Viktor Gyokeres soube a pouco

O mercado para a transferência dos passes de jogadores cresceu tanto que se tornou perverso. Passámos a falar de milhões como quem fala de tostões e vender os melhores por menos que pequenas fortunas parece sempre um mau negócio. Mas o preço é sempre o que se está disposto a pagar e é segundo as atuais regras, de transferências milionárias, que também devemos olhar para as operações que se fazem por cá.

Neste sentido, e olhando para casos anteriores, acredito que se por um lado todos já estávamos um pouco fartos da novela em que se transformaram as negociações de Viktor Gyokeres para o Arsenal, e dos pormenores de faca e alguidar de alguns dos episódios, por outro lado o desfecho, sendo aquele que todos pretendiam, poderá saber a pouco.

Pela Europa fora os maiores clubes (e o Arsenal é um deles) pagam 60, 70, 80, 90 milhões por laterais, médios, extremos, até guarda-redes; sendo o ponta de lança uma das posições mais valorizadas no mercado, e Gyokeres um jogador tão especial, talvez o Sporting não tenha feito um negócio assim tão bom.

É verdade que conseguiu o que queria, com Frederico Varandas, o presidente, inflexível na defesa dos interesses do clube, mas €80 milhões — €65,76 milhões, mais os €7,5 milhões de comissão de que o empresário do jogador prescindiu, mais €10,25 milhões em prémios por objetivos facilmente atingíveis — não é assim tanto dinheiro para pagar o jogador mais surpreendente e influente dos últimos anos no futebol português. Gyokeres marcou 97 golos e fez 27 assistências em 102 jogos pelos leões, 91 deles como titular. Foi fundamental na conquista dos dois últimos campeonatos para o clube, ao ponto de muitos acreditarem que sem ele não teria sido possível. Tinha uma cláusula de rescisão no contrato no valor de €100 milhões.

Todos sabemos do compromisso, escrito ou de palavra, que existia para uma venda este verão e pelos valores que foi, ou perto disso, mas a realidade é que o jogador mais decisivo de 2023/24 e 2024/25 saiu por menos dinheiro que outros pontas de lança e jogadores de posições diferentes.

Não deixa de ser um encaixe muito importante para o Sporting e, por tudo o que se passou, com o jogador a forçar a saída, a quebra de confiança entre presidente e jogador escarrapachada na praça pública, seria complicado um final diferente. Gyokeres queria o Arsenal, o Arsenal queria o ponta de lança e o Sporting não desejava, seguramente, comprar um problema de arranque de época do tamanho do sueco. Mas, recuando um pouco e esquecendo todo o barulho do caso, a venda de Gyokeres soube a pouco.

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