de todo inusitado e que passou pelo despedimento de um treinador na segunda parte de um jogo. E tudo por causa dos seus… próprios adeptos. A V Coluna era uma falange de apoio do clube com métodos pouco ortodoxos de atuação que incluíam, entre outras coisas, invectar árbitros, auxiliares, mas também jogadores e treinadores do próprio clube. Foram chamados de V Coluna porque um seu membro considerava que diziam tão mal de tudo e de todos que pareciam a quinta coluna de um jornal. Mas vamos ao episódio. Estava-se na época 1984/85 e o Atlético defrontava os algarvios do Juventude Campinense. O jogo não estava a correr de feição e a V Coluna começou a insultar o treinador Celestino Ruas. Este respondeu, pegou numa toalha vermelha e fez o empunhar uma capa de toureiro. Os ânimos subiram ainda mais de tom e acabou despedido.