Palavras de José Mourinho após a vitória por 3-0 frente ao Tondela

«Tenho mais conferências de imprensa do que treinos»: tudo o que disse Mourinho

Técnico do Benfica admitiu que esperava mais dos comandados, lamentou utilização dos pesos pesados do onze-tipo e identificou «vícios» do passado

— Que análise faz ao jogo?

— Não gostei da primeira parte. Senti-me culpado, estava no banco com alguma sensação de de não ter conseguido passar a mensagem que queria, de resolver isto rápido. Ter 53 mil pessoas num jogo da Taça da Liga, no meio da semana, à noite é uma coisa fantástica e merecedora de mais da nossa parte. A atitude não foi má, mas foi qb. Na segunda parte entrámos muito bem O golo que fizemos que foi anulado por 1 cm é bonito. Aquela espera interminável para saber se era um golo válido esfriou a coisa e fui obrigado a mudar da maneira que não queria e não esperava. Não quis arriscar e quando meto o Pavlidis, o cariz do jogo mudou. O Ríos com a sua fisicalidade apanhou uma equipa em quebra. A vitória é normal, justa e incontestável, mas esperava mais.

—O que é que faltou? Que estilo de jogo é que ainda não vê e que quer ver no Benfica?

—Tínhamos de estar aqui meia hora e depois havia pessoas lá em casa que não iam perceber a minha terminologia. Resumia tudo isso em intensidade, seja ofensiva seja defensiva, em pressionar como pressionámos contra o Arouca, recuperar a bola e olhar para a frente. Temos alguns vícios de recuperar a bola e passar para trás. Tirar a bola da zona de pressão, mas não olhar para a frente. Eu quero intensidade e ritmo, isso melhora-se com treino. Não há muitas oportunidades. Tenho mais conferências de imprensa do que treinos com a equipa.. Queria ilibar daquilo que considerei a falta de atitude, a linha de quatro defesas. Foram sérios do início ao fim. Não estamos a marcar golos, mas ninguém nos faz. A sensação era que ninguém no Tondela ia fazer golo.

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— No final da partida em Chaves disse que avisou o plantel ao intervalo que estavam a brincar com o fogo. O que é que disse hoje?

Com o Chaves senti o fogo, tiveram na primeira parte duas ou três situações de perigo. Hoje não, hoje o Samuel não faz uma única defesa durante o jogo. Hoje não foi brincar com o fogo, hoje foi sentir que íamos ganhar. Disse que não queria brincar com a competição e não brinquei. Por não ter brincado, joguei com muita gente, que normalmente joga, e os restantes estavam no banco, nem sequer estavam em casa, estavam ali ao meu lado para o caso de precisar. Não brincámos nem com o fogo, nem com os 53 mil que estavam aqui, nem com os milhões de benfiquistas que estavam à espera que nós ganhássemos. Devíamos ter jogado melhor, devíamos ter jogado mais rápido, houve gente que jogou que não tem jogado muito e teve algumas dificuldades de entrar na dinâmica da equipa, mas pronto, a vitória foi conseguida.

— Todos os jogadores do plantel têm atitude para fazer parte do plantel do Benfica?

—Têm mas têm de crescer comigo. Jogadores que acreditam na minha filosofia de vida e de liderança, melhoram e muitas vezes para limites que eles próprios consideram impossíveis. Aqueles que não estão de acordo com a forma como penso ,normalmente pioram. É cedo para identificar [jogadores que não estão], estamos aqui há pouco tempo. A crença e a empatia fará deles melhores. Gosto de gente com temperatura no corpo.

— Conseguiu pela primeira vez duas vitórias consecutivas. Qual é a importância de criar uma dinâmica de vitórias

— Prefiro dois jogos, duas vitórias no campeonato.. Ainda não perdemos desde que cheguei cá, mas temos dois empates. Temos que ganhar dois jogos consecutivos no campeonato e sábado é um jogo difícil. Guimarães é Guimarães, é sempre difícil e complicado. O jogo hoje não correu exatamente como eu esperava porque queria ter tirado gente mais cedo, não queria meter nem Pavlidis nem Ríos, mas o objetivo foi conseguido.

— Na antevisão falou que Obrador poderia ter minutos. Porque é que isso não aconteceu?

— Não dei minutos ao Obrador porque não quis facilitar muito e ao mudar peças que sabia que podiam retirar qualidade do meio para a frente, queria ter estabilidade lá atrás. E ter estabilidade jogar lá atrás e era jogar com 2 dos 3 centrais fantásticos que tenho e manter aquilo que, sem Dedic, é a nossa linha defensiva. Quis ter essa garantia que mesmo que as coisas corressem bem do meio-campo para a frente, queria ter estabilidade. Queria meter o Obrador ao intervalo, mas o jogo não se proporcionou dessa forma. 

— Este triunfo pode ser a chave para o Benfica entrar numa fase mais estável?

— Nos clubes gigantes, nunca há estabilidade. Basta um resultado negativo para haver instabilidade. Não é sempre possível ganhar todos os jogos, mas é possível ter uma determinada abordagem ao jogo. Não penso estas duas vitórias que nos dão algum tipo de estabilidade, temos de seguir o nosso caminho. Agora temos o Vitória em Guimarães no sábado, que é sempre um jogo difícil. Mas também não quero que a equipa, com duas, quatro, dez vitórias. sinta estabilidade, quero que sintam a instabilidade de que têm de ganhar no próximo. Não vamos ganhar sempre, mas quero sempre uma mentalidade de exigência.