Domingos Oliveira foi Primeiro-Ministro de 1930 a 1932 (Foto Miguel Nunes)
Domingos Oliveira foi Primeiro-Ministro de 1930 a 1932 (Foto Miguel Nunes)

O general que fundou o Atlético e o bisneto que marcou o Benfica

Domingos Oliveira era bisavô de um nome bem conhecido do universo benfiquista: Domingos Soares de Oliveira, que bem pequeno esteve na cerimónia de atribuição do nome duma praça de Alcântara ao antigo Primeiro-Ministro

O Atlético nasceu a 9 de setembro de 1942 fruto da junção de dois clubes da zona ocidental de Lisboa, o União de Lisboa e o Carcavelinhos.

Conforme relata Rui Gomes, a ideia de fundar um único clube nasceu após um jogo entre os dois «para combater jogar de igual para igual com Sporting, Benfica e Belenenses, porque o Belenenses nessa altura era muito forte». «Depois disso criou-se o emblema a bandeira e tudo isso», junta.

O União de Lisboa era duma zona um pouco mais nobre de Alcântara, o Alto de Santo Amaro, enquanto o Carcavelinhos tinha uma raiz mais popular, da zona onde está hoje a Avenida de Ceuta e que sofreu um enorme corte populacional a partir de meados dos anos 60, quando foi edificada a então Ponte Salazar, hoje em dia Ponte 25 de abril.

E é na figura de Salazar que encontra o nome que vamos falar de seguida: Domingos Oliveira. Militar de carreira, já com a patente de comandante que como líder da Brigada de Cavalaria de Estremoz aderiu ao golpe de 28 de maio de 1928 viria a implementar uma ditadura militar. Após a estabilização desta nova ordem foi nomeado presidente do Ministério, função equivalente à de Primeiro-Ministro, cargo que ocupou de janeiro de 1930 a junho de 1932. Neste governo, a função de ministro das Finanças era exercido por Oliveira Salazar, que em 1933 ascendeu ao cargo que foi de Domingos Oliveira e implementou o Estado Novo.

Viria a passar à reserva militar já como general e a afastar-se após se ter envolvido na condição de governador militar de Lisboa num movimento de protesto contra o ministro da Guerra, Santos Costa.

Domingos Oliveira era um amante do hipismo mas o futebol não lhe passava despercebido. Apesar de pertencer à elite, era adepto do Carcavelinhos e teve o sonho de criar o Atlético impulsionando o capitão Alcides,  então presidente deste último emblema, sobre quem exercia grande influência a avançar para a assinatura do documento fundacional. «Logo de início o general não quis nenhum cargo dentro do clube, sendo apenas sócios de mérito, mas já na década de 50 foi presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube, cargo que queria exercer antes de morrer [faleceu em 1957]», conta Rui Gomes.

Apesar de Alcântara ser terra de operários e com alguma ligação às forças de oposição, Domingos Oliveira, que vivia num quarto andar sem elevador, era figura muito respeitada na e acarinhada na freguesia. 

Caro leitor, até agora está complicado encontrar uma conexão entre o general e o Benfica mas pelo nome talvez lá chegue. Se acrescentarmos um Soares no meio de ‘Domingos’ e ‘Oliveira’ resulta em Domingos Soares de Oliveira, esse mesmo, o que durante 2004 e 2023 ocupou o cargo de administrador da SAD dos encarnados. «O General é meu bisavô. Foi de quem herdei o nome e por isso, em 1966, era um gaiato de seis anos, tive a honra de inaugurar o largo de Alcântara, onde o Atlético colocou uma coroa de flores pelo facto de o meu bisavô ter sido também presidente da Mesa da AG do clube», diz o atual administrador dos sauditas do Al Ittihad, que deixou marca bem visível na gestão do clube da Luz.

Domingos Soares de Oliveira foi administrador da SAD do Benfica entre 2004 e 2023 (Foto A BOLA)

O General é meu bisavô. Foi de quem herdei o nome e por isso, em 1966, era um gaiato de seis anos, tive a honra de inaugurar o largo de Alcântara, onde o Atlético colocou uma coroa de flores

Aliás, o dirigente vai mais longe na consideração que os habitantes de Alcântara nutriam pelo bisavô. «Depois do 25 de abril os seus habitantes não deixaram mudar o nome da praça porque o General foi um homem do bairro muito empenhado», garante.

Nascido na freguesia de Belém, ali bem perto, Domingos Oliveira morreu em Alcântara, três anos antes do nascimento de Domingos Soares de Oliveira. Mas a memória não se apaga…

Domingos Soares de Oliveira na inauguração da praça com o nome do bisavô em 1966 (Foto DR)