Um passe para o abismo, dois passos para a salvação (crónica)
A festa exuberante de jogadores, treinadores e staff depois do golo de Pavlidis aos 90+5 minutos, depois de a equipa ter estado em desvantagem até aos 89’, foi bem representativa do significado da dificílima vitória para Benfica, na Madeira, quando para todos os que assistiam ao jogo, no estádio ou fora dele, seria mais fácil augurar um resultado negativo que alimentaria críticos, reforçaria dúvidas, fortaleceria rivais, afastaria adeptos, esmagaria a esperança no futuro.
O Benfica, num resumo simplista mas real, deu um passe — Otamendi, numa saída para o ataque, meteu a bola em Alan Nuñez e Jesus Ramírez marcou para o Nacional — para o abismo e só no final deu dois passos — grande golo de Prestianni e finalização à ponta de lança de Pavlidis depois de lance individual de Schjelderup — para a salvação.
O Benfica já estava no cadafalso para execução de sentença de morte, mas salvou-se à última hora e até acabou por voltar para Lisboa com o espírito reforçado de quem não se abate. Só o futuro poderá mostrar-nos se esta forma de vencer foi, afinal, o melhor que poderia acontecer, dentro das circunstâncias, mas, pelo menos, o efeito emocional só pode ser positivo.
Houve, pois, sofrimento no triunfo encarnado. Quando o Benfica foi, sem qualquer discussão, muito melhor equipa que o Nacional. No futebol, sabe-se bem, isso não é suficiente. Como esteve quase a ver-se. O Benfica entrou bem no jogo, agitado, controlador, impositor. Com a bola apresentou várias soluções de ataque — pelo centro, procurando Leandro Barreiro, entre os centrais e os médios-centro, ou Sudakov, que puxou sempre para o meio, para combinações perto da área; pelas faixas, explorando o espaço nos corredores com ataques de Dedic ou Dahl. Aos 20’ já tinha oito remates, acabou a primeira parte com 14. Encontrou caminhos para ameaçar Kaique, criou várias oportunidades para marcar. E, no momento defensivo, recuperou depressa a bola. Pelo menos nos primeiros 30’.
O Nacional, sentindo-se controlado, não se descontrolou. Por não sentir o instinto assassino no Benfica. A partir da meia hora começou a sair para o ataque. E, na compensação, esteve três vezes seguidas na área dos encarnados. O intervalo chega depois de um canto dos madeirenses. E foi reforçado na convicção de que poderia fazer ainda mais e melhor que recolheu ao balneário.
O segundo tempo começa com as características do primeiro — Benfica com a bola e capacidade de chegar à baliza do Nacional, mas sem a urgência ou desespero que, mais tarde, lhe valeriam a vitória. Tudo poderia ser diferente se Leandro Barreiro, de forma incrível, na pequena área, não tivesse falhado, sozinho, um desvio a cruzamento de Sudakov. Três minutos depois, o Nacional marcou no segundo remate enquadrado. Tudo começou, como se disse, num mau passe de Otamendi na saída de bola.
Mourinho, pouco depois, trocou Barrenechea por Ivanovic (64’) e Barreiro por Schjelderup (76’), já depois da substituição de Rodrigo Rêgo por Prestianni (58’). Estava, então, o Benfica, já com Sudakov no centro e muito melhor, lançado para o ataque. Já mais veloz e com mais gente a chegar à área criou cinco ocasiões antes de Prestianni marcar num disparo cruzado. Schjelderup também viria a ser decisivo, encontrando Pavlidis na pequena área depois de bom lance individual. Estava feito o 2-1. E consumada a reviravolta.
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